Manifestação do Sagrado no conto O defunto (1895) de Eça de Queiroz (1845-1900): A intervenção de Nossa Senhora do Pilar
Manifestation of the Sacred in a short story O defunto (1895) by Eça de Queiroz (1845-1900): The intervention of Our Lady of Pilar  

 

Denise Rocha *
*Doutorado em Letras pela Universidade Estadual Paulista em Assis (UNESP). Contato: dena.maria@outlook.com 
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Resumo:

Na terceira fase de sua produção literária, José Maria Eça de Queiroz (1845-1900) dedica-se à escrita de obras de conteúdo religioso - hagiografias e manifestações divinas -, entre outras. Baseado em uma narrativa exemplar, citada no Sermão XXV de Maria Rosa Mística, do Padre António Vieira, Eça escreve o conto, O defunto (1895), a respeito do poder da oração do Rosário e da ajuda de Nossa Senhora do Pilar. A temática de louvor à Virgem e a seus milagres tem tradição literária na Península Ibérica, e foi eternizada nas Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio (1221-1284). 

Palavras chave: Literatura Portuguesa; Eça de Queiroz; O defunto; Sagrado; Nossa Senhora do Pilar 

 

Abstract
In the third phase of his literary production, José Maria Eça de Queiroz (1845-1900) devotes himself to the writing of religious content works – hagiographies and divine manifestations -, among others. Based on an exemplary narrative, mentioned in Sermão XXV de Maria, Rosa Mística, by Padre Antonio Vieira, Eça writes the short story, O defunto (1895), about the power of the rosary prayer and the help provided by Our Lady of Pilar. The topic of praise of the Virgin and her miracles is preserved in the literary tradition of the Peninsula, and was perpetuated in Cantigas de Santa Maria, y Afonso X, The Wise (1221-1284) 

Keywords: Portuguese Literature; Eça de Queiroz; O defunto; Sacred; Our Lady of Pilar. 

 Fig. 1- Dicionário de Milagres, de Eça de Queiroz, 1980, Lello & Irmãos Editores, Porto  

E m 1900, ano do falecimento de José Maria Eça de Queiroz, o seu Dicionário de Milagres foi vendido ao editor António Maria Pereira, e prefaciado por J. T. da Silva Bastos. Trata-se de uma compilação de textos de fontes estrangeiras, em sua maioria, de distintos escritores de obra sacra ou profana, que relataram aspectos transcendentais e miraculosos da vida, da aparição e da intercessão de Jesus, da Virgem Maria e de santos (hagiologias, martirológicos, sermões etc.): 

O conjunto lembra, no entanto, esses esquecidos livros de máximas e de apotegmas católicos que abundaram no século XVIII português e que Eça de Queiroz ainda deve ter conhecido na infância. O que se desconhece é a intenção profunda do escritor ao dedicar-se à compilação de um Dicionário de tão estranha natureza. Não cremos ser ele o produto de uma crise mística; antes o retomar de uma forma tradicional de explicação sumária dos mistérios do dogma católico através dos séculos e que tanta importância tiveram no percurso da vida peninsular. (QUEIROZ, aba direita, s.d.).

A identidade religiosa mariana ibérica se faz presente na alma do povo, na música e nas imagens sacras, na literatura oral ou escrita, de linha popular e erudita, como aquelas publicadas nas Cantigas de Santa Maria, antologia organizada pelo rei Afonso, o Sábio (Século XIII), com louvores aos milagres da Senhora Celestial. 

No artigo A Idade Média na obra de Eça de Queirós (2001), Maria do Amparo Tavares Maleval resgata momentos da produção literária eciana, voltadas à incursão do escritor ao passado religioso ibérico, e ressalta que O defunto: “[...] é uma narrativa histórica que lembra as de Herculano. Remonta aos anos de 1447-1475, época em que a Idade Média já se despedia, substituindo Isabel, a Católica, a Henrique IV no trono de Leão e Castela”. (MALEVAL, 2005, p. 28). 

O conto O defunto, publicado na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, nas edições de 7 a 16 de agosto de 1895, reflete o diálogo intertextual entre o século XIX e o século XVII, realizado pelo escritor português com o Padre Vieira (1608-1697). 

Na narrativa, mesclada com elementos de miracula e de mirabilia (conceitos do monge Tilbury, século XIII), Eça enfatizou o poder miraculoso mariano na devoção àquela denominada como Nossa Senhora de Pilar, em Segóvia, na Península Ibérica: um fidalgo crente, que de rosário na mão, rezava o Padre Nosso, a Ave Maria e a Salve Rainha, teve uma experiência extraordinária com um enforcado ressuscitado, em missão de salvação. Tal vivência foi entrecruzada com um momento da manifestação do sagrado, de algo transcendental, de ordem diferente de uma realidade do mundo físico, envolto em mirabilia aterrorizante.  

1. Manifestação de Maria: o Sagrado, os miracula e os mirabilia 

O culto à Maria (Marialis Cultus), Mãe de Jesus, começou a se difundir no século IV, e foi aprovado (ano 431), no Concílio de Éfeso, que declarou a sua maternidade divina. A jovem judia, prometida em casamento a José, carpinteiro da aldeia de Nazaré, região da Galiléia, no Oriente médio, recebeu a visita celestial do Anjo Gabriel, que anunciou, que por meio da intercessão do Espírito Santo, ela daria a luz a um menino, cujo nome seria Jesus. Não existem fontes históricas sobre a vida dessa mulher extraordinária, que concebeu o filho de Deus, o apoiou e o acompanhou em sua missão evangelizadora até sua paixão e morte na cruz. Os fatos são mencionados no Evangelho de Mateus e no de Lucas; nos Atos dos Apóstolos; na Carta aos Gálatas (4,4) e nos Evangelhos Apócrifos, dos séculos II e III, segundo Henri CrouzeL em Ressureição dos mortos (CROUZEL, 2002, p. 885). 

Presente nas celebrações do calendário litúrgico, Maria foi agraciada com preces, como Ave Maria1 e Salve Rainha; na iconografia e na literatura medieval européia: Les miracles de Nostre Dame, poemas narrativos do prior Gautier de Coincy (1177-1236); Milagros de Nuestra Señora, do clérigo Gonzalo de Berceo (Séculos XII e XIII), de acordo com Angela Vaz Leão no artigo As cantigas de Santa Maria no contexto das narrativas medievais marianas (LEÃO, 2007, p. 263); e Cantigas de Santa Maria, obra organizada por Afonso, o Sábio (1221-1284), com poemas líricos e narrativos marianos2 Maria foi homenageada em igrejas e centros de veneração e de peregrinação, como Nossa Senhora do Pilar, padroeira da Espanha3, entre outros.   

Fig. 2- Imagem de Nossa Senhora do Pilar, Catedral -Basílica em Saragoça 

Na tradição cristã, o culto à Maria, como “mãe honrada” (A BIBLIA DA MULHER, 2003, p. 1249), que une mística com o ideal de mulher com vida piedosa, vincula-se ao reconhecimento de sua intervenção na vida humana, como mediadora das graças de Deus, na esfera sacro-divina. 

A manifestação do sagrado4, como modalidade do ser no mundo, foi nomeada de hierofania por Mircea Eliade na obra O sagrado e o profano, na qual ele faz um estudo fenomenológico e histórico dos fatos religiosos. Para Eliade (1907-1986): 

O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano. [...] A partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, uma pedra ou uma árvore – e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade. Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo “de ordem diferente” – de uma realidade que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo “natural”, “profano”. (ELIADE, 2001, p. 17).

O sagrado em suas variadas acepções aparece na literatura monástica, exegética e hagiográfica medieval, nos relatos de visões do além (inferno, purgatório e paraíso), nas aparições de Cristo, de Maria, de anjos, de santos, de demônios, e de espíritos/fantasmas, como “manifestação e de apreensão do transcendente e do sagrado, o qual é um [...] tratamento de veneração e respeito religioso às coisas divinas e santas”, segundo Antonio Maia (MAIA, 1966, p. 183). 

Gervais de Tilbury fez uma distinção entre os conceitos miracula (milagres) e mirabilia (maravilhas ou maravilhosos), que suscitam a admiratio: o estado de maravilhamento por algo novo, raro e inaudito. Para ele, os miracula consistem na suspensão da ordem da natureza pela vontade do Criador (maternidade da Virgem, ressurreição de Lázaro e cura miraculosa), e convida à fé; enquanto que nos mirabilia, o acontecimento causa espanto por não ser conhecida a sua causa, e suscita a curiosidade pela busca de causas naturais ocultas, conforme JeanClaude Schmitt em Os mortos maravilhosos (TILBURY apud SCHMITT, 1999, p. 98). 

Alguns miracula relatam aparições de mortos, que também estão presentes nos mirabilia. Em narrativa e em forma versificada, essas obras reproduzem encontros de pessoas (espíritos corpóreos) com outras sobrenaturais (espíritos incorpóreos), ou de mortos que ressuscitam em seu corpo físico. Esses temas encontram lugar nos exempla dos pregadores, como o jesuíta Vieira, que viveu no século XVII, período no qual era vigente a tradição mariana popular e erudita de raiz medieval.  

2. Gênese, tema e composição do conto eciano: O Sermão XXV de Maria Rosa Mística, do Padre António Vieira (1608-1697) 

Admirável pregador, Padre Vieira revelou sua profunda fé e devoção à Nossa Senhora em cerca de trinta e cinco sermões, publicados em 1686, com um longo título que revela suas profundas experiências pessoais em relação à presença miraculosa da Virgem em sua vida, segundo Jacinto do Prado Coelho: 

Maria Rosa Mystica. Excelllencias, Poderes, e Maravilhas do seu Rosario. Compendiadas em trinta Sermoens Asceticos, e Panegyricos, sobre os dous Evangelhos desta solemnidade, Novo, & Antigo: Offerecidas a Soberana Magestade da mesma Senhora pelo P. Antonio Vieira da Companhia de Jesu da província do Brasil, em comprimento de hum voto feito, & repetido em grandes perigos da vida, de que por sua immensa benignidade, & poderosíssima intercessão sempre sahio livre. (COELHO, 1994, v. 4, p. 1176).

Em um desses textos dedicados à Mãe de Deus, intercessora dos aflitos, de quem recebeu inúmeras graças, Vieira falava sobre o sacramento do Rosário: a oração dedicada à meditação dos mistérios da vida de Jesus e de sua Santíssima Mãe, entoada por meio do deslizar de contas, em formato de rosinhas, como modo de homenagem visual à mulher divina. Na peroração do Sermão XXV foi incluído um tipo de narrativa exemplar mariana, mesclada com elementos de milagre e de mirabilia, em voga desde o início da Idade Média peninsular, sobre os favores celestiais recebidos pelas pessoas que rezavam a oração: “[...] para que conste quantos mais poderosos são os encantos verdadeiros do Rosário, que os fabulosos da arte mágica”. (VIEIRA, 1993, p. 1165). 

O milagre ocorreu no reino de Valença: um jovem e rico fidalgo apaixonou-se por uma dama casada e honesta, a qual nunca percebeu as aproximações. Seu atento marido, entretanto, notou e organizou uma estadia na sua casa no campo, onde, de punhal em punho, exigiu que sua consorte escrevesse uma carta-convite para um encontro íntimo com o rapaz desconhecido por ela. Afoito, ele estava a caminho da cilada fatal, mas se lembrou de que não havia rezado o Rosário, e assim o fez. Ao passar perto de um enforcado-ressuscitado, que implorou, por” piedade cristã”, que cortasse o baraço, pois tinha motivos para acompanhá-lo naquela estranha jornada, o fidalgo ficou apavorado, mas consentiu. Na casa da dama, o enforcado exigiu ser disfarçado com a capa e o chapéu do jovem, e dessa forma avançou rumo à janela, e foi atacado, a punhaladas, pelo marido e seus criados. O cadáver, duas vezes morto, caiu, e durante a fuga relatou ao assombrado moço: 

Eu, senhor [...] sou, e estou tão morto como vós havieis de estar a esta hora, se a Mãe de Deus vos não livrara: e livrou-nos, porque todos os dias rezáveis o seu Rosário. Esta que em mim parece vida, e esta voz, que ouvis, tudo é fantástico: por isso me não mataram com tantas feridas e espadas os inimigos que para a vossa morte estavam emparelhados. Se vós subíreis pela escada, vós havíeis de ser morto; e não só no corpo mas na alma: porque a porta que vos esperava aberta não era só a do jardim senão a do Inferno, donde vos não podiam livrar os passos e tenção que leváveis. Agradeci a vida e a salvação a quem a deveis. (VIEIRA, 1993, p. 1168).  

Depois dessa experiência sobrenatural da intercessão mariana, o jovem fidalgo teve uma experiência interior, com mudanças visíveis de “tão diferente juízo”, como se tivessem passado anos: “[...] porque ele por meio do Rosário tinha encantado a Mãe de Deus, e a Senhora pelo merecimento do mesmo Rosário o tinha transformado e encantado a ele”. Padre Vieira concluiu o Sermão XXV: “[...] aquela alma que tão enfeitiçada andava do amor profano, os feitiços do Rosário a desenfeitiçaram”. (VIEIRA, 1993, p. 1168). Em Vieira e Eça Queirós, Mário Garcia comenta: “Nossa Senhora se deixa enfeitiçar pela devoção verdadeira de um moço enamorado, e enfeitiça, por sua vez, um enforcado, seu instrumento providencial, que salva o moço de cair nas mãos do marido vingativo”. (GARCIA, s.d., p. 494). 

Na peroração do Sermão XXV foi incluído um tipo de narrativa exemplar mariana, mesclada com elementos de milagre e de mirabilia, em voga desde o início da Idade Média, sobre os favores celestiais recebidos pelas pessoas que rezavam a oração meditavam sobre a vida de Maria e de Jesus. Em 1895, Eça reescreveu a narrativa de Vieira no conto, O defunto, que delineia o assombroso encontro de um fidalgo com um morto-vivo, em missão mariana para salvar sua alma. 

3. Resquícios da Idade Média na narrativa eciana 

A Idade Média e seu mundo de miracula e mirabilia estiveram presentes na vida e em parte da obra de José Maria Eça de Queiroz. Em março de 1866, ele cursava o último ano de Direito, em Coimbra, e teve uma inusitada experiência. Em andanças noturnas, um grupo de universitários boêmios parou diante do portal da velha Sé, remanescente da Idade Média, e José Maria invocou o rei Sancho I, e foi surpreendido pelo barulho de “passos precipitados, como de alguém pisando um tabuado oco”. Apesar de todos terem corrido, Eça permaneceu e implorou para que socorressem a “alma penada”. Durante a noite toda, ele permaneceu “cabisbaixo, pálido, tomado intensamente pelo episódio macabro”. Dias mais tarde, surgiu na Gazeta de Portugal, da cidade de Lisboa, o primeiro de seus poemas: Influenciado pelo escritor alemão Heine, Eça escreveu um texto de teor narrativo “[...] em que a morte e a sensualidade se davam lubricamente as mãos”, conforme João Gaspar Simões no Estudo crítico-biográfico (SIMÕES, 1970, p. 16). 

Na primeira fase literária, Eça elaborou obras de fundo panteísta, fantástico e histórico, com a valorização medieval, publicadas em jornais, e depois em Prosas Bárbaras. Na segunda fase, a do RealismoNaturalismo, na qual escreveu O crime do padre Amaro, O primo Basílio, Os Maias, A capital, O Conde de Abranhos e Alves & Cia, a temática do maravilhoso surgiu em O Mandarim e A relíquia. Na terceira fase, a da escrita de A correspondência de Fradique Mendes, A cidade e as serras, e vida de santos, publicadas em Últimas páginas, resquícios medievais reaparecem em relatos de A ilustre casa de Ramires, 

A mariologia e a hagiografia medievais são revisitadas, por Eça em pesquisa de obras como: a Demanda do Santo Graal, a Crónica da Ordem dos Frades Menores, do século XIII; a Vida do Frei Gil de Santarém, escrita no século XIII, e reescrita no século XVI, por André de Resende, entre outros; os Sermões do Padre António Vieira; a Flos Sanctum ou História das Vidas de Christo e sua Santíssima Mãe e dos santos e suas festas, do Padre Diogo do Rosário, publicada, em Lisboa (1513). O escritor tinha um exemplar da mesma, em edição de 1869- 1870, na sua biblioteca (MALEVAL, 2005, p. 563) 

3.1- O milagre de Nossa Senhora do Pilar no conto O defunto

Nos anos 1890, Eça escreveu contos de teor religioso: São Cristóvão (1893), Frei Genebro (1894), São Frei Gil e Santo Onofre, e O defunto (1895), cuja ação se passa no final do século XV, período com ecos espirituais medievais peninsulares. 

Conforme já foi acima mencionado, na peroração do Sermão XXV do Rosário de Maria Rosa Mística, de Vieira, foi incluído um tipo de narrativa exemplar mariana, mesclada com elementos de miracula (milagres) e de mirabilia (maravilhas ou maravilhosos), em voga desde o início da Idade Média peninsular, sobre os favores celestiais recebidos pelas pessoas que rezavam a oração do Rosário. 

O defunto foi incluído no volume de Contos, com organização de Luís de Magalhães: uma publicação póstuma eciana de 1902, que foi transposta para o cinema, pela Radiotelevisão Portuguesa, em 1981. (MATOS, 1993, p. 262). Nessa narrativa eciana, o leitor “[...] depara-se tanto com personagens românticas [...]. Há, ainda, no decorrer do conto, a presença da religiosidade e do sobrenatural, bem como de um humor macabro”, conforme Aparecida F. Sella e Marly de Fátima Biezus em Os processos de retomada no conto O defunto, de Eça de Queirós (SELLA; BIEZUS, 2010, p. 1). 

A religiosidade está presente na narrativa, estruturada em cinco partes, na devoção mariana dos protagonistas –D. Leonor, a esposa cobiçada pelo fidalgo D. Rui-, inclusive na existência do morto ressuscitado, bem como na igreja dedicada à Nossa Senhora do Pilar e na arquitetura sacra urbana e dos arrabaldes. Na periferia da cidade de Segóvia existia a porta de São Mauros, um retábulo dedicado à Virgem das Sete Espadas, e no caminho até Cabril, uma aldeia construída ao redor do mosteiro franciscano e um Calvário perto da ponte romana. 

Em Segóvia, que tinha Nossa Senhora do Pilar, como padroeira da igreja, vivia o idoso e ciumento Senhor de Lara, D. Alonso, esposo da jovem e bela, D. Leonor. No ano de 1474, durante o reinado de Henrique IV de Castela, no qual “toda a Cristandade tão abundante em mercês divinas” foi honrada, D. Rui de Cárdenas, cavaleiro fidalgo e afilhado de Nossa Senhora do Pilar foi morar na casa de seu tio, o mestre em cânones e arcedíago local. Todas as manhãs, à hora da prima, o rapaz ia à igreja, rezava três Ave-Marias e pedia a benção e a graça de sua Madrinha Celestial. Ao anoitecer, à hora da saudação da véspera, ele murmurava uma Salve Rainha. Aos domingos, comprava um ramalhete de flores que espalhava em frente ao altar de Nossa Senhora do Pilar. Em uma ocasião, ele avistou, ajoelhada diante da imagem da Virgem, uma bela moça por quem desenvolveu uma paixão flamejante. O devoto mancebo descobriu, que ela era casada, e por isso, sublimou seus sentimentos: “[...] esperando que o seu coração serenasse e se consolasse, sob a influência d´Aquela que tudo consola e serena”. Compreendeu a sua situação pecaminosa e concluiu: “-Ela não quer, eu não posso: foi um sonho que findou, e Nossa Senhora a ambos nos tenha na sua graça!” (QUEIROZ, s.d., p. 805-806). 

O zeloso marido desconfiou das intenções do fidalgo e aprisionou no solar murado sua esposa, a qual levou mais tarde para Cabril, onde ela rezava o terço com suas aias, todas as noites. Certa vez, a senhora foi interrompida pelo esposo, com punhal na mão, exigindo que escrevesse uma carta- convite a D. Rui com uma proposta indecente de encontro erótico. Desesperada, depois da escrita para o desconhecido, D. Leonor murmurou: “-Oh! Santa Virgem do Pilar, Senhora minha, vela por nós ambos, vela por todos nós!...”. (QUEIROZ, s.d., p. 811). 

No entardecer, o apaixonado e imprudente jovem partiu para o encontro interdito pela moral e pela religião, e sentiu um “medo estranho, o medo daquela felicidade que se acercava e que lhe parecia sobrenatural”, e que se concretizaria “em breve instante, quando ainda se não tivessem apagado diante dos retábulos das almas aqueles lumes devotos?”. Inseguro, seguiu pelo portal de Nossa Senhora, pelo mosteiro franciscano, e pelo Calvário da ponte romana, rumo ao Cerro dos Enforcados: 

[...] sítio de tristeza e de pavor [...] com os seus quatro pilares de pedra, onde se enforcavam os criminosos, e onde seus corpos ficavam balouçados da ventania, ressequidos do sol, até que as cordas apodrecessem e as ossadas caíssem, brancas e limpas da carne pelo bico dos corvos. Por trás do cerro era a lagoa das Donas. A derradeira vez que por lá andara, fora em dia do apóstolo S. Matias, quando o corregedor e as confrarias de caridade e paz, em procissão, iam dar sepultura sagrada às ossadas caídas no chão negro, esburgadas pelas aves. (QUEIROZ, s.d., p. 812 e 813).  

À porta de São Mauros, um mendigo pediu à Nossa Senhora e a todos os Santos, que levasse a D. Rui na “sua santa guarda”. O fidalgo, que tinha se esquecido de rezar e pedir a benção à sua Madrinha do Céu, se ajoelhou diante do altar da imagem da Virgem com o peito traspassado por setes espadas, no convento de São Domingos; ouviu o toque de agonia, tocada por uma sineta, e orou uma Ave Maria pela alma do frei moribundo. Percebeu que: “A Virgem das sete espadas sorria docemente – o toque de agonia não era, pois, de mau presságio”. (QUEIROZ, s.d., p. 814). 

No Cerro dos Enforcados, na noite de lua alta, D. Rui murmurou um Padre-Nosso5 àquelas almas culpadas, e ouviu um lento chamado, repetidas vezes, que pareciam ser de um “demônio errante”, ou de “avisos de além da campa?”. Relutante, após as súplicas do morto, que afirmava ter uma missão divina, o fidalgo cortou as cordas que o prendiam na forca:  

[...] uma face morta [...] uma caveira com uma pele muito colada, e mais amarela que a Lua que nela abatia. Os olhos não tinham movimento nem brilho. Ambos os beiços se lhe arreganhavam num sorriso empedernido. De entre os dentes, muito brancos, surdia uma ponta de língua muito negra. (QUEIROZ, s.d., p. 816). 

Nesse ambiente de terror, no qual D. Rui temia ser vítima de emboscada do diabo, ele questionou ao estranho corpo, se estaria vivo ou morto, e ouviu: “[...] não sei... Quem sabe o que é a vida? Quem sabe o que é a morte? [...]“. O enforcado suplicou ir em sua companhia até Cabril: “[...] não mo negueis. Que eu tenho a receber grande salário, se vos fizer grande serviço!” Apavorado, o fidalgo fez o sinal da Cruz e, novamente, ouviu: “- Senhor, para que me experimentais com esse sinal? Só por ele alcançamos remissão, e eu só dele espero misericórdia”. O cavaleiro compreendeu que aquele corpo falante era “um cadáver reanimado por Deus, para um estranho e encoberto serviço”. No Calvário perto da ponte, o supliciado ajoelhou-se, rezou, profundamente, e bebeu de uma fonte local. (QUEIROZ, s.d., p. 819). 

A cavalo, seguiram até a casa de D. Leonor, onde o enforcado vestiu a capa e o sombreiro de D. Rui, e ao subir pela escada, foi apunhalado por D. Alonso. Em viagem de volta, o cadáver assassinado pediu para ser reenforcado: “[...] por vontade de Deus é, e por vontade d´Aquela que é mais cara a Deus!” O fidalgo mirou o “sinistro e miraculoso companheiro”, e assim o fez. Do alto da forca, ele recomendou: “[...] tudo conteis a Nossa Senhora do Pilar, vossa madrinha, que dela espero grande mercê para a minha alma, por este serviço que, a seu mandado, vos fez o meu corpo”. Na Igreja de Segóvia, ele narrou à sua Divina madrinha a ruim tenção que o levara a Cabril, o socorro que do Céu recebera, e, com quentes lágrimas de arrependimento e gratidão, lhe jurou que nunca mais poria desejo onde houvesse pecado, nem no seu coração daria entrada a pensamento que viesse do Mundo e do Mal”. (QUEIROZ, s.d., p. 820-821). 

D. Alonso de Lara não conseguia encontrar o cadáver de D. Rui, e perplexo, pensava: “Como podia ser coisa tão rara – um corpo mortal sobrevivendo a um ferro [...]”. De volta à cidade de Segóvia, ele ouviu o relato sobre a “fúnebre profanação”: “o maravilhoso horror – o morto que fora morto!...”, e reconheceu sua adaga no peito do enforcado, e sucumbiu ao seu encontro com o sobrenatural, um cadáver reanimado por Deus. (QUEIROZ, s.d., p. 824). 

O afilhado da Virgem Maria, que “escapara miraculosamente à emboscada de Cabril”, conheceu, pessoalmente, a dama de seu coração, a viúva de D. Alonso de Lara. O conto termina com a realização do matrimônio de D. Leonor com D. Rui, na Igreja de Nossa Senhora do Pilar: “Ante esse altar, e de joelhos nessas lajes, foram eles casados pelo bispo de Segóvia, D. Martinho, no Outono do ano da Graça de 1475, sendo já reis de Castela Isabel e Fernando, muito fortes e muito católicos, por quem Deus operou grandes feitos sobre a terra e sobre o mar”. (QUEIROZ, s.d., p. 824-825). O narrador alude, portanto, à expansão marítima espanhola, época de feitos técnicos, políticos, militares e estratégicos, imersa em religiosidade, vinculada ao culto a Nossa Senhora de Pilar, e sua intervenção divina em situações vivenciadas por vivos e por mortos ressuscitados (superstição medieval). 

Conclusão 

Ao lado de temas, como a cavalaria e o franciscanismo, Eça de Queiroz pesquisou obras escritas na Idade Média para organizar o Dicionário de Milagres, e para escrever as hagiografias de São Cristóvão, São Onofre e Santo Frei Gil, bem como a de Galahad, conto inconcluso, sobre o personagem ficcional da Demanda do Santo Graal. 

O autor elaborou O defunto, com base em uma narrativa exemplar, incluída no Sermão XXV de Maria Rosa Mística, de Vieira, com algumas modificações: De Valença para Segóvia; de personagens anônimas para outras nomeadas; de poucos dados sobre a topografia urbana e campestre à detalhada paisagem socioreligiosa com arquitetura dedicada à Virgem Maria, na igreja, e nas redondezas, em ambiência marcada pelo terror da aparição do enforcado ressuscitado, pertence à categoria dos “mortos maravilhosos”. (SCHMITT, 1999, p. 98-112). 

O conto O defunto contém hierofania, ou seja, apresenta uma manifestação da realidade sagrada (Eliade), por meio da intercessão de Nossa Senhora do Pilar para salvar a vida física e espiritual do jovem fidalgo, e a alma do homem enforcado. Por estar, provavelmente, no purgatório, o morto recebeu uma missão da Virgem, que o ressuscitou para participar da jornada do moço apaixonado, e salvá-lo de uma emboscada motivada por um velho e violento marido ciumento, que temia pelo poder de juventude e sedução de D. Rui em relação à sua jovem esposa enclausurada. 

Nessa narrativa, os milagres (miracula) foram proporcionados por Nossa Senhora do Pilar às duas almas perdidas: a do vivo, com planos de pecado contra a castidade e ao matrimônio, um sacramento do Cristianismo-; e a do morto, que deixou a vida terrena com faltas espirituais, sem possibilidade de reparação no além, e no aguardo do Juízo Final. Em ambos os casos, a dádiva da Virgem, que desceu dos céus e amparou os pecadores, se fez presente, em momentos de fatos maravilhosos (mirabilia), na concepção de Tilbury: em atmosfera tétrica, o morto voltou à vida; substituiu D. Rui, no papel de amante em encontro com mulher casada; foi apunhalado várias vezes; continuou “vivo”, mesmo já “morto”, anteriormente, e foi reenforcado (“morto” de novo; “morto maravilhoso” (Tilbury)). 

O fidalgo D. Rui de Cárdenas, afilhado de Nossa Senhora do Pilar, que rezava, diariamente, Ave Maria, Salve Rainha e Padre-Nosso, tinha características de cavaleiro medieval - honradez, castidade, devoção à Nossa Senhora -, como o cavaleiro Galahad, da Demanda do Santo Graal. Íntegro, mas exposto à tentação, ele estava a caminho da perdição, mas foi salvo por outro pecador (o enforcado), que após a missão mariana recebeu perdão pelo seu crime cometido na esfera física e social, pelo qual foi condenado a morrer na forca. 

D. Alonso, marido de D. Leonor, encarnava o mal, pois era vingativo sem causa, já que sua esposa não cometera adultério, e tornou-se assassino do homem que deveria ser D. Rui. A terrível constatação de que apunhalara um defunto, minou sua vida, que acabou de forma trágica na madrugada do dia de louvor a São João. Portanto, seu pecado, conhecido somente por ele, custou-lhe a vida, mesmo sem condenação social e jurídica. 

No conto O defunto, Eça de Queiroz relata, no século XIX, um exempla, de raiz medieval, já utilizado pelo pregador António Vieira, em sermão do século XVII, que reproduz milagres sacramentais, espirituais e místicos, envoltos na presença transcendental de Nossa Senhora do Pilar, representada em imagens no altar e em retábulo, no coração, na devoção pessoal e na fé, como manifestação do sagrado cristão na Península Ibérica. 

Referências

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AFONSO X, O SÁBIO. Cantigas de Santa Maria. Edição de Walter Mettnann. Coimbra: Actas Universitas Conimbrigensis, 1957- 1972. 4 v. v.1. 

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Iconografia

Fig. 1- Dicionário de Milagres, de Eça de Queiroz, 1980, Lello & Irmãos Editores, Porto. Disponível em: https://www.levyleiloeiro.com.br/catalogo.asp?Num=724&Srt=4&pag=5 . Acesso em: 13 mai. 2021. 

Fig. 2- Imagem de Nossa Senhora do Pilar, Catedral -Basílica em Saragoça. Disponível em: http://www.amoranossasenhora.com.br/nossa-senhora-do-pilar-a-virgem-tao-milagrosa-de-saragosa/  

Notas

[1]  A prece católica Ave Maria é composta por duas partes: A primeira é formada por textos do Evangelho de São Lucas (capítulo 2) com a inclusão dos nomes de Maria e de Jesus. A forma conhecida até os dias de hoje apareceu pela primeira vez em um breviário cartucho, do ano de 1563. A segunda parte é invocativa e foi composta pela Igreja, conforme Hugo Schlensinger (SCHLENSIGER, 1995, v. 1, p. 291).    

[2] A obra Cantigas de Santa Maria é uma antologia organizada pelo trovador Afonso, o Sábio, rei de Leão e de Castela, no scriptorium de Toledo, com o objetivo de “trobar pola Sennor onrrada”, a “ Madre de Deus”. O maior cancioneiro lírico-religioso da Idade Média contém 427 cantigas, sete das quais repetidas, com poemas decenais: os de “loor”, e os de “miragres”, sendo de autoria real. As cantigas marianas foram coletadas nas composições originárias de várias regiões da Europa, da Ásia e da África, muitas das quais eram escritas em latim, e foram vertidas para o galego-português. Um dos poemas, El niño judio, tem antecedentes gregos, latinos e franceses: “Esta é como Santa Maria guardou ao filho do judeu que non ardesse, que seu padre deitara no forno”. (AFONSO, v. 1, p. 11).  

[3] Nossa Senhora do Pilar: A difícil conversão da Espanha ao catolicismo ocorreu graças à Aparição da Virgem Maria: “O Apóstolo Santiago esforçava-se e sofria para converter aqueles pagãos endurecidos. Nossa Senhora ainda vivia, e para encorajar o provado Apóstolo, Ela lhe apareceu sobre um pilar na cidade de Cesaraugusta (hoje Zaragoza), dizendo-lhe que no futuro a fé daqueles povos seria profunda e séria. Muito consolado, o Apóstolo continuou seu árduo trabalho, resultando que hoje uma parte considerável da Igreja Católica reza em espanhol. No rigor da linguagem teológica, esta não foi uma aparição, mas uma bilocação (estar em dois locais ao mesmo tempo), pois Nossa Senhora ainda estava nesta Terra”, de acordo com Valdis Grinsteins em As primeiras aparições de Nossa Senhora. Catolicismo (GRINSTEINS, 2005, p. 1). 

[4] Verbete “Sagrado”: “(Lat. Sacratu): o que foi consagrado, separado para Deus, ao serviço da igreja e da religião, como por exemplo, bispo eleito e sagrado; tratamento de veneração e respeito religioso às coisas divinas e santas, como por exemplo, Sagrado Coração de Jesus, Sagradas Escrituras, etc.”. (MAIA, 1966, p. 183). 

[5] A oração Pai Nosso baseia-se em duas tradições: Uma a das Galiléias (Evangelho de Mateus), e a outra, a de Antioquia (Evangelho de Lucas). A invocação a Deus Pai, à moda judaica, contém a formulação de sete petições: as três primeiras evocam o reino de Deu, e expressam anseios (caráter positivo e escatológico); e as quatro últimas estão relacionadas à vida do homem, e são súplicas (caráter negativo e ligado à “condição de sua historicidade eterna”). (SCHLENSIGER, 1995, v. 1, p. 1966).