Guerra Junqueiro e a teopoética da negação como afirmação:Entre A Velhice do Padre Eterno e A Lágrima, veios de um pensamento metafísico
Guerra Junqueiro and the theopoetics of denial as affirmation:Between The Old Age of the Eternal Father and The tear, veins of a metaphysical thought

Henrique Manuel Pereira*
* Professor da Escola das Artes, UCP-Porto, é doutor em Cultura pela Universidade de Aveiro; membro da Asociación Latinoamericana de Literatura y Teologia. Contato:hpereira@porto.ucp.pt
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Resumo
Revisitando o poeta Guerra Junqueiro (1850-1923), e tendo por horizonte as questões religiosa e política, à luz das quais se pesou o passado do poeta e quase se lhe hipotecou o futuro, o presente artigo propõe dois veios ou modalidades por onde corre a sua tão contraditada unidade de pensamento. Para o efeito, viaja em torno de A Velhice do Padre Eterno, obra paradigmática do anticlericalismo português, e de A Lágrima, história-metáfora-alegoria, momento singular no pensamento metafísico junqueiriano.

Palavras chave:Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno, A Lágrima, Pensamento metafísico, teopoética.

 

Abstract
Revisiting the poet Guerra Junqueiro (1850-1923), and taking into consideration the religious and political issues, in the light of which the poet’s past was weighed, and almost was his future mortgaged, the present paper proposes two roads or ways through which his so contradicted unity of thought runs. For this purpose, it travels around The Old Age of the Eternal Father, portuguese anticlericalism’s paradigmatic work, and The tear, story-metaphore-allegory, singular moment of the junqueirian metaphysical thought.

Keywords:Guerra Junqueiro, The Old Age of the Eternal Father, The tear, metaphysical thought, theopoetics.

“Não é só extremamente difícil definir a poesia
metafísica; também é difícil decidir que poetas a
praticam e em quais dos seus versos”.
(T. S. Eliot)

Considerações iniciais

Guerra Junqueiro foi um desses homens decisivos na história dos povos. Natural de Freixo de Espada à Cinta, nascido a 15 de setembro de 1850, faleceu em Lisboa, a 7 de julho de 1923. Sepultado com honras de funeral nacional, repousa no Panteão, na Sala da Língua Portuguesa, ao lado de Almeida Garrett, João de Deus e Amália Rodrigues.

Dotado de um extraordinário poder verbal e beleza rítmica, Junqueiro é, acima de tudo, Poeta, poeta-filósofo. Integrou o grupo dos “Vencidos da Vida” e foi deputado pelo partido Progressista. Em 1890, verberou, no Parlamento, todos os partidos monárquicos. Afirmou-se como a voz poética da República. Apresentou um novo projeto de bandeira nacional e foi ministro plenipotenciário de Portugal em Berna (Suíça). Notável colecionador de arte, um dos maiores do seu tempo, foi também agricultor, destacado viticultor e acérrimo defensor da causa duriense. No domínio científico, dedicou-se ao estudo das propriedades terapêuticas da luz e da radiação universal, chegando a apresentar, com assinalável sucesso, os seus estudos em Paris. Durante mais de 20 anos trabalhou na Unidade do Ser, súmula do seu pensamento filosófico, que não chegou a publicar.

O autor de Os Simples procurou Deus como quem procura a inteligibilidade do mundo. Sendo a sua obra marcada pela “obsessão de Deus”, configura uma lança atirada ao coração de tudo quanto do divino foi ou é caricatura. Permanece um dos mais curiosos temas de sociologia da cultura portuguesa. Dizer-se que foi a voz do seu tempo, não é retórica; que o seu fogo verbal e doçura lírica acenderam a inspiração de muitas gerações, não é arbitrário. Há um demónio e um anjo, um ciclone e uma brisa dentro deste nome. Configura-se nele o retrato da sua época. O eco dos mundos romântico, neoiluminista, evolucionista e fin-de-siècle encontram nele propagação e registo.

Nenhum outro poeta português foi tão hiperbolicamente idolatrado, como nenhum outro foi tão exacerbadamente repudiado. Não admira, se tivermos em linha de conta as duas essenciais e determinantes batalhas que travou – a política e a religiosa –, suscitando elas preconceitos que, de resto, nem por serem antigos são menos falsos.

Se “os afloramentos da atitude anticlerical existem desde sempre na tradição cultural portuguesa”, está provado que o “apogeu da visibilidade expressiva e sintomática do fenómeno anticlerical” se situa “entre meados do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX”1. Luís Machado de Abreu objetivou o fenómeno tomando o período compreendido entre as polémicas de Herculano e o fim da 1.ª República, mais especificamente, os anos de 1850 a 1926, para perspetiva de abordagem2. Percorrendo este arco temporal, constata-se que Guerra Junqueiro o preenche e que os seus passos quase o atravessam por inteiro.

Por outro lado, a centralidade e a radicalidade da temática anticlerical não têm permitido que certa crítica alargue o olhar a outros campos da ação e do pensamento junqueiriano de igual modo tangíveis e de alcance porventura mais totalizante e unitário.

Sob o ponto de vista da receção, Guerra Junqueiro foi um caso singular da história literária portuguesa. A carga ideológica da sua obra parece não explicar ou esgotar a questão, tanto que uma plêiade de outros poetas pugnou por idênticos ideais sem que tivessem conseguido fortuna aproximada. Muitos serão os fatores que a explicam e a conceptualização da dinâmica do campo literário, bem como a perspetiva da pragmática da literatura, permitirão hoje uma mais distanciada, anotada e lúcida compreensão do fenómeno.

Em torno de A velhice do Padre Eterno

O anticlericalismo do poeta de Freixo de Espada à Cinta tem a sua expressão mais violenta em A Velhice do Padre Eterno, obra que, nas palavras do seu autor, é uma “coleção de 50 poesias, que são 50 balas, que partindo de diversos pontos, vão todas bater no mesmo alvo”3, ou seja, à Igreja Católica. Publicada em 1885, significativamente dedicada a Eça de Queirós (1845-1900), e à memória de Guilherme de Azevedo (1839-1882), configura um “panfleto teológico formidável, onde o génio de Junqueiro canta a missa de requiem do catolicismo decaído”4, A Velhice terá contribuído, na asserção de Lopes de Oliveira, mais do que nenhuma outra, para fortalecer a corrente anticlerical portuguesa4.

Leia-se a resposta às proposições anatematizantes do Silabus da Quanta Cura de Pio IX, imperando contra “fanáticos”, “loucos” e “sacristas”:

“Como é que podes tu, ó Igreja, pretender,
Cerrando na tua mão um boxe enorme – o Inferno,
Levar aos encontrões o espírito moderno,
Levá-lo para trás, para o passado escuro,
[…]
Atirar a justiça, a ideia, o pensamento
Às fogueiras da fé, ó bonzos, é impossível.
[…]
…podeis, segundo as ordenanças,
Meter pedras de sal na boca das crianças,
Fazer do Deus do amor o Deus barbaridade,
Chamar à estupidez irmã da caridade
E jesuíta a Jesus e Cristo a Carlos sete;
Vós podeis […]
Ir pedir emprestado um exército aos reis
E defender com ele o Papa, o Vaticano,
Do cerco que lhe faz o pensamento humano,
Pondo adiante dum dogma a boca dum canhão;
Podeis […]
Roncar latim, zurrar sermões, brandir hissopes,
Que não conseguireis que a Liberdade vista
A batina pingada e rota dum sacrista,
Que o Direito se ordene, e que a Justiça queira
Ir a Roma tomar, contrita, o véu de freira!”

Dirá, ainda como resposta ao “Silabus”, “tudo se modifica e tudo se renova”, “a Verdade saiu desse casulo — a Crença, /Assim como saiu do velho o mundo novo”; “o Progresso é um carro sem travão”, donde, “[…] apagar em nós o facho da razão/ É o mesmo que apagar o Sol quando flameja/ Com um apagador de lata duma igreja”6.

Guerra Junqueiro tinha consciência do poder demolidor do seu livro, cujo lançamento esteve inicialmente previsto para o dia 18 de agosto 1885. Prova disso é a carta que escreve a Luís de Magalhães, com carácter de urgência:

Logo que esta receba peço-lhe o obséquio de ir procurar o Leitão [Joaquim Antunes Leitão] e dizer-lhe da minha parte que a Velhice do reverendo Omnipotente só pode ser posta à venda no dia 20. A razão é simples. No dia 19 vou a Braga e daí para o Porto. Ora, se o livro aparecesse no dia 18, arriscava-me a ir de Braga para a Eternidade com a cabeça partida por algum hissope7.

A Velhice do Padre Eterno acaba por ser lançada a público coincidentemente, mas talvez não por acaso, a 24 de agosto, dia de S. Bartolomeu, dia em que, diz o povo, o Diabo anda à solta. A seu propósito podia, então, ler-se no jornal A Província:

“Nós bem sabemos, que depois deste livro, Guerra Junqueiro está vestido e calçado no inferno; que o Papa, ao ter conhecimento da Velhice, lançará sobre o autor toda a ira da sua tremenda excomunhão; que os pregadores do Minho subirão aos púlpitos e de lá gritarão contra o assassino do Padre Eterno as frases de mais violenta indignação, martirizando ao mesmo tempo o ímpio e a gramática, que a crítica católica está preparando todas as suas armas para combater Guerra Junqueiro, com o mesmo valor com que Hércules estrangula uma serpente”8.

Que conste, o papa não lançou a sua excomunhão sobre a obra. Todavia, muito por culpa dela e a pretexto de uma fotografia, hoje célebre, de Eça, Oliveira Martins, Antero, Ramalho e Junqueiro, a revista que a publicou, A Illustração, seria “excomungada” pelo Padre José Simões Carreira. Estavam volvidos, note-se, dois meses sobre a publicação da Velhice: “Serão cinco talentos, serão. Talentos maus, talentos do demónio de Satanás, talentos vindos do inferno para destruir a obra de Deus e corromper a pobre humanidade”. E referindo-se diretamente a Junqueiro:

“Há um cuja missão é pior que a fera, que o bandido. Esse tal senhor, que ultimamente nos deu um livro infernal, um livro que só o génio mau, o génio de Satanás, podia conceber e inspirar!… Amaldiçoado homem, amaldiçoado cidadão, amaldiçoado chefe de família, amaldiçoado português, amaldiçoado espírito que assim pensa e que assim escreve!!! Aquilo não é homem, é o diabo. […]. Oh! Deus vingador e justiceiro: sê inclemente para com aqueles que te escarnecem”99.

Mais adiante, incapaz de perdoar “a todos os monstros que apregoam tais heresias e impiedades!”, o sacerdote não ousa sequer repetir- -lhe o nome: “[…] e o outro herege que nem o nome quero pronunciar- -lhe, para não ofender Deus!!”10. São muitos os episódios anedóticos de Junqueiro com elementos do clero11

Foi avassaladora a receção feita a A Velhice do Padre Eterno. Uma vez posta à venda, “todos os jornais de Portugal fizeram extratos do livro, e em poucos dias quase toda a obra andava em retalhos pela imprensa”. A Ilustração, não podendo competir com a concorrência diária, declara- -se “quase na dificuldade de não poder oferecer aos seus leitores um trecho que já não estivesse lido e relido”12. Com efeito, logo “no primeiro dia se venderam para cima de 500 exemplares! Isto diz tudo; porque não consta que em Portugal nenhum livro de literatura, e principalmente de versos, tenha tido um êxito semelhante! […]”13

Confrontado com o singular frenesim e ruidosa ovação, no encalço, aliás, do sucesso de A Morte de D. João (1874), Jaime da Magalhães Lima constata, interrogando as razões da popularidade, que os livros de Guerra Junqueiro

“têm um número extraordinário de leitores, recrutados em grande parte entre os mais avessos à leitura de toda a espécie. Não as lê só a aristocracia capaz de lhe perceber todo o alcance; não é ainda a plebe literária que da sua poesia só vê a superfície, quem constitui o melhor das inúmeras fileiras de espectadores apaixonados; é o profanum vulgus, burgueses, operários, amanuenses, e quem o diria? – padres […]. Têm não sei quê de diabólico estes livros de Junqueiro, na facilidade com que trepam acima da mesa de trabalho do homem honesto, sequioso de amor e justiça, para logo saltarem à banca do amanuense, e daí, com uma agilidade prodigiosa, se insinuarem pela alcova dos amantes e pelas frestas da residência do prior. O caso é único […]”14.

De resto, fenómeno análogo se registou no Brasil1515. Logo a 4 de agosto de 1885, vinte dias antes de ser postas à venda em Portugal, O Primeiro de Janeiro dá conta que “para o Brasil foram já expedidos grande número de exemplares”16 de A Velhice do Padre Eterno. A 4 de dezembro daquele ano, o correspondente do Rio de Janeiro faz saber do “grande entusiasmo” com que a obra foi acolhida17, tão grande que, ainda em dezembro de 1885, apareceu no Brasil uma nova edição da obra, comentada assim num dos nossos periódicos: “o editor não se limita à pouca-vergonha do roubo: segundo nos consta, lê-se no frontispício do volume – “2.ª edição corrigida e augmentada”1818.

Avançando, no prefácio à segunda edição, Guerra Junqueiro confessa: “causa-me horror o Deus sanguinolento e fúnebre que separou o homem da Natureza, — que disse ao filho: Cospe em tua mãe!”1919. Seria interessante, a esta luz, ler O Melro (1879), poema narrativo onde um velho cura, em peleja com um melro, acaba por descobrir que, na “mãe natureza”, “tudo que existe é imaculado e é santo!”, apontando-se explicitamente uma conceção mais profunda da divindade: “Ah, Deus é bem maior do que eu julgava...”20 Com efeito, e digamo-lo já, a existir naturalismo em Guerra Junqueiro, ele é não naturalista, apontando para uma mundividência bem mais alargada:

“Ó crentes, como vós, no íntimo do peito
Abrigo a mesma crença e guardo o mesmo ideal.
O horizonte é infinito e o olhar humano é estreito:
Creio que Deus é eterno e que a alma é imortal”21.

Todavia, o poeta adverte, afastando equívocos:

“Mas também acredito, embora isso vos pese,
E me julgueis talvez o maior dos ateus,
Que no universo inteiro há uma só diocese
E uma só catedral com um só bispo — Deus”22

Dir-se-ia que, com aparente ingenuidade, Junqueiro quer restituir- -nos a pureza de uma religião no estado poético da infância, sendo para isso necessário desmistificá-la, desentulhando Deus:

“Cultos, religiões, bíblias, dogmas, assombros, São como a cinza vã que sepultou Pompeia. Exumemos a fé desse montão de escombros, Desentulhemos Deus dessa aluvião de areia. E um dia a humanidade inteira, oceano em calma, Há-de fazer, na mesma aspiração reunida, Da razão e da fé os dois olhos da alma, Da verdade e da crença os dois polos da vida23.

Mas, perguntar-se-á, não se tratava, no fim de contas, daquela “coisa velha contra os padres e contra as religiões, ditas e reditas por uma caterva de poetas e poetastros”, de que falava João Penha?24 Sim, se tivermos em linha de conta apenas a matéria da corrosiva fanfarra anticlericalical. Essa, sim, não era estranha aos contemporâneos do poeta, se bem que a exprimisse de maneira mais nua, sonora e definitiva. Donde, observa Ramalho Ortigão, “ele é na poesia portuguesa, como foi Vítor Hugo, antes do exílio, em França, e como é Swinburne em Inglaterra, o porta-estandarte do espírito novo”2525. O autor de As Farpas concede que Antero e João de Deus sejam “talvez mais poetas, mas não têm o vivo arranque, o impulso dominativo, a vibração belicosa e triunfante que nos versos da Velhice do Padre Eterno e da Morte de D. João lembram um toque de clarim chamando a avançar, de bandeiras desfraldadas ao vento, uma rosa ao peito e um sabre em punho”26. Guardemos a imagem do sabre.

Logo ao primeiro poema “Aos Simples”, Guerra Junqueiro faz seguir, em Velhice do Padre Eterno, a sua história da Igreja, metaforizada numa vinha, “A Vinha do Senhor”:

“Existiu noutro tempo uma vinha piedosa
Doirada pelo Sol da alma de Jesus,[…]
Produzia um licor balsâmico, divino,
Que aos cegos dava luz, aos tristes dava esp’rança.
E que fazia ver, na areia do destino,
A miragem feliz da bem-aventurança.…]
Bebê-lo era beber uma virtuosa essência
Que ungia o coração de perfumes ideais,
Pondo no lábio um riso ingénuo de inocência,
Como o d’água a correr, virgem, dos mananciais.
[…]
Mas passado algum tempo a humanidade inteira
De tal modo gostou desse licor sublime,
Que o êxtase cristão tornou-se em bebedeira,
E o sonho em pesadelo, e o pesadelo em crime

E assim, e porque “no vinho antigo ia à noite o demónio /Lançar co’a garra adunca uma infernal mistura”, “à força de beber o trágico veneno/ Tombou por terra exausta a humanidade enfim”,

Mas nisto despontou a esplêndida manhã
Dum mundo juvenil, robusto, afrodisíaco:
A Renascença foi para a embriaguez cristã
A excitação vital dum frasco de amoníaco.

Começa então a nascer naquela vinha “Um bicho que enterrava escandalosamente/ Nos pâmpanos da crença as unhas da razão”; “Chega o oídio Lutero, o verme Galileu,/ E cai-lhe o temporal de Newton e Descartes”.

“O estrago cada vez era maior, mais forte;
Apesar da realeza, o trono e a sacristia
Andarem sacudindo o enxofrador da morte
No formigueiro vil das pragas da heresia”.

“Por último, Voltaire-filoxera invade/ Essa encosta plantada outrora por Jesus”, reduzindo-a a “velhos troncos nus”. Havia ainda, porém “alguns consumidores/ Desse vinho que o Sol deixou de fecundar”. Em virtude disso,

“Uns velhos cardeais, hábeis exploradores,
Reuniram-se em concílio a fim de o imitar.
E é assim que Antonelli, o verdadeiro papa,
O químico da fé, um grande industrial,
Fabrica para o mundo ingénuo uma zurrapa
Que ele assevera que é o antigo vinho ideal.
Para isso combina os vários elementos
Que compõem esta droga: o nome de Maria,
Anjos e querubins, infernos e tormentos,
Bastante estupidez e imensa hipocrisia.
Põe tudo isto a ferver, liga, combina, mexe,
E, filtrando através duns textos de latim,
Eis preparado o vinho, ou antes o campeche,
Que a saúde da alma há-de arruinar por fim.
Mas como o paladar de muitos europeus
Quase prefere já (horrível impiedade!)
À falsificação do vinho do bom Deus,
O vinho genuíno e puro da verdade;
[…]
A cúria procurou mercados mais distantes,
O Japão, o Peru, a Austrália e Nova lorque.
Os comis-voyageurs de Roma — os Lazaristas
Com as carregações vão através do oceano,
Por toda a parte abrindo os armazéns papistas,
A fim de dar consumo ao vinho ultramontano”.

Alarga-se a empresa segundo as leis de cada mercado, “Em cada igreja existe uma taberna franca/ Para impingir a tal mixórdia, o tal horror”; “Para Espanha vão muito uns vinhos infernais,/ Um veneno explosivo e forte”; “Portugal quer vinagre. A Itália quer falerno./ Veuillot quer aguarrás que ponha a língua em brasa./ E John Bull, por exemplo, um pouco mais moderno,/ Manda ao diabo a botica, e faz a droga em casa”. E aos “simples” com “almas cor-de-rosa”,

“Ao povo, esse animal que o Padre Eterno monta, Como é pobre, coitado, então a Santa Sé Fabrica-lhe uma borra incrível, muito em conta, Um pouco de melaço e um pouco d’aguapé”.

E, “de resto há quem, bebendo essa tisana impura,/ Sinta a impressão que outrora o néctar produzia”, o néctar produzido na infância do Cristianismo, onde existiu, recorde-se, “uma vinha piedosa/ Doirada pelo Sol da alma de Jesus”.

Uma vez mais, o Poeta não quer magoar as “almas cor-de-rosa” que ainda encontram “neste vinho o esquecimento e a paz!”

“Não insulto quem bebe a droga venenosa;
Acuso simplesmente o charlatão que a faz”27.

A história é simples e rectilínea: ao tempo ideal sucedeu o da degradação, atravessado por uma “esplêndida manhã”, logo obscurecida pelos químicos da fé. Contra o obscurantismo que vende zurrapa e “monta” o povo, contra o

“bárbaro papão,
Que ruge pela boca enorme do trovão,
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que não faz a barba há seis mil anos”28.

Contra os parasitas apóstolos romanos, “funâmbulos da Cruz”

“Que andais pelo universo há mil e tantos anos Exibindo, explorando o corpo de Jesus”29

à semelhança dos ciganos, no meio da feira, “a mostrar, em cima dum jumento/ Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,/ Aborto que lhes dava um grande rendimento”, exploravam por esses artifícios “a flor do sentimento”; contra os Jesuítas, “dum faro tão astuto,” com “tal corrupção e tal velhacaria,

“Que é incrível até que o filho de Maria Não seja inda velhaco e não seja corrupto, Andando há tanto tempo em tão má companhia”30

contra as “prisões escuras de Loiola” que fazem monstros, transformando “de repente, uma criança loira/ Num pássaro nocturno estúpido”; contra tudo isso, por meio de uma peculiar hermenêutica de desconstrução, se ergue, drástica e justiceira, a voz do poeta, tendo por fito, afinal, desentulhar Deus, e renovar a ideal vinha “doirada pelo Sol da alma de Jesus”.

É este, em essência, o registo de A Velhice do Padre Eterno cujo título, parecendo incorrer em contradição, transporta afinal uma real constatação. O cristianismo, à data, manifestava-se por várias formas, envelhecido no sentido teológico-paulino, transformado em caricatura de si mesmo, distante da “boa nova” do ideal Jesus:

“E era aquela imundície humana a humanidade!
Tinha valido bem a pena na verdade
Pregado numa cruz morrer como um ladrão,
Para ao cabo de dois mil anos vir achar
Pilatos sobre o trono e Caifás sobre o altar
De diadema na fronte e báculo na mão!”31.

Tendo sido, como julgamos, a palavra brutal ao serviço de um espantoso poder de convicção, aquele sabre satírico, “um dos perfis da fisionomia do poeta”, desferido com exacerbada violência, quem consagrou a obra em questão, foi também ele que, de alguma forma, a condenou ao esquecimento. Assim sucede, porque o modo estético da sátira, com o recurso técnico da tipificação, “é um modo antigo, invariável na sua substância, de entender a relação do escritor com a realidade, uma maneira arriscada, pois, ao mudar a realidade, a sátira perde virulência e finalidade”32, arriscando a entrada no lote das peças de museu. Se o consagrou, se sobre ele arrastou uma certa tónica de efemeridade, foi também, estamos convictos, aquele modo de desferir o sabre satírico, e não tanto a substância da luta, menos ainda o propósito moralizante e reformador, que condenou a obra aos próprios olhos do seu criador, em 1919: “A Velhice foi uma explosão de cristianismo exacerbado, ou exasperado. É um livro de mocidade, escrito aos trinta ou aos vinte e tantos anos. Hoje não o faria assim”. E por que não? Porventura entre outras razões, esta, mais determinativa: “depois de o escrever conheci melhor S. Francisco de Assis e compenetrei-me de que a Igreja, que mereceu ter por si uma tal alma de super-homem, é alguma coisa de maior e melhor do que a supunha então”33.

Dois anos corridos, escreve Junqueiro:

“Eu tenho sido, devo declará-lo, muito injusto para com a Igreja. A Velhice do Padre Eterno é um livro de mocidade. Não o escreveria já aos quarenta anos. Animou-o e ditou-o o meu espírito cristão, mas cheio ainda dum racionalismo desvairador, um racionalismo de ignorância, estreito e superficial. Contendo belas coisas, é um livro mau, e, muitas vezes, abominável. Há na grandiosa história do catolicismo páginas de horror, mas a Igreja com os Evangelhos cristianizou e salvou o mundo. No catolicismo existem absurdos, mas no âmago da sua doutrina resplandecem verdades eternas, as verdades de Deus. A força moral do catolicismo é hoje imensa — não pode negar-se”34.

Neste ponto, e em face da proliferação de comentários e opiniões a que deu azo, perguntar-se-á: encontra-se novidade substancial nesta contrição aposta em nota ao artigo Sacré Coeur (1910), posteriormente recolhido nas Prosas Dispersas? A questão é delicada. Sobre ela os melhores juízes não estão de acordo. Exige tratamento demorado, paciente e preciso.

Hoje dificilmente alguém acusaria Guerra Junqueiro de ateu, mas não faltou quem o fizesse, quando lançou A Velhice “às ventanias tempestuosas” – a ponto de Camilo Castelo Branco, em Serões de São Miguel de Seide (1886), sair em sua defesa – como, após isso, durante largos decénios. Não admira, pois, o seu juízo auto definitório: “Os políticos consideram-me um poeta; os poetas, um político; os católicos julgam-me um ímpio; os ateus, um crente”35.

Há uma leitura de superfície de A Velhice do Padre Eterno, que pode apontar para o ateísmo, mas há um outro nível de leitura mais em profundidade, através da qual se percebe que Guerra Junqueiro longe de negar Deus afirma-o como condição da inteligibilidade do mundo. O que nega e satiriza, com ímpeto incendiário e até imagens de mau gosto, são o que considera ser caricaturas, degradações, degenerações da imagem divina36. Em suma, na interpretação de Egas Moniz, “chamava-o a sublimidade de uma crença límpida e justa; apenas reprova os desmandos dos homens que a pregavam, não com o exemplo, que seria a forma mais eloquente e persuasiva, mas com abjurgatórias e intimidações”37.

O dinamismo anticlerical de A Morte de D. João (1874) e, sobretudo, de A Velhice do Padre Eterno, terá manifesto prolongamento em Pátria (1896); não por acaso, as duas obras foram apontadas como “o evangelho do anticlericalismo em Portugal”38. Curioso será notar que Prometeu Libertado, poema inconcluso postumamente publicado em 1923, era para Junqueiro precisamente o complemento de A Velhice do Padre Eterno e da Pátria. Ele o afirmou em maio de 1919:

“O Prometeu Libertado é o complemento aos poemas Velhice e Pátria. O Caminho do Céu é o complemento dos Simples. A Velhice foi uma explosão de cristianismo exacerbado, ou exasperado. [...]. Entre fazer a Pátria e escrever o Prometeu Libertado, hesitei muito. Por fim, decidi-me pela Pátria, que é a visão do momento histórico português sub specie aeternitatis. Toda a minha obra tem uma grande significação moral e aquele livro era o que eu devia, naquele momento, à minha pátria”3939.

Segundo Junqueiro, em julho de 1885, em nota A Velhice do Padre Eterno, o plano de Prometeu Libertado, tendo como fundamento o encontro de Jesus com Prometeu, estava concebido há muito: “A primeira parte é a epopeia do Trabalho, a glorificação de Prometeu pela humanidade e pela natureza. Na segunda parte, Jesus Cristo, levantando-se do seu túmulo, vem fulminar o abutre e desacorrentar Prometeu”40. E explica: “O herói é libertado pelo santo. A crença e a ciência, a razão e a fé, depois de um combate de milhares de séculos, reúnem-se finalmente numa paz luminosa, numa comunhão indestrutível” 41.

Era a explícita afirmação depois da negação:

“Prometeu e Jesus, a liberdade e a crença,
Unidos num abraço estreito e fraternal,
Farão da natureza uma harmonia imensa,
Farão do velho Deus um Deus universal”4242.

Sem considerar composições menores, dir-se-ia que A Morte de D. João, A Velhice do Padre Eterno, Pátria e Prometeu Libertado configuram, portanto, um dos veios por onde corre a tão contraditada unidade do pensamento junqueireano. Um outro veio mana e corre, a nossos olhos e sobretudo, em obras como Os Simples, Oração ao Pão e Oração à Luz e O Caminho do Céu. Integrada neste último, porventura com sabor a fonte, o poemeto A Lágrima configura um momento singular no pensamento metafísico de Guerra Junqueiro.

Em torno de A Lágrima

No meu panteísmo há uma moral. O Bem Absoluto, Deus, é o fim
supremo e a síntese do ser.”
(Guerra Junqueiro, carta inédita)
“Enganam-se os que vão para Deus, voltando as costas à natureza. Quem se quiser salvar, há de salvar os outros. Quem renegar
a natureza, renega Deus.”
(Prosas Dispersas)

Se há momentos em que a vida de um homem parece parar para que ele a possa ver melhor, o ano de 1888 é muito provavelmente um período decisivo na cronologia íntima de Guerra Junqueiro, assinalando com precisão o rescaldo daquele período em que por via do sofrimento, “ante a morte próxima”, a sua “natureza inquieta de religioso e de metafísico” pediu “à história natural (única história verdadeira) o segredo íntimo das coisas”. Nessa circunstância, questionou a razão, ouviu a consciência e – conquanto as avaliações feitas pelo próprio tenham de suspeito – deu balanço a si mesmo. Assim, ele o testemunha, “duma visão mais íntima e profunda do universo germinaram em mim novas emoções, e portanto uma nova arte. O poeta renasceu e cresceu. Fecundo renascimento psicológico e não apenas uma evoluçãozinha toda literária, meramente verbal e de superfície”43. Não há razões para que duvidemos dele, mesmo porque, como dirá em Notas à Margem de uma filosofia “a alma vê melhor meditando às escuras. Quando as formas se apagam, descobrem-se as essências”44

A Lágrima é um poemeto composto por trinta e seis dísticos, publicado em 1888 e depois retomado nas Poesias Dispersas (1920). Ali se dramatiza a vida de uma gota de orvalho, a lágrima, abrindo assim:

“Manhã de Junho ardente. Uma encosta escalvada, Seca, deserta e nua, à beira duma estrada. Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha, Bebendo o sol, comendo pó, mordendo a rocha. Sobre uma folha hostil duma figueira brava, Mendiga que se nutre a pedregulho e lava, A aurora desprendeu, compassiva e divina, Uma lágrima etérea, enorme e cristalina”45.

É, portanto, como se tudo acontecesse na manhã primordial de um tempo sem tempo, numa realidade ou partícula da matéria fraturada da vida, num jogo de seduções, na eminência de um prodígio. Aquela “Lágrima tão ideal, tão límpida que, ao vê-la,/ De perto era um diamante e de longe uma estrela”, é dessas realidades irredutíveis ao poder e aos êxtases da glória, mas vulneráveis à dor de quem nunca foi alguém aos olhos de ninguém.

Com efeito, à cadência de ofertas e seduções de um rei e seus “brilhantes, rubins e pérolas de Ofir”, de um cavaleiro andante, com seus “combates de heróis e mil sonhos d’amor”, de um velho judeu, com seu “oiro em montão”, ela resiste, assim:

“E a lágrima celeste, ingénua e luminosa, Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.”

Sucede, porém, que

“Debaixo da figueira então um cardo agreste,
Já ressequido, disse à lágrima celeste:
“A terra onde o lilás e a balsamina medra
Para mim teve sempre um coração de pedra.
“Se, a queixar-me ergo ao céu os braços por acaso,
O céu manda-me em paga o fogo em que me abraso.
“Nunca junto de mim, ulcerado de espinhos,
Ouvi trinar, gorjear a música dos ninhos.
“Nunca junto de mim ranchos de namoradas
Debandaram, cantando, em noites estreladas...
“Voa a ave no azul e passa longe o amor
Porque ai! nunca dei sombra e nunca tive flor!...
“Ó lágrima de Deus, ó astro, ó gota d’água,
Cai na desolação desta infinita mágoa!”
E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Tremeu, tremeu, tremeu... e caiu silenciosa.
E algum tempo depois o triste cardo exangue
Reverdecendo, dava uma flor cor de sangue,
Dum roxo macerado e dorido e desfeito,
Como as chagas que tem Nosso Senhor no peito...
E ao cálix virginal da pobre flor vermelha
Ia buscar, zumbindo, o mel doirado a abelha!...”46

Etérea, evanescente, intocável, cândida, quase indizível, é à voz em
prece do mais inferior, pobre e sofredor dos seus pretendentes que ela
se entrega. Porque “toda a Natureza, misteriosa e criadora”, se afigura ao Poeta “toda saturada de amor, impregnada de alma, alagada em
Deus”? Porque a prece, a oração, é para Junqueiro “a canção angelizada” que o universo absorve e compreende e que Deus ouve?

“Cantar não basta. Rezar é mais. Rezar é o superlativo divino de cantar. A oração é a canção angelizada, a canção chorada e de mãos postas. O Universo absorve- -a, compreende-a. Ouve-a Deus, os homens escutam- -na, e as ondas, as águas e os rochedos, vagamente a percebem, como um hálito amigo, uma carícia branda e luminosa”47.

Ou porque, não havendo “beleza esplendente que não fosse dor caliginosa”, também ela, na sua viagem da noite para a luz, experimentou e venceu a dor infinita, dissolveu-a em amor infinito, podendo agora ser lágrima fecunda capaz de fazer parir a terra, matar a sede do mundo e germinar a vida?

Seja como seja, na história-metáfora-alegoria desta Lágrima, telúrica, lírica, naturalista, mística e panteísta, composta por trinta e seis dísticos, começa o rio subterrâneo que emerge e toma forma em Os Simples para depois se amassar em pão e se derramar em caudal de luz e fraternidade cósmica, nas orações. “Arte criadora, que seja pão e seja luz”, assim o desejava o Poeta.

Com ressonâncias de certas parábolas evangélicas e com a mesma lógica do Sermão da Montanha, A Lágrima testemunha uma procura de sentido, uma forma de abordar o mistério do mundo. Dir-se-ia ser o desenho germinal de uma evolução, o fragmento de uma visão substancial e unitária que Guerra Junqueiro trazia a escrever por dentro. Por conseguinte, também a seu respeito podia ele escrever: “Quem vir neste livrinho somente o lado externo e literário, a forma, a paisagem, a pintura rústica, não o entendeu, nem o soube ler”48.

Mas que Junqueiro é este que aqui se diz? O mesmo de sempre: o Poeta impulsivo, coerentemente idealista, revolucionário, alheio a escolas e a clientelas; o mesmo que se acendeu como tocha, chegou ao estado ardente da lava e escreveu versos de guerra, turbulentos, audazes e temerários; o que em nome da justiça e da liberdade, como se um imperativo o urgisse a agir, numa pirotecnia de imagens e metáforas, disse o que a prudência e as conveniências calam. Mas talvez este – e não o sátiro, e não o irónico – seja o que foi ou quis ser mais ele mesmo, sobretudo após o aludido “fecundo renascimento psicológico” e não evoluçãozinha “verbal e de superfície”.

Mas também esta Lágrima tem história. Conhecem-se as circunstâncias que a inspiraram. Ao datá-la de 25 de março de 1888, em Viana do Castelo, retirado, por doença, das lides parlamentares e dos trabalhos literários, Junqueiro reagia ao incêndio que, na noite de 20 para 21 de março consumiu o Teatro Baquet do Porto – “Nunca o Porto assistiu a uma catástrofe tão pavorosa”, “fornalha crepitante onde centenas de corpos foram reduzidos a cinzas”, registava a imprensa. Além da oferta de uma centena de exemplares de A Velhice do Padre Eterno, por carta a Bernardo Pindela, seu amigo e membro da comissão de auxílio, Junqueiro oferece A Lágrima para publicação, revertendo o produto das vendas em favor das “vítimas do incêndio Baquet”. Assim se lê na última página do opúsculo impresso na Tipografia Ocidental, do Porto, em formato 17,5 x 26,5 cm., ornado com cercaduras e com a primeira letra impressa a vermelho. E isso justifica as duas quintilhas que tinha no início49, datadas de 14 abril 1888, e que, entretanto, perdida a atualidade, eliminou nas edições seguintes, bem como nas Poesias Dispersas.

Não foi apenas Carolina Michaelis, no seu sotaque mestiço, quem considerou “A Lágrrima uma das mais belas poesias da língua porrtuguesa”. Outros a elevaram à excelência de obra-prima.

Descontadas as inúmeras recitações, públicas e privadas, dentro e fora do país, quando não em saraus de vapor, em alto mar, a extraordinária popularidade de A Lágrima afere-se pelas imitações que suscitou – mais de uma dezena em letra redonda, em rigoroso cumprimento da forma, métrica e sílabas, sejam elas de ordem política, académica, desportiva, publicitária, etc., – como pela capacidade de seduzir e ser dita em outras línguas. Disso dão testemunho as traduções fixadas na edição especial de A Lágrima duplamente comemorativa50 – Rey Soto (1910), Jules Superville (Out. 1910), Guido Batelli (1929), Kathleen Calado (2010).

Não obstante, e apenas a nosso conhecimento, A Lágrima conheceu outras traduções, todas elas hoje talvez mais esquecidas que o seu original, designadamente: para castelhano, por Eduardo Marquina (Barcelona, 1910), Isidoro Errázuriz (Santiago de Chile, 189?) e Campio Carpio (Buenos Aires, 1962); para italiano, Abner Petrone (Coimbra, 1943); para sueco Göran Björkman (Upsala, 1900).

Junqueiro sabia do engano dos “que vão para Deus, voltando as costas à natureza”, pois “quem se quiser salvar, há de salvar os outros”51. Todos os outros, todos quantos partilham a condição de criaturas. Assim, gradualmente, deitou às costas os excessos, aceitou a dor como escada, e, com barbas e burel de peregrino, subiu a montanha. Desta forma, puxado pelo desejo duma suprema redenção do homem e do universo, escreveu o seu evolucionismo idealista e religioso, ascensional e teleológico. O Cristo cósmico era o horizonte.

Guerra Junqueiro foi um dos nossos grandes poetas. E “os grandes poetas são os grandes homens”, e “os grandes homens” são aqueles que

“avançam para Deus, não isolando-se e afastando os olhos das misérias da Terra, mas levando piedosamente no coração todos os gemidos da humanidade e todas as angústias da natureza. Os seus passos de luz, sulcando a noite, conduzem como um rebanho, na viagem eterna, a caravana infinda. Os grandes homens são descobridores e redentores. Quando sobem, ajudam, progridem, dando a mão, libertam-se, libertando”52.

Deixando de lado a questão de Fernando Pessoa considerar Pátria superior a Os Lusíadas53, sublinhe-se a certeza com que o autor dos heterónimos apontou Guerra Junqueiro, pela sua Oração à Luz, como o primeiro poeta da nova poesia portuguesa. Porquê? Porque para Pessoa, “na nova poesia portuguesa todo o amor é além-amor, como toda a Natureza é além-Natureza”5454. Sem esquecer que, aos olhos de Fernando Pessoa, a Oração à Luz é “obra máxima da nossa atual da nossa actual poesia”, pois “De um canto à luz tira Junqueiro uma das maiores poesias metafísicas do mundo...”5555, importará sublinhar ainda a leitura de Álvaro Ribeiro:

“Toda a obra do poeta, apesar das irregularidades e vicissitudes, se escala na difícil gradação que vai dos problemas humanos aos segredos naturais e dos segredos naturais aos mistérios divinos. Sociólogo a princípio da sua carreira, muito preocupado com as instituições, as doutrinas e os homens, quando chegou à maturidade reconheceu que lhe cumpria procurar a verdade num plano superior ao da vida social, e aproximou-se do estudo da Natureza. Em breve verificou, porém, que as ciências positivistas nos dão apenas uma fenomenologia superficial, ou artificial, sem acesso ao íntimo da realidade”56.

Considerações Finais

Com A Velhice do Padre Eterno (1885) Guerra Junqueiro sentenciou, em parte, o seu destino. Despertou a ira dos católicos e desse modo ativou uma primeira batalha. Com ele, em aplauso e servindo-se daquela poesia como instrumento de militância, estavam os anticlericais. Se os católicos justamente reativos não viram na obra o grito destemperado de um cristão, aos seus ruidosos apoiantes não era pedido que o vissem.

Com Finis Patriae (1891) e Pátria (1896), o poeta atacou a Monarquia e a plácida aliança entre o trono e o altar. Aos contundidos monárquicos aliam-se os católicos que há muito o tinham no ponto de mira e, assim, sem armistício da primeira, mais bem como prolongamento, Guerra Junqueiro abre uma segunda batalha, porventura de consequências mais pesadas. Com Junqueiro, em esdrúxula aclamação, encontram- -se os republicanos e os anticlericais. Na iminência da implantação da República, encomendaram-lhe, a ele e a Bruno, o texto que a devia proclamar. O ideal exarado não se mostrava conforme ao pretendido por quem o encomendara. O texto acabou por ser relegado.

Não era a primeira nota suspeita que o aparelho recebia provinda do aclamado Poeta da Revolução. Meses antes do 5 de Outubro, em contra curso à opinião dominante, Guerra Junqueiro defendera a separação da Igreja e do Estado, mas “sem hostilidade para a Igreja e, reconhecendo que a Igreja tem uma missão social importante a desempenhar na sociedade portuguesa”57. Em direção radicalmente oposta se avançou. A Lei de Separação do Estado das Igrejas remetia a prática religiosa ao foro privado e ao interior dos templos, interditando quaisquer manifestações públicas dessa natureza. Daí que Junqueiro a impute de “Lei monstruosa” e “satânica”. A sua República, bem como a de alguns outros, era a liberdade e algemavam-se os crentes; era a igualdade, e escravizava-se a religião.

A Lei de Separação configurava um ponto de cisão, mesmo dentro do partido republicano. Sendo, à época, a questão religiosa a questão política por excelência, nela chocavam de frente as duas forças em conflito. Àquela atitude suspeita, os republicanos anticlericais somavam as Orações, uma “infanda” nota aposta em certo texto das Prosas Dispersas e, por fim, o declarado apoio de Guerra Junqueiro à defesa do ensino religioso nas escolas. O ideal de Pátria que Guerra Junqueiro propunha assemelhava-se a panaceia de contrabandista para a latejante ferida monárquica. Por seu lado, aos católicos nada parecia bastante para subtrair os agravos infligidos com A Velhice do Padre Eterno e Pátria. No conjunto das duas obras liam, como dissemos, “o evangelho do anticlericalismo em Portugal”58. Contudo, não se coibiam de fazer reverter em seu favor as posições da “última fase” do poeta.

À luz das duas questões apontadas, a religiosa e a política, há de pesar-se-lhe o passado e quase se lhe hipoteca o futuro, uma vez que a própria crítica literária feita à sua Obra, se bem que desejavelmente autónoma, será também ali enxertada. Pequeno exemplo paradigmático disso será o seu “caso” com Sena Freitas. Durante oito longas décadas se disse que uma tal sátira foi vingativa e vergonhosa retaliação de Guerra Junqueiro à Autópsia operada por Sena Freitas em A Velhice do Padre Eterno. Apenas em 2005 se demoliu tal “adquirido”, provando- -se que a controversa sátira foi escrita dez anos antes da Autópsia, à qual, aliás, Junqueiro nunca deu explícita resposta; acresce que a sátira não foi escrita para ser publicada (como de facto, abusivamente o foi) e Junqueiro tudo fez, chegando ao ponto de usar tesoura, para que aqueles destemperados alexandrinos fossem esconjurados pelo silêncio59.

Guerra Junqueiro era um poeta honesto, na literal aceção da palavra, mas era também um poeta impulsivo; ora, os poetas impulsivos, alheios a clientelas, “não se confessam, denunciam-se. Deitam para fora o que têm dentro, as suas paixões, os seus afetos, os seus sonhos, os seus ideais, as suas esperanças”60. Pelo que, de algum modo, toda a sua obra é combativa, cabendo-nos conhecer não só o combate e as armas de cada fase, como determinar a teleologia desse combate. Este revolucionário foi um místico, este profeta um pensador. Por consequência, separá-los equivale a realizar uma dissecação num corpo vivo.

Inscrito, por muitos, ao lado das mais gloriosas figuras da poesia de todo o mundo e de todos os tempos – apontando-se-lhe a fatalidade de não escrever em língua de maior repercussão internacional – Guerra Junqueiro foi, por certo tempo, quase só conhecido por uma fama de enredos e equívocos imbricados, tão distorcido quanto um retrato refletido em água turva. Com efeito, em Junqueiro se “cristalizaram certas obsessões geracionais de sinal vário, alimentando falsas querelas, de que se aproveitaram as ortodoxias e os poderes em confronto, que as utilizaram como um meio de congelar as leituras e interpretações das respectivas obras e acções, muitas vezes numa conivência recíproca”61.

Por entre a pluralidade de opiniões, pautadas entre a suprema canonização e a radical diatribe, se encontrará o justo lugar de Guerra Junqueiro62. E se estamos com José Gomes Ferreira ao afirmar que “o processo Junqueiro ainda não está encerrado, e será, mais tarde ou mais cedo, revisto”63, não deixamos de subscrever que “a posteridade de Junqueiro é das coisas mais diabolicamente labirínticas que têm existido na literatura portuguesa”64.

Referências: [Por ordem cronológica]

De Guerra Junqueiro:

Guerra Junqueiro, Prosas Dispersas. Porto: Livraria Chardron, 1921.

Obras de Guerra Junqueiro (Poesia). Organização e introdução de Amorim de Carvalho. 2.ª edição. Porto: Lello & Irmão, 1974.

Guerra Junqueiro, A Lágrima (La Lágrima, La Lagrima, La Larme, The Tear). Organização e fixação do texto de Henrique Manuel S. Pereira. Porto: Lello Editores, 2010.

Guerra Junqueiro, Notas à Margem de uma Filosofia. Organização, introdução e notas de Henrique Manuel Pereira. Porto: Alforria, 2020 [No Prelo].

Outras:

“Guerra Junqueiro”. O Primeiro de Janeiro. (4 ago. 1885), p. 2, col. 4.

“A Velhice do Padre Eterno”. A Província (Porto). (24 ago. 1885), p. 2, col. 3.

B. C., “Revista da semana”. A Provincia (31 ago. 1885), p. 1, col. 3.

“A Velhice do Padre Eterno”. A Illustração, 18 (20 set. 1885), p. 286, col. 2, 3; p. 287, col. 1, 2.

Mariano Piana, “Chronica. Resposta a Carreira”. A Illustração, 21 (5 nov. 1885), p. 322.

“A ‘Velhice do Padre Eterno’”. O Primeiro de Janeiro (4 dez. 1885), p. 2, col. 5.

A “Velhice do Padre Eterno”. O Primeiro de Janeiro (29 dez. 1885), p. 2, col. 1.

Bruno, “Trecho d’um livro”. A Republica Portugueza (29 dez. 1890), p. 1, col. 6.

“A questão religiosa: Palavras de Guerra Junqueiro”. A Palavra (3 maio 1910), p. 1.

Agostinho de Campos [Org.], Antologia portuguesa: Guerra Junqueiro (Verso e Prosa). Paris-Lisboa, Porto-Rio de Janeiro: AillaudBertrand, Chardron-Francisco Alves, 1920.

Luís de Oliveira Guimarães, Junqueiro e o Bric-à-Brac. Lisboa: Editora Gráfica Portuguesa, 1942.

Moreira das Neves, Guerra Junqueiro: o homem e a morte. Porto: Domingos Barreira, 1942.

Egas Moniz, Guerra Junqueiro: Conferência. Porto: Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, 1949.

Álvaro Ribeiro, A Arte de Filosofar, Lisboa: Portugália Editora, 1955.

Lopes d’Oliveira, Guerra Junqueiro. A sua vida e a sua obra. (1880-1923). Lisboa: Ed. Excelsior, [1955], vol. 2.

José Gomes Ferreira, “No cinquentenário da morte de Guerra Junqueiro”. Colóquio/Letras, n.º 14 (Jul. 1973), p. 71-72.

Ramalho Ortigão, As Farpas. O país e a sociedade portuguesa. Lisboa: Clássica Editora, 1990.

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Gonzalo Torrente Ballester, Sobre Literatura e a arte do romance: Antologia de textos. Lisboa: Difel, 1999.

Luís Machado de Abreu, Ensaios anticlericais. Lisboa: Roma Editora, 2004.

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Henrique Manuel Pereira, [org.], Guerra Junqueiro e A Folha: Primícias. Seguido de índice geral da revista. Coimbra: Tenacitas-Alforria, 2016.

Notas

[1]Luís Machado de Abreu, Ensaios anticlericais. Lisboa: Roma Editora, 2004, p. 35.

[2]Cf. Ibidem, pp. 35-68.

[3]Obras de Guerra Junqueiro (Poesia). Organização e introdução de Amorim de Carvalho. 2.ª edição. Porto: Lello & Irmão, 1974, p. 334. Doravante citaremos esta obra por OGJ, pp. 410-411.

[4] Cf. “A Velhice do Padre Eterno”. A Província (Porto). (24 ago. 1885), p. 2, col. 3

[5]Cf. Lopes d’Oliveira, Guerra Junqueiro. A sua vida e a sua obra. (1880-1923). Lisboa: Ed. Excelsior, [1955], vol. 2, p. XXXI.

[6]Ibidem, pp. [357]-358.

[7]Henrique Manuel S. Pereira, Guerra Junqueiro: Percursos e afinidades. Lisboa: Roma Editora, 2005 p. 207.

[8]B. C., “Revista da semana”. A Provincia (31 ago. 1885), p. 1, col. 3.

[9]Mariano Piana, “Chronica. Resposta a Carreira”. A Illustração 21 (5 nov. 1885), p. 322

[10]Ibidem. O mesmo texto da carta seria mais tarde publicado por: António de Faria, “Guerra Junqueiro: amaldiçoado por um sacerdote nas páginas da “Ilustração Portuguesa”, que se publicou em Paris”. O Século Ilustrado (24 out. 1942), p. 1.

[11]No prefácio a O Caminho do Céu, João Grave narra o que da boca do próprio Junqueiro ouvira contar: que “fora, uma vez, convidado para um banquete a que assistiram cinco bispos seus amigos e leitores das sátiras de ‘A Velhice do Padre Eterno’. – Eram todos ateus! – concluiu Guerra Junqueiro, sem que o remígio suave da alegria lhe roçasse os lábios. – Nenhum cria em Deus, nem no Céu, nem no Inferno. O único deísta sincero que estava presente àquele jantar era eu. E não calcula o poder de dialética que tive de empregar, ao café e aos licores, para converter à boa doutrina e reconduzir à vereda segura da crença os transviados príncipes da Igreja!...”. OGJ, pp. 962-963.

[12]“A Velhice do Padre Eterno”. A Illustração 18 (20 set. 1885), p. 286, col. 2, 3; p. 287, col. 1, 2.

[13]B. C., “Revista da semana”. A Provincia (31 ago. 1885), p. 1, col. 3.

[14]Jayme Magalhães Lima, “A Morte de D. João e a Velhice do Padre Eterno: A popularidade de Guerra Junqueiro”. A Província (5 set. 1885), p. 1, col. 1-2.

[15]Guerra Junqueiro nunca chegou a ir ao Brasil, todavia, a sua vida e nome – antes de nascer como depois de morrer – estiveram sempre ligados àquele país. Procurando apontar os estreitos e profundos elos que ligaram o poeta de Os Simples ao Brasil, organizámos em tempos um texto em cinco pontos: 1. Ainda antes de nascer; 2. Durante a sua vida (privilegiando um encadeamento marcadamente cronológico); 3. Centenário do seu nascimento; 4. Dedicatórias; 5. …E mesmo de além-túmulo. Henrique Manuel S. Pereira, Guerra Junqueiro: Percursos e Afinidades. Lisboa: Roma Editora, 2005, pp. 57- 84. No âmbito da receção, dedicámos depois um estudo particular a “Guerra Junqueiro e os ‘Ditados’ do Além-Túmulo: Psicografia e espiritismo”. Ibidem, pp. 85-106.

[16]“Guerra Junqueiro”. O Primeiro de Janeiro. (4 agosto 1885), p. 2, col. 4.

[17] “A ‘Velhice do Padre Eterno’”. O Primeiro de Janeiro (4 dez. 1885), p. 2, col. 5.

[18]A “Velhice do Padre Eterno”. O Primeiro de Janeiro (29 dez. 1885), p. 2, col. 1. Esta fonte afirma que a edição foi feita no Rio de Janeiro. A ser verdade, foi então feita uma outra na cidade de S. Paulo: Teixeira & Irmãos, 1885.

[19]Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno, In OGJ, p. 334.

[20]Não por acaso, Junqueiro retomou este longo poema narrativo em A Velhice do Padre Eterno, OGJ, p. 401-411.

[21]Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno, In OGJ, p. 341.

[22]Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno, In OGJ, p. 341.

[23]Ibidem, p. 342.

[24]Cf. Henrique Manuel Pereira, “Junqueiro e Penha, a cidade e os poetas de A Folha”. Idem, Henrique Manuel Pereira [org.], Guerra Junqueiro e A Folha: Primícias. Seguido de índice geral da revista. Coimbra: Tenacitas-Alforria, 2016, pp. 15-40.

[25] Ramalho Ortigão, As Farpas. O país e a sociedade portuguesa. Lisboa: Clássica Editora, 1990, pp. 295.

[26]Ibidem.

[27]Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno, pp. [345]-350.

[28]Ibidem, p. [356]

[29]Ibidem, p. [355]

[30]Ibidem, p. [379]

[31]Ibidem, p. 375.

[32]Gonzalo Torrente Ballester, Sobre Literatura e a arte do romance: Antologia de textos. Lisboa: Difel, 1999, p. 307.

[33]Agostinho de Campos [Org.], Antologia portuguesa: Guerra Junqueiro (Verso e Prosa). Paris-Lisboa, Porto-Rio de Janeiro: Aillaud-Bertrand, Chardron-Francisco Alves, 1920, p. XXXI.

[34]Guerra Junqueiro, Prosas Dispersas. Porto: Liv. Chardron, 1921, p. 13.

[35]Henrique Manuel Pereira, Guerra Junqueiro: Fragmentos de Unidade Polifónica. Maia: Cosmorama, p. 25.

[36]Assim pensa também, porventura entre outros, António Cândido Franco, um dos mais lúcidos intérpretes da obra junqueiriana. Cf. Henrique Manuel Pereira, À Volta de Junqueiro: Vida, Obra e Pensamento. Porto: Universidade Católica-Porto, 2010, pp. 25-42.

[37]Egas Moniz, Guerra Junqueiro: Conferência. Porto: Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, 1949, p. 27.

[38]Moreira das Neves, Guerra Junqueiro: o homem e a morte. Porto: Domingos Barreira, 1942, p. 47.

[39]Agostinho de Campos [Org.], Antologia portuguesa, pp. XXXI- XXXII.

[40]Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno: OGJ, p. 452

[41]Ibidem.

[42]Ibidem, p. 164.

[43]Guerra Junqueiro, Os Simples: OGJ, pp. 915-916.

[44]Idem, Notas à Margem de uma Filosofia. Organização, introdução e notas de Henrique Manuel Pereira. Porto: Alforria, 2020 [No Prelo].

[45]Guerra Junqueiro, A Lágrima: OGJ, p. [804].

[46]Ibidem, pp. 806-807

[47]Guerra Junqueiro, Prosas Dispersas, p. 62

[48]Idem, Os Simples: OGJ, p. 916.

[49]“Que esta lágrima tremente,/ Onde o meu coração vai/ Dolorosíssimamente,/ Caia no berço inocente/ Dum órfão, sem mãe nem pai.// Será talvez porventura/ Mais uma flor em Abril, / E no lodo da amargura / Menos a blasfémia obscura/ Duma pegada infantil...”

[50]Comemorativa dos 160 anos do nascimento do seu autor e dos 100 anos da implantação da República em Portugal: Guerra Junqueiro, A Lágrima (La Lágrima, La Lagrima, La Larme, The Tear). Organização e fixação do texto de Henrique Manuel S. Pereira. Porto: Lello Editores, 2010.

[51]Guerra Junqueiro, Prosas Dispersas, p. 63.

[52]Ibidem, p. [89]-90

[53]Cf. Henrique Manuel Pereira, Guerra Junqueiro: Fragmentos, pp. 38-41.

[54]Fernando Pessoa, A Nova Poesia Portuguesa, Lisboa: Editorial Inquérito, 1944, p. 65.

[55]Ibidem.

[56]Álvaro Ribeiro, A Arte de Filosofar, Lisboa: Portugália Editora, 1955, p. 176.

[57]“A questão religiosa: Palavras de Guerra Junqueiro”. A Palavra (3 maio 1910), p. 1.

[58] Moreira das Neves, Guerra Junqueiro, p. 47.

[59]Cf. Henrique Manuel Pereira, “Littré e o padre Sena Freitas: no quadro da polémica entre Sena Freitas e Junqueiro”. In Luís Machado de Abreu, Jorge Croce Rivera, José Eduardo Franco, Annabela Rita, (coord.), Homem de Palavra: Padre Sena Freitas. Estudos, inéditos e autobiografia. Lisboa: Roma Editora, 2008, pp. 243-281. [Atas do Congresso Internacional Igreja, Sociedade e cultura: O Padre Sena Freitas e o seu tempo. Universidade Católica Portuguesa – Lisboa. 20-21 Out. 2005]. O texto foi posteriormente retomado e ampliado: Henrique Manuel Pereira, Junqueiro, Sena Freitas e Cruz Coutinho: Equívocos em cadeia. Porto: Alforria, 2014.

[60]Cf. Henrique Manuel Pereira, A Música de Junqueiro. Porto: Escola das Artes, Universidade Católica, 2009, p. 16.

[61]José Augusto Seabra, “A reabilitação de Junqueiro”. Jornal de Notícias (2 jan. 1997), p. 42, col. 1.

[62]Para isso temos procurado contribuir: Henrique Manuel Pereira, Guerra Junqueiro: Fragmentos, 2015

[63]José Gomes Ferreira, “No cinquentenário da morte de Guerra Junqueiro”. Colóquio/ Letras, n.º 14 (Jul. 1973), p. 71.

[64] Antologia poética: Guerra Junqueiro. Anotação e selecção de A. Cândido Franco. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. LXI.