A Bíblia do Conto da Aia  
The Handmaid’s Tale Bible 

Flávio Schmit* 
*Doutor em Ciências da Religião. Professor do Programa de PósGraduação em Teologia da Faculdades EST. Contato: flavio@est.edu.br. 
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Resumo:

Teóricos e pesquisadores têm argumentado com cada vez mais fundamento que também na literatura “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Este princípio de Lavoisier também se aplica à literatura. Os estudos de recepção de texto estão a evidenciar as relações de intertextualidade que os discursos podem assumir. A Bíblia, como texto sagrado da tradição judaica e cristã, é, ao mesmo tempo, ponto de chegada e de partida. Como ponto de chegada, reúne um universo de referenciais e releituras das culturas do crescente fértil. Como ponto de partida, serve de referência para autores/as que utilizam seus pressupostos, imagens e paradigmas na construção de seus próprios discursos. O livro Conto da Aia se inscreve neste cenário. O presente texto tem como objeto as leituras e releituras que a autora do livro Conto da Aia faz do texto bíblico. O objetivo é destacar como textos podem ser ressignificados. A metodologia segue um percurso bibliográfico. Dentre outros aspectos, a atenção ao livro se justifica pela polêmica que o mesmo tem despertado. O estudo persegue a hipótese que a repercussão atual do livro se deve mais à interpretação do que ao escrito. 

Palavras chave: Bíblia; Conto da Aia; Releituras; Interpretação 

 

Abstract
Theorists and researchers have increasingly argued that also in literature “nothing is created, nothing is lost, everything is transformed”. This Lavoisier principle also applies to literature. Text reception studies are showing the relations of intertextuality that discourses can assume. The Bible, as a sacred text of the Jewish and Christian tradition, is, at the same time, point of arrival and departure. As a point of arrival, it brings together a universe of references and and rereading of the cultures of the fertile crescent. As a starting point, it serves as a reference for authors who use their assumptions, images and paradigms in the construction of their own discourses. The book The Handmaid’s Tale fits into this scenario. The goal is to highlight how texts can be resignified. The present text has as object the readings and rereading that the author of the book The Handmaid’s Tale makes of the biblical text. The goal is to highlight how texts can be resignified. The methodology follows a bibliographic course. Among other aspects, attention to the book is justified by the controversy that the same has activated. The study pursues the hypothesis that the current repercussion of the book is due more to interpretation than to writing. 

Keywords: Bible; The Handmaid’s Tale; Rereading; Interpretation 

Introdução

De tempos em tempos alguns livros ganham notoriedade e destaque. De uma hora para outra parece que todos estão falando da mesma obra e com os mesmos interesses. As diferentes mídias não se cansam de abordar as temáticas nelas despertadas. 

O livro O conto da Aia está no rol de obras da literatura internacional que assumem este papel. Mais do que notoriedade, o livro tem dividido opiniões, desde o mundo acadêmico até leitores menos dados às discussões teóricas. 

Ao colocar em discussão temas sempre atuais e relevantes em qualquer sistema democrático, ainda que ameaçado em sua natureza, Margaret Atwood desafia seus leitores de ontem e de hoje a pensar nos valores, nas conquistas e no padrão civilizatório que uma sociedade é capaz de nutrir ou ignorar. 

Com um enredo que tem como protagonista uma mulher, o livro desperta para resistências e adesões. Ao se deparar com as características autoritárias assumidas pela sociedade onde transcorre a trama, todo um drama social vivido por mulheres em diferentes contextos políticos emerge das profundezas da história da humanidade. 

O presente texto tem o livro Conto da Aia como objeto de estudo. Quer contribuir nas discussões acerca da relação entre Bíblia e a literatura. Está atento aos ecos da Bíblia na cultura literária. Destaca as releituras possíveis e realizadas. 

1. O Livro 

Antes da publicação do livro O conto da Aia, a escritora canadense já havia publicado vários outros livros. A autora tem 16 romances publicados. O primeiro, em 1969, tem por título A mulher Comestível e foi publicado no Brasil pela editora Globo em 1987.Os livros de poesia são 15, contos 10 e 6 livros infantis. A escritora tem ainda 8 livros de não ficção publicados (WIKIPEDIA, 2019, s/p).1 

Margaret Atwood nasceu em 18 de novembro de 1939. Além de escritora, Margaret também é romancista, poetisa, contista, ensaísta e crítica literária reconhecida internacionalmente. 

A autora conta que iniciou a escrita do romance em 1984, ocasião em que morava em Berlim, na então Alemanha Ocidental. O romance se chamava The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia). Nessa época, “lia muita ficção científica, ficção especulativa, utopias e distopias desde meus anos do secundário na década de 1950, mas nunca havia escrito um livro desses”, conta autora. A escritora tinha como uma de suas regras não colocar “nenhum evento no livro que já não tivesse acontecido”. A premissa principal, embora absurda, consistia em dizer que os Estados Unidos haviam “sofrido um golpe que transformou uma antiga democracia liberal em uma ditadura teocrática de mentalidade muito limitada” (ATWOOD, 2017, s/p). 

“No livro, não existem mais a Constituição e o Congresso: a República de Gilead tem como base as raízes puritanas do século XVII, sempre presentes por baixo da América atual que pensamos conhecer” (ATWOOD, 2017, s/p). 

A autora também informa que o nome do romance mudou para O Conto da Aia em homenagem aos Contos de Canterbury, de Chaucer. Em parte, o nome conto também se deve aos contos de fada e ao folclore que também servem de referência. A autora entende que a história que conta comunga de alguma maneira do “inacreditável, do fantástico, como fazem as narrativas daqueles que sobreviveram a acontecimentos traumáticos” (ATWOOD, 2017, s/p). 

Com o passar dos anos, O conto da Aia assumiu muitas formas. Foi traduzido para cerca de quarenta línguas. Foi adaptado para o cinema em 1990. Foi uma ópera e também um balé. Está sendo transformado em uma graphic novel. E em abril de 2017 se tornará uma série de televisão da MGM/Hulu (ATWOOD, 2017, s/p).

1.1 A Publicação  

Este livro da “dama da literatura contemporânea de língua inglesa” (LELIVROSS, 2019, s/p) foi publicado originalmente no Canadá, em inglês, em 1985. Embora seja um livro que já tem uma presença em colégios ingleses, americanos e canadenses, o mesmo somente foi traduzido ao português e publicado pela editora Rocco em 2017. O título original The Handmaid’s Tale na língua portuguesa foi traduzido por O Conto da Aia. O livro tem trezentas e sessenta e oito páginas. 

The Handmaid’s Tale recebeu o primeiro Prêmio Arthur C. Clarke Award em 1987. Também foi nomeado ao Nebula Award de 1986 e ao Prometheus Award de 1987, ambos prêmios de ficção científica. No entanto, Atwood nega a ideia de que The Handmaid’s Tale e Oryx and Crake sejam ficção científica (WIKIPÉDIA, 2019, s/p). 

O Conto da Aia foi uma das grandes vencedoras do Emmy 2017, por conta da série estrelada e produzida por Elisabeth Moss (HELENA, 2019, s/p). 

O livro recebeu uma adaptação para a televisão na elogiadíssima série do serviço de streaming Hulu, estrelada por Elisabeth Moss. A série manteve a “regra” principal de Atwood. Ainda assim, algumas cenas que aparecem na televisão, não estão no livro. Embora não seja parte da trama original, o que acontece na série “já aconteceu na vida real em algum momento e lugar – e, por isso, poderia acontecer novamente”. 

A série da televisão popularizou o livro de Margaret. 

O Conto da Aia também foi transformado em filme, peça de teatro, ópera, audiolivro e dramatização radiofônica. O Conto da Aia é uma distopia escrita por Margaret Atwood em 1984 e publicada em 1985. Deu origem a série “The Handmaid’s Tale”, produzida pelo serviço de streaming “Hulu”, que foi ganhadora do Prêmio Emmy, em 2017, na categoria Série Dramática (STEFENON, 2017, s/p).

No Brasil a série também está disponível no serviço de streaming da emissora da rede Globo de televisão, no catálogo do Globoplay. 

1.2 O Enredo 

A história contada por Margaret Atwood acontece num futuro próximo. O cenário é uma república. Nesta república não existem mais filmes e livros, nem jornais e revistas, pois tudo foi queimado. Neste espaço as universidades também foram extintas. Como ninguém tem direito à defesa nesta república, os advogados também foram eliminados. Da mesma forma, os cidadãos acusados de algum crime foram fuzilados. Outros foram pendurados mortos num muro, para servir de exemplo. Os corpos expostos em praça pública que apodrecem à vista de todos querem sensibilizar os olhares. 

O que mais chama atenção são os crimes de que as pessoas são acusadas. Basta, por exemplo, cantar alguma canção que contenha palavras que tenham sido proibidas pelo regime. Para ser condenado, basta cantar alguma canção que tenha a palavra proibida “liberdade”. 

Um desastre ambiental torna as mulheres estéreis. A protagonista da história é uma mulher de 33 anos de idade. Seu nome é Offred. Offred perde a filha e se torna Aia, uma serva na casa de um poderoso membro do governo. Na casa do “Comandante” ela é uma espécie de escrava sexual, responsável pela reprodução da família. 

Nesta república teocrática de Margaret Atwood, as mulheres são as vítimas preferenciais do sistema. São elas as vítimas sem precedentes. A pressão que paira sobre sua sorte é mais que opressão. As mulheres de Gilead estão divididas em diferentes categorias, de acordo com a função que o Estado lhes atribui. As Marthas, para serem as esposas, aparentemente ocupam um lugar privilegiado, pois são as salvadoras. Além delas, há a categoria das Aias. As aias são uma categoria de mulheres que pertencem ao governo e sua função precípua é procriar. As Aias são as mulheres que sobreviveram férteis depois da catástrofe nuclear que deixou a maioria das mulheres estéreis. Cabe a estas preciosas mulheres férteis, transformadas em aias e confiadas a algum homem casado do alto escalão do exército, entregar seu corpo e fazer sexo até finalmente engravidar. Para estas mulheres, o maior sinal de fracasso passa a ser a menstruação. 

Contudo, a sorte das aias não termina aqui. Quando finalmente engravidam e chegam ao ponto de dar à luz, amamentam seus filhos por algum tempo e depois os mesmos são confiados aos cuidados do casal a quem servem. Depois do período de amamentação da criança, as mulheres são confiadas a outro casal para que o ciclo se reinicie. Por isso, no conto, as mulheres somente são nomeadas a partir do homem a quem pertencem. Por isso, uma mesma aia pode ter vários nomes, de acordo com o homem a quem pertence: Offfred, Ofglen, etc. 

Inicialmente, as mulheres tiveram suas contas bancárias bloqueadas e transferidas para posse de seus maridos, pais ou qualquer homem próximo a elas. Depois, foram todas demitidas de seus empregos, perdendo o direito de trabalhar. Com o decorrer do regime, o direito a ler e a escrever, assim como seus direitos políticos e a própria identidade, também lhes foi vedado. Até que então, as mulheres acusadas de manterem casamentos e/ ou relacionamentos considerados irregulares no período pré – Gilead, ou seja, mulheres divorciadas, casadas com homens divorciados, casadas uma segunda vez, adúlteras, prostitutas ou qualquer que fosse a relação extraconjugal. Todas elas foram levadas aos Centros de Reeducação, destinados a lavagem cerebral, para que se tornassem Aias (STEFENON, 2017, s/p).

A república de Gilead ostenta este nome na atualidade. Por já ter sido Estados Unidos da América, Gilead agora é uma república totalitária. Segundo a narradora, a mudança foi muito rápida. Tudo aconteceu depois que o presidente foi morto a tiros e o congresso metralhado. Os Filhos de Jacó executaram um golpe. Diante da situação, o exército declara estado de emergência. Na época dos acontecimentos, a culpa foi atribuída aos fanáticos islâmicos. 

Embora a televisão insistia em pedir calma e afirmar que tudo estava sob controle, na prática os acontecimentos estavam tomando outro rumo. Afinal, a Constituição foi suspensa, embora a medida fosse anunciada como temporária. 

Segundo o livro, ninguém reagiu aos acontecimentos. Nenhum tumulto foi registrado. Além disso, as pessoas passavam a maior parte do tempo em casa. À noite assistiam televisão na espera de alguma orientação. Este “sentimento generalizado de humilhação nacional também foi um facilitador do golpe fazendo com que a população se deixasse seduzir pelas promessas da ditadura” (LOPES, 2018, s/p). 

Chama atenção que depois das mudanças, já não havia mais inimigo a ser enfrentado. Nem mesmo identificar algum inimigo era possível. 

Com todo este enredo o leitor/a da obra de Margaret Atwood é convidado a refletir sobre temas que estão na ordem do dia da sociedade atual. Direitos civis, liberdade, poder, papeis sociais, organização social, autoridade, relações de poder, fundamentalismo, bem como o sentido do presente e do futuro, estão no horizonte de questões tematizadas no livro. 

E é assim que as coisas acontecem em “O Conto da Aia”. Um dia, a personagem principal tem uma vida comum – estuda, trabalha, tem amigas, bebe e se diverte. No dia seguinte, tudo mudou, e ela não tem direito nenhum. Fugir do país é uma opção, e ela tenta escapar com o marido e a filha, mas é capturada. E quando é pega e separada da família, ela perde até o próprio nome, e passa a ser chamada de Offred (HELENA, 2019, s/p). 

1.3 O Gênero 

As discussões em torno do gênero do livro continuam. A autora afirma que sua obra não é exatamente uma obra de ficção científica. Prefere a definição de ficção especulativa. Margaret distingue uma ficção de outra argumentando que a ficção científica lida com elementos que a humanidade ainda não está em condições de fazer ou alcançar, de uma ou outra forma. Já na ficção especulativa apresenta algo que a humanidade já faz ou tem capacidade de fazer, mesmo que diante de um cenário hipotético. 

Ao jornal The Guardian, ela afirmou preferir que sua obra seja considerada ficção especulativa a ficção científica. “Em ficção científica tem monstro e naves espaciais; ficção especulativa poderia realmente acontecer”. Para ela, a diferença entre ficção científica e especulativa é que a primeira é algo que nós ainda não podemos fazer. E que a segunda, é sobre assuntos que já estão na nossa frente, e que acontecem na Terra (WIKIPÉDIA, 2019, s/p). 

Em entrevista, a autora também já admitiu que o livro O conto de Aia pode ser consideradas ‘ficção científica social’. 

O romance também classificado como uma distopia. 

Uma distopia tem por base uma forma de experimentalismo que isola certas tendências sociais e as exagera para dar visibilidade às suas qualidades mais negativas. Raramente tem a intenção de ser uma predição realista de um futuro provável, por isso não tem sentido criticá-la com base na implausibilidade (CAMPELO, 2003, p.207). 

Como distopia, a história fala de uma sociedade do futuro controlado por um regime autoritário. Por mais hipotético que isso possa parecer, a autora deixa claro que suas intuições têm analogia com eventos ocorridos no passado. Ao dizer “Eu me certifiquei de que todo detalhe horrível no livro, já tivesse acontecido em algum momento, em algum lugar” (STEFENON, 2017, s/p), a autora está afirmando a relação do livro com os acontecimentos que nele são descritos.  

2. O Conto e a Bíblia 

O livro apresenta uma súbita mudança de orientação na sociedade. De um estado democrático, passa-se a um estado teocrático. Neste contexto, a constituição é substituída pela Bíblia. Contudo, não é apenas a substituição que impressiona. O que mais chama atenção é a interpretação deturpada da Bíblia e a forma como o radicalismo religioso é utilizado para justificar a manutenção dos chamados “valores tradicionais da família”. 

O livro dá a entender que a sociedade valida o golpe por já estar saturada de tanta corrupção. Também justifica as atrocidades cometidas em nome de Deus, “resgatando uma ética moral baseada na tríade da culpa, da punição e da salvação” (LOPES, 2018, s/p). 

Ao mudar o nome para Gilead, a nova república dá origem a uma sociedade dividida em castas. A casta dos médicos, homossexuais e padres é perseguida e enforcada em praça pública. Já a casta das mulheres é enfraquecida pela fragmentação de papeis. Além disso, elas passam a viver para servir aos homens. 

O nome hebraico Gileade tem como significado o “monte do testemunho”. Gileade é o nome de uma região montanhosa situado a leste do rio Jordão. Na Bíblia Hebraica também é nome de uma cidade e de várias pessoas. Tudo indica que o nome se deve à cidade existente na região, de quem o monte próximo emprestou o nome. Atualmente a região pertence a Jordânia. No passado, a área compreendia a região entre o lago da Galileia até a extremidade norte do Mar Morto. Ao norte era limitada por Basã, ao sul por Moabe e Amon (Gn 31,21; Dt 3,12-17), (CHAMPLIN, 2018, p.682). 

Na história bíblica Gileade aparece algumas vezes associada à tribo de Gate (Jz 5,17; Nm 32,39; Dt 3,15) e de Manassés. Segundo o livro de Deuteronômio (3,12.17), as tribos de Rúben e Gate tinham interesse nas terras de Gileade por causa das ricas pastagens. 

De acordo com dados arqueológicos, a ocupação na região data do século XXIII a.C, ocasião em que os israelitas adentraram na terra então ocupada por amorreus e moabitas. Os integrantes das tribos de Gate e Manassés receberam o aval de Moisés para ocupar as terras de Gileade, desde que ajudassem as demais tribos a conquistarem as terras a oeste do Jordão (Js 22), (CHAMPLIN, 2018, p.683). 

Durante a época dos juízes, os amonitas assediaram os israelitas em Gileade. Com a liderança de Jefté, essa pressão teve alívio (Jz 11). Também Saul combateu com os amonitas em Jabes Gileade (1 Sm 11). Inclusive o filho de Saul, Is-Bosete, tornou-se rei em Gileade (2 Sm 2.8- 9). O profeta Elias era natural de Gileade (1 Rs 17,1). Gileade também foi incluída no recenseamento realizado por Davi (2 Sm 24,6). 

De acordo com Oseias 6,8, Gileade pode ser entendida como uma cidade. Nesse caso, a palavra do profeta deveria ser entendida como se Oseias quisesse dizer que Gileade era como uma “cidade cheia de iniquidade”. Conforme o profeta Jeremias (Jr 8,22; 46,11; 51,8), em Gileade era produzido um bálsamo. Trata-se de uma substância aromática dotada de propriedades medicinais. Esta goma produzida em Gileade era comercializada (Gn 37,25), (CHAMPLIN, 2018, p.683). 

Na Bíblia três homens recebem o nome de Gileade. O primeiro deles foi o filho de Maquir, filho de Manassés (Nm 26,29.30). A este neto de Manasses é atribuída a fundação do clã de Gileade. Isso explica a pertença da tribo de Manassés aos gileaditas. 

A segunda pessoa a receber o nome de Gileade é o pai de Jefté (Jz 11,1-2). Uma terceira alusão ao nome aprece em 1 Cr 5,14. Trata-se de um “descendente de Gate e ancestral dos gatitas de Basã (CHAMPLIN, 2018, p.683). 

Embora Gileade, como lugar geográfico, ocupe um lugar de destaque nas narrativas patriarcais e tribais, é possível que a inspiração de Margaret para nomear a República de Gilead tenha origem no livro de Jeremias. O profeta fala de Gileade como um lugar para o qual há cura, mas que não buscou se curar (Jr 8,22). 

Na República de Gilead, Margaret Atwood apresenta um governo incapaz de se sustentar por si, razão pela qual apela para o uso da violência e da religião para se legitimar. Neste processo valida a segregação e manutenção dos privilégios da elite. 

Merece destaque que a principal referência bíblica reafirma a posição de dependência da mulher. No livro, a mulher não é uma pessoa plena de direitos, como seria de se esperar numa sociedade justa. Sua posição é de dependência, sempre está em função de algum homem. Inclusive o nome da mulher faz referência ao homem de quem ela depende. Por isso, a preposição inglesa “of” indica dependência “de”. A protagonista Offref é “Do Fred”. 

De alguma maneira, o texto está em diálogo com a narrativa bíblica. Ao tratar da dependência das mulheres dos homens, está em jogo uma realidade que também pode ser constatada na história dos patriarcas e matriarcas (Gn 12-50). No ciclo de Jacó (Gn 27,1-36.43), é narrada a história de Bila, personagem bíblica que é dada a Raquel como serva (ANDIÑACH, 2015, p.81). 

“Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, se não morro. E ela disse: Eis aqui minha serva Bila; coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela” (Gênesis 30,1-3), (BIBLIA, 2013, p.34). 

Margaret também atribui papel de autoridade às mulheres. Esta função é atribuída às Tias. A estas mulheres são permitidos alguns exageros. Na sociedade de Gilead construída por Atwood, cabe às Tias a tarefa de educar e corrigir as Aias. 

As Marthas parecem ser uma referência direta à irmã de Lázaro e Maria, de Betãnia. Marta, no grego, significa senhora. Marta parece nutrir um afeto especial por Jesus. Faz de tudo para lhe proporcionar conforto em sua casa, agradar. 

De acordo com a narrativa de Lucas, Marta convida Jesus para que se hospede em sua casa (Lc 10,38-42). Enquanto Marta está empenhada em proporcionar uma boa acolhida ao hóspede, sua irmã está sentada aos pés de Jesus ouvindo seus ensinamentos. Já cansada dos afazeres, provoca o próprio Jesus ao dizer: “Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha?” E foi além, atrevendo-se a dar ordens ao Mestre: “Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me” (Lc 10,40). Ao que Jesus lhe responde: “Marta! Marta! andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só cousa” (Lc 10,41-42). 

Esta tensão entre Marta e Maria reflete de alguma forma a própria tensão e rivalidade que há entre as Marthas de Margaret Atwood. 

Também é importante para o conjunto da narrativa o papel desempenhado pelas Jezebels. De forma irônica, estas mulheres aparecem como o símbolo da hipocrisia da sociedade que se instala. A estas mulheres cabe o papel de prostitutas licenciadas. Elas representam o ápice da contradição da ideologia que passa a vigorar na república. 

Em maior ou menor grau, todas as facetas femininas são desumanizadas e objetificadas, transformadas em utensílios pelos homens no poder. Nada do que vemos na série, nos parece distante, pelo contrário, percebemos que os direitos daquela sociedade foram tirados aos poucos, dando tempo para que uma nova mentalidade se instalasse (LOPES, 2018, s/p). 

As Jezebels remetem a Jezabel mencionada no livro de Reis. A Jezabel bíblica é filha de Etbaal, rei dos sidônios e mulher de Acabe. A aliança de Acabe com os fenícios desposando Jezabel possibilitou um equilíbrio de poder com os arameus sob Baasa. 

Consta que Jazabel veio para Samaria trazendo consigo sua religião e seus profetas. Em 1 Rs 18 aparece como perseguidora do movimento profético protagonizado por Elias (1 Rs 19,1-2). Foi acusada de ter seduzido Acabe (1 Rs 21,25; 2 Rs 9,22). Cabe a ela a instigação na injustiça perpetrada contra o camponês Nabote. 

Jezabel é apresentada pela narrativa profética como uma mulher estrangeira, sedutora e uma tentação permanente para os adoradores de YHWEH (ABADIA DE MAREDSOUS, 2013, p. 736.). Possivelmente tenha sido este aspecto transgressor que levou Atwood a nomear estas personagens como Jezebels. 

2.1 Pressupostos 

No livro O Conto da Aia, a autora constrói o entendimento de que as pessoas são adaptáveis a qualquer situação, mesmo nas mais adversas. Por mais horrendo e opressivo que um cenário possa ser ou parecer, o livro passa a ideia de que havendo algum tipo de compensação, as pessoas toleram qualquer realidade. Nesse sentido, é possível entender que as mulheres, apesar de estarem completamente a mercê dos homens, dominadas por uma cultura dominada, suportam a condição por serem capazes de exercer certo domínio sobre pessoas que na estrutura hierárquica de Gilead lhes são inferiores. O aparente poder e liberdade sobre e diante das mulheres que trabalham em suas casas e para seus maridos, confere às esposas uma compensação que lhes permite suportar a condição de submissas. Da mesma maneira, as tias, por serem as únicas mulheres autorizadas a ler, faz com que estejam a serviço dos interesses do Estado para doutrinar as aias. 

Outro aspecto as ser destacado no livro diz respeito à linguagem. Atwood trabalha de forma intrigante a função da linguagem como instrumento de poder. Como em toda sociedade hierarquizada, há uma classe que monopoliza o que tem valor e elabora o discurso de acordo com os interesses que alimenta. 

Há palavras que são proibidas, como por exemplo “infértil”. Na hipótese de uma mulher não se encaixar em nenhuma das seis categorias, atribui-se o valor de “não mulher”, sendo esta enviada à morte para trabalhar nas temidas colônias, que são locais com alta incidência de resíduos nucleares. Crianças que nascem com qualquer tipo de deficiência são denominadas “não bebês” e são mortas (HELENA, 2019, s/p). 

“A nova sociedade que é criada, oficialmente República de Gilead, é regida social, cultural, legal e economicamente pela Bíblia Cristã. Ou melhor, por uma visão fundamentalista, literal e androcêntrica da Bíblia” (RODRIGUES, 2017, s/p). 

2.2 Personagens 

O livro é um convite à imaginação. Imagine um lugar onde a vida transcorre normalmente. De repente, tudo muda. De uma hora para outra as regras do jogo são praticamente invertidas. As mulheres, que antes tinham uma vida pública, agora passam a ter seus direitos restringidos. O trabalho que realizavam, já não podem realizar mais. Direitos civis, como o voto, são revogados. O dinheiro e os bens são confiscados. Além disso, são proibidas de ler e passam a viver na dependência dos homens. 

Como já mencionado, as mulheres ocupam lugar privilegiado na narrativa. A protagonista é uma mulher fértil de nome Offred. Neste nome, está oculta outra possibilidade de compreensão: “offered”, também pode denotar uma oferenda religiosa ou uma vítima oferecida em sacrifício. Nesse sentido, as ofertas ou oferendas em forma de mulheres representam os sacrifícios necessários para a existência e reprodução do sistema. Portanto, os papeis sociais alcançam significação religiosa. Tem legitimação teológica. 

Como é dado destaque especial às mulheres, em Gilead cada mulher precisa se vestir de acordo com seu papel social. 

As Esposas usam azul, as Filhas vestem branco. As Tias, que cumprem o papel de educar e vigiar as Aias, vestem marrom. As Marthas, que são inférteis e fazem serviços domésticos, usam verde. As viúvas vestem preto, e as Econoesposas, que são da classe média, vestem roupas coloridas (HELENA, 2019, s/p). 

Estas mulheres são apresentadas em forma de arquétipos femininos: “as Esposas, reduzidas aos cuidados da família; as Marthas, à limpeza e a cozinha; as Aias, mulheres ainda férteis que se tornam procriadoras oficiais do Estado” (LOPES, 2018, s/p). 

As mulheres são divididas em seis categorias: 

(1) Esposa – pertencem ao topo da pirâmide social feminina. São casadas com oficiais de alto nível do governo (comandantes). Sempre vestem-se de azul. 
(2) Filha – são as filhas biológicas ou adotadas dos casais da elite gileadiana. Vestem-se de branco. Esta categoria foi pouco abordada na série. 
(3) Tia – são responsáveis pelo treinamento das aias, que explorarei logo abaixo. Vestem-se de marrom. 
(4) Marta – são mulheres mais velhas responsáveis pelos afazeres domésticos. Usam a cor verde. 
(5) Econoesposa – Vestem-se de azul, verde e vermelho. São casadas com homens das camadas sociais mais baixas. Devem desempenhar as funções de esposa, marta e aia. 
(6) Aia – Mulheres cuja única função social é procriar. Esta categoria abriga as raras mulheres que ainda são férteis. A protagonista do livro é a aia Offred (RODRIGUES, 2017, s/p). 

O contexto bíblico parece mesmo ser a história de Jacó. Conforme a narrativa bíblica, Jacó tem duas esposas, Lia e Raquel. Além disso, tem duas servas, Zilpa e Bila. No conjunto, a história fala de um homem, quatro mulheres e 12 filhos homens, num contexto onde as servas não tem direito de reclamar pelos seus filhos. Embora as servas tivessem dado à luz, os filhos pertencem às esposas. 

2.3 As Instituições 

Dentre as instituições mais destacadas no livro pode-se mencionar o Estado, representado pela República de Gilead; e a família, destacada como célula mater da sociedade teocrática. Nela, temas como nascimento, infertilidade e violência contra mulher são recorrentes. Porém, o que chama atenção não é somente a família em si, mas o formato de família que a história revela. Assim que instalada, a República de Gilead acusa todos os segundos casamentos de adúlteros. O mesmo acontece com todas as uniões realizadas fora da religião oficial do novo regime. 

O modelo de família que se instala com a república não permite e nem admite qualquer forma de organização familiar que não seja a forma padrão instalada pelos homens. Além da eliminação e repressão a qualquer formato “alternativo” de família, o padrão de família oficial na república de Gilead está a serviço dos homens. 

Considerações Finais

Primeiramente há que fazer as devidas distinções. O livro escrito em 1985 é diferente da adaptação feita para o cinema por Haroldo Pinter em 1990 e levado para às telas pela direção de Volker Schlöndorff. Da mesma forma, é diferente do livro a adaptação feita para a televisão na série do serviço de streaming Hulu. Não somente as datas são diferentes. O que mais diferencia é o contexto no qual cada “reedição” do livro é realizada. Nesse sentido, não é possível analisar o livro pelas produções que deu origem (CAMPELO, 2003, p.198). 

Ao responder se o livro é um romance feminista a autora acena com um sim e um não. O livro não quer ser um tratado ideológico onde as mulheres são consideradas anjos e vitimizadas. Postivamente, o livro trata as mulheres como seres humanos, com toda diversidade e variedade de comportamentos e como pessoas importantes e interessantes, pois é isso que caracteriza as mulheres na vida real. Elas não são um apêndice. São sujeitas do processo humano. As mulheres tem pagado um alto preço por darem à luz. Quando se quer dominar uma população, as primeiras a serem atingidas são as mulheres. O tema dos filhos roubados tem inscrição profunda na história da humanidade. “O controle das mulheres e dos bebês tem sido uma característica de cada regime repressor do planeta” (ATWOOD, 2017b, s/p). 

Quanto à questão religiosa abordada no livro, a autora argumenta que não se trata de um livro antirreligioso. O livro de fato trata de um grupo de homens autoritários que toma o poder para restaurar as regras do patriarcado, onde as mulheres passam a ser cerceadas de muitas possibilidades. Este regime se apropria de símbolos bíblicos para lograr seus objetivos. Os trajes simples das mulheres são próprios da iconografia religiosa ocidental. Por isso, “as Esposas vestem o azul da pureza, da Virgem Maria; as Aias vestem vermelho, do sangue do parto, mas também de Maria Madalena”. As mulheres de homens que ocupam o escalão inferior da sociedade vestem roupas listradas. As toucas remetem à embalagem de um produto de limpeza da década de 1940. Regimes totalitários fizeram das roupas uma forma de identificar e controlar as pessoas. Em suma, o livro é “contra o uso da religião como fachada para a tirania” (ATWOOD, 2017b, s/p). 

Para Margaret Atwood está claro que o livro não é uma previsão, pois não é possível prever o futuro. O que ocorre são analogias com fatos e acontecimentos do passado que podem se repetir em maior ou menor grau de identificação em algum presente. A multiplicidade de fios que são tecidos em O Conto da Aia torna impossível pensar numa realidade concreta. Questões como “execuções coletivas, leis suntuárias, queima de livros, o programa Lebensborn da SS e o roubo de filhos por parte dos generais argentinos, a história da escravidão, a história da poligamia americana”, não dizem respeito a previsões, mas a fatos. Ainda assim, mesmo na história registrada por Offred, há um ato de esperança, pois “toda história registrada implica um futuro leitor” (ATWOOD, 2017b, s/p). 

Desta forma, parecem improcedentes as especulações em torno do livro que estabelecem associações entre regimes de governo autoritários, políticas públicas discriminatórias e sociedades hierárquicas e patriarcais da atualidade. Na linha da hipótese perseguida até aqui, há suficiente evidência para afirmar que não é exatamente o livro de Margaret Atwood que permite associações com uma teocracia totalitária fundamentalista cristã de matriz norte americana. Embora, não se possa dizer o mesmo da série que leva seu nome. 

A onda de violação dos direitos humanos, especialmente a situação das mulheres na sociedade atual, não encontra paralelo no modelo totalitário e hierárquico de fanatismo social e religioso inspirado em tradições veterotestamentária como proposto por Margaret Atwood. Ainda assim analogias podem ser estabelecidas. 

Os temores e angústias decorrentes do resultado de pleitos eleitorais que conduzem conservadores, fundamentalistas e extremistas ao poder de Estados democráticos, comprometendo direitos civis, direitos das mulheres, conquistas populares e o próprio futuro do regime encontra mais eco nas produções inspiradas no livro que no livro em si. 

Nem Rússia, com a descriminalização do crime praticado por algum familiar; nem EUA, com o cancelamento dos fundos de planejamento familiar que tira a autonomia das mulheres; nem Temer com o controle fiscal ou Bolsonaro e sua obsessão com discursos de ódio, violência e conservadorismo estão à altura da República de Gilead (LOPES, 2018, s/p). 

O livro O Conto da Aia de Margaret Atwood é uma obra de ficção, ainda que especulativa, que desperta os mais diversos fantasmas que habitam o humano. A interpretação bíblica que faz remete a aspectos do cenário, contexto e personagens que, embora procedentes, não dão conta das possibilidades presentes nas narrativas que lhe dão sustentação.  

Referências

ABADIA DE MAREDSOUS. Centro Informática e Bíblia. Dicionário enciclopédico da Bíblia. São Paulo, SP: Loyola, Paulinas, Paulus, Santo André, SP: Academia Cristã, 2013. 

ANDIÑACH, Pablo R. Introdução hermenêutica ao Antigo Testamento. São Leopoldo, RS: Sinodal, Faculdades EST, 2015. 

ATWOOD, Margaret. O Conto da Aia. São Paulo, Rocco, 2017. 

ATWOOD, Margaret. Margaret Atwood: Haunted by The Handmaid’s Tale (20/01/2012). Disponível em: https://www.theguardian.com/books/2012/ jan/20/handmaids-tale-margaret-atwood. Acesso 30.09.2019. 

ATWOOD, Margaret. Margaret Atwood on What ‘The Handmaid’s Tale’ Means in the Age of Trump (Essay, 10.03.2017a). Disponível em: https://www.nytimes.com/2017/03/10/books/review/margaret-atwood-handmaids- -tale-age-of-trump.html?_r=1. Acesso 30.09.2019. 

ATWOOD, Margaret. Atwood sobre o que significa o Conto da Aia na era Trump. (18.08.2017b) Disponível em: https://www.rocco.com.br/blog/ atwood-sobre-o-que-significa-o-conto-da-aia-na-era-trump/. Acesso 30.09.2019. 

BÍBLIA. Português. Almeida. 2013. SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013. CAMPELO, Eliane. A Visão Distópica de Atwood na Literatura e no Cinema. Interfaces Brasil/Canadá, N.º 3, Vol. 1, Belo Horizonte, p. 197-210, 2003. 

CHAMPLIN, Russell Norman. Novo dicionário bíblico Champlin: completo, prático, exegético, indispensável. São Paulo, SP: Hagnos, 2018. 

HELENA, Lígia. “The Handmaid’s Tale”: motivos para não perder a série no Globoplay (12.02.2019). Disponível em: https://mdemulher. abril.com.br/cultura/the-handmaids-tale-o-conto-da-aia-margaret-atwood/. Acesso 26.09.2019. 

LOPES, Albert Drummond. A Ira de Deus em The Handmaid’s Tale (09.04.2018). Disponível em: https://revistasenso.com. br/2018/04/09/ira-de-deus-em-handmaids-tale/. Acesso 26.09.2019. Margaret Atwood. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_ Atwood#Personagens>. Acesso 26.09.2019. O Conto da Aia – Margaret Atwood. Disponível em: https://www.lelivross.com/o- -conto-da-aia-margaret-atwood/. Acesso 26.09.2019.

RODRIGUES, Douglas. O Conto da Aia, de Margaret Atwood (Resenha) (17.11.2017). Disponível em: https://conversaunilateral. wordpress.com/2017/11/17/o-conto-da-aia-de-margaret-atwood-resenha/. Acesso 26.09.2019. 

STEFENON, Felipe. Resenha. Disponível em: https://www3.unicentro.br/petfisica/2018/10/17/resenha-de-o-conto-da-aia/. Acesso 26.09.2019. 

Notas

[1] Margaret Atwood. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_Atwood#Personagens . Acesso em 26 Set. 2019.