Religião, linguagem e cultura: a propósito dos 10 anos da Revista Teoliterária
Religion, Language, and Culture: Apropos of the 10th Anniversary of Teoliteraria – Journal of Literatures and Theologies     

Breno Martins Campos*
Ceci Maria Costa Baptista Mariani**
Paulo Augusto de Souza Nogueira***

*Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Membro do corpo docente permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião.Contato: brenomartinscampos@gmail.com 
**Doutora em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de Campinas Contato: cecibmariani@gmail.com 
***Doutor em Teologia pela Universidade de Heidelberg (RuprechtKarls). Professor pesquisador da Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Atua como docente e pesquisador na área das Ciências da Religião. Contato: pasn777@gmail.com 

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Resumo:

O Grupo de Pesquisa “Religião, linguagem e cultura” (RELINC) – cadastrado no “Diretório de Grupos de Pesquisa” do CNPq e certificado pela PUC-Campinas – desenvolve pesquisas em franco diálogo com o escopo da Teoliterária, que completa 10 anos de existência. Estudamos as relações entre religião, linguagem e cultura, analisando, por um lado, a polissemia e a possibilidade de recriação de sentidos ilimitados da linguagem em diálogo e tensão com o sagrado; e, por outro lado, procurando compreender as formas de domesticação e submissão da linguagem religiosa a projetos de poder. Nosso artigo se organiza em três seções, ao mesmo tempo, descritivas e analíticas: (1) a apresentação do RELINC para a comunidade que se organiza em torno da Teoliterária; (2) os aspectos epistemológicos envolvidos em nossas pesquisas, com destaque para o diálogo da religião com a arte (especialmente, a literatura e o cinema) e para a mística religiosa como crítica social; e (3) os aspectos bibliométricos do RELINC, referentes ao último quadriênio avaliativo (de acordo com o calendário da CAPES).  

Palavras chave: Linguagem religiosa. Mística. Teologia. RELINC. Teoliterária.  

Abstract

The Research Group “Religion, Language and Culture” – listed in the CNPq Directory of Research Groups and certified by the PUC-Campinas – develops research in dialog with the range of themes of Teoliterária, that completes 10 years of existence. We investigate the relationships among religion, language, and culture, analyzing, on one side, the polyphony of religion and its illimited power of creation of meaning in dialogue and tension with the sacred, and, on the other side, seek to understand its forms of domestication and its submission to power projects. Our article is organized in three sections that are at the same time descriptive and analytic: (1) the presentation of RELINC to the Teoliterária community; (2) epistemological aspects of our research, highlighting the dialogue between religion and the arts (literature and film, in special) and religious mystic as social criticism; and (3) bibliometric data from RELINC, referring to the last four years period of CAPES evaluation.   

Keywords: Religious language. Mystic. Theology. Research Group “Religion, Language and Culture”. Teoliteraria. 

A. Apresentação do grupo de pesquisa  

No “Grupo de Pesquisa: Religião, linguagem e cultura” (RELINC) – cadastrado no “Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil” do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e certificado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) –, entendemos que a linguagem, de forma criativa, estrutura e dá expressão à experiência religiosa, articulando experiências com o sagrado. Em contrapartida, compreendemos também que o discurso religioso, precisamente por ter o potencial de estruturação da experiência, é alvo de ideologias e projetos de poder e dominação que buscam controlar seus múltiplos significados. Por isso mesmo, estudamos a relação entre religião, linguagem e cultura, analisando, por um lado, sua polissemia e possibilidade de recriação de sentidos ilimitados, em diálogo e tensão com o sagrado, e, por outro, procurando entender as formas de domesticação e submissão da linguagem religiosa. 

Com outro nome e também com uma composição diferente da atual, o precursor deste Grupo de Pesquisa (RELINC) foi organizado em meados da primeira década do século XX, dentro de uma política de consolidação da pesquisa e pós-graduação na PUC-Campinas1 . Com a aprovação do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (PPGCR) da PUC-Campinas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e já com a participação do prof. Breno Martins Campos e da profa. Ceci Maria Costa Baptista Mariani, teve início em 2014 a fase do RELINC que vem até os dias de hoje. Em 2020, chegou ao PPGCR da PUC-Campinas, bem como ao RELINC, o prof. Paulo Augusto de Souza Nogueira. 

As repercussões do RELINC – ou suas principais atividades –, tanto no campo acadêmico (pesquisa e ensino) como na sociedade de modo geral (extensão), configuram-se em três eixos interdisciplinares: (1) a poética e a mística, na perspectiva da teopoética e dos estudos do feminino; (2) os discursos fundamentalistas, analisados pelas ciências sociais e da religião; e (3) a polissemia dos textos religiosos na história, por meio da semiótica da cultura e dos estudos discursivos e culturais. De um ponto de vista prático, de acordo com os protocolos próprios do funcionamento da pós-graduação na PUC-Campinas, reúne- -se o RELINC, periodicamente, para debater pesquisas dos professores, pós-doutorandos, mestrandos e de alunos de Iniciação Científica; além disso, também compõem nossa agenda reuniões mais burocráticas e administrativas. Em meio às reuniões, fazemos o esforço de participar nos congressos de nossa área – e também de incentivar a participação de nossos alunos neles –, notadamente, o da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião) e o da ANPTECRE (Associação de Pósgraduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião). 

Estamos convencidos de que a interdisciplinaridade é mais competente para a compreensão das temáticas que caracterizam o RELINC (em toda sua complexidade) do que qualquer disciplina isolada ou hiperespecializada. Assim, procuramos ir ao encontro do que prescreve o “Documento de área – Área 44: Ciências da Religião e Teologia” da CAPES (2021, p. 7): 

A interdisciplinaridade é uma característica constitutiva da área de Ciências da Religião e Teologia. A própria área de avaliação é composta por duas disciplinas distintas. Porém, além disso, cada uma dessas duas disciplinas se constitui como campo em que o diálogo com outras disciplinas e áreas de conhecimento é imprescindível ao seu desenvolvimento teórico-metodológico. 

Localizamos nossa discussão no diálogo criativo entre saberes, por oportuno, fazendo menção a três das oito subáreas pertencentes à “Árvore do conhecimento» em Ciências da Religião e Teologia (CAPES, 2021, p. 3-4), bem como a seus temas correlatos: (1) “Ciência da Religião Aplicada”: “temas associados à diversidade, respeito e tolerância”; (2) “Ciências da Linguagem Religiosa”: “relações entre linguagem religiosa, linguagem artístico-literária e linguagem em geral”; e (3) “Teologia Fundamental-Sistemática”: “Fundamentação da teologia e seu desenvolvimento coerente (sistemático); exposição do dogma (aspecto querigmático)”. 

B. Aspectos epistemológicos

1. Polissemia da linguagem religiosa

1.1 Principais referências teóricas

O dinamismo das linguagens religiosas, seja nos grupos populares na periferia, seja nas artes, apresenta um problema teórico para as ciências da religião. Como entender que os símbolos, as imagens, as narrativas não apenas sobrevivem, mas são ativados em novas composições, de forma que sentidos potenciais nos textos do passado sejam manifestos nas releituras contemporâneas? O que possibilita que um texto religioso seja outro, um novo texto, mesmo quando ainda mantém elementos de sua composição original? E como pode um texto do passado, escrito para sociedades distantes das contemporâneas, fazer sentido a sujeitos de nosso tempo? E ainda, como entender os processos de tradução de textos religiosos em novas mídias, como, por exemplo, na adaptação de um texto escrito a uma imagem, ou dos dois a um filme? De onde vem essa vitalidade dos textos religiosos? Como analisar esses processos criticamente, como parte constituinte da relação entre linguagem e religião? Este é um dos problemas de fundo abordados pelo RELINC. Para dar conta do dinamismo, do poder de transformação e atualização dos símbolos, imagens, rituais e textos religiosos no presente, propomos uma análise das expressões religiosas a partir de um tripé conceitual: complexidade do texto-distância temporal-interferência do leitor. Ainda que a construção desse quadro teórico seja objeto constante de nosso grupo de pesquisa, oferecemos alguns conceitos da semiótica da cultura que nos permitem uma abordagem das dinâmicas e transformações da linguagem religiosa na cultura. 

Iuri Lotman (1922-1933), teórico russo fundador da Escola TártuMoscou de semiótica, oferece-nos conceitos e instrumentos teóricos para a compreensão dos motivos pelos quais os textos da cultura – e entre eles os religiosos – têm potencial de reinterpretação na história. Lotman estava interessado inicialmente na interpretação da obra literária e para ele a poesia é a forma literária mais dotada de polissemia, ou seja, tem um poder infinito de criação e transmissão de mensagens. Um conceito fundamental na obra de Iuri Lotman é o conceito de texto. Texto aqui é entendido como unidade de informação articulada por um sistema de signos2 . Neste sentido, um poema, um salmo, mas também uma imagem, um gesto ou um ritual inteiro podem ser entendidos como textos. 

O fato de os textos serem entendidos como unidade de informação retira deles a aura romântica de portadores de sentidos transcendentes e faz com que possam ser analisados como informação no sistema da cultura. Os textos, segundo Lotman (2000, p. 11-19), têm fundamentalmente três funções. A primeira é transmitir informação. Este objetivo é cumprido principalmente pelos textos de caráter mais técnico, portanto, monossêmico, como no caso de manuais técnicos. Segundo Lotman, há certa resistência da linguagem humana em cumprir esta função puramente referencial, o que nos conduz à segunda função do texto, que é a de criar novas mensagens, ou seja, produzir novos textos. Isto é visto como um problema nas teorias de informação tradicionais, que interpretam alterações como “ruídos”. No entanto, quem recebe uma mensagem tem questões, pressupostos, conhecimentos, interesses diferentes do emissor. Por conseguinte, o texto que ele decodifica é diferente do emitido. Se o ideal de texto na primeira função é o manual técnico de instruções, ou melhor ainda, a linguagem artificial de um computador, o texto ideal no segundo caso é o texto poético, artístico e religioso. Textos complexamente estruturados, ao entrar em contato com seus interlocutores, sejam pessoas ou outros textos, têm o poder de serem transformados em textos diferentes, de gerar novas mensagens. É neles que se encontra o maior grau de polissemia. A polissemia pode ser ainda maior se este texto for dotado de sincretismo estrutural, como no caso da junção de escrita com imagem, ou de canto com dança. A terceira função do texto, por sua vez, é a de preservar informação por meio de memória. Memória no texto da cultura não é preservação de informação pura e simples. Como o texto é complexo e entra em contato com diferentes temporalidades, a memória da cultura é também um dispositivo multiforme. Neste processo, os textos da cultura são símbolos densos que concentram informação, permitindo que todas as suas leituras sejam potencialmente presentes e possam assim ser reativadas e reinterpretadas por leitores de outras temporalidades. 

Mas o que torna o texto algo tão polissêmico e capaz de gerar novas mensagens? Para Lotman (1996), o texto da cultura é constituído por assimetria semiótica e por dupla codificação. Ele é assimétrico porque sempre precisa de um interlocutor, seja no diálogo dos hemisférios cerebrais no monólogo de um indivíduo até os complexos processos de diálogo a que são submetidos os textos na sociedade. E o texto também se constitui em algo sincrético. Ele é no mínimo duplamente codificado: na língua natural (o português, o espanhol, por exemplo) e também na língua da cultura (no sistema religioso, jurídico, artístico, social etc.). A língua natural é, desta forma, emulada pelos sistemas da cultura, de forma que temos o que Lotman chama de sistemas modalizantes de segundo grau, ou seja, sistemas da cultura que dão forma ao que é amorfo, da mesma forma que a língua natural organiza em mundo humano a natureza. Por fim, o texto também é sincrético ao ser composto por diferentes tipos de códigos. Um ritual é composto por gestos e palavras; um poema é composto por sistemas fonéticos, de rimas, de ritmos, de semântica, imagens provenientes de metáforas etc.; um filme é composto por imagens em movimento, música, palavras (se legendado, por palavras escritas). Ou seja, os textos da cultura são compostos por estruturas de organização sígnica que entram em fricção umas com as outras desestabilizando o sentido estabelecido e permitindo novas formas de estruturação e de geração de sentido. A transição no texto do sentido de um subcódigo ao outro (digamos, do texto à imagem, ou vice-versa) requer processos dinâmicos de tradução que potencializam a criação de novas mensagens. No dizer de Lotman: 

[...] o texto se apresenta diante de nós não como a realização de uma mensagem em uma única linguagem qualquer, mas como um complexo dispositivo que guarda códigos variados, capaz de transformar as mensagens recebidas e de gerar novas mensagens, tornando- -se um gerador informacional que possui características de uma pessoa com um intelecto altamente desenvolvido” (1996, p. 84).

Segundo a proposta de Lotman, o texto só pode existir no contato com o interlocutor. Estes interlocutores podem ser textos de outras culturas ou mesmo o leitor, entendido como um texto. Estes, ao entrarem em contato com um dado texto (ou com uma cultura, entendida aqui como uma grande rede de textos), desestabilizam-no e provocam nele explosão de novos sentidos. Nesta perspectiva, quanto mais estranhos e distantes os textos que entram em contato com um texto previamente dado, mais este se desestabiliza e produz novos sentidos. O estranhamento, seja por diferença em relação ao sistema da cultura, seja por distância temporal, é fator que provoca transformações do texto3 . As mudanças ocorridas com a criação de novos textos são percebidas como “desfigurações”. A cultura tem que assimilar estes novos textos por meio de traduções. Se elas não acontecem, o sistema textual (e a cultura é um grande sistema de textos estruturados hierarquicamente) se rompe. Daí a importância das metalinguagens que ajudam a criar diálogo e senso de unidade entre os fragmentos da cultura. Este aspecto da desestabilização da cultura na criação de novas mensagens (decorrente do encontro com textos estranhos a ela) remete-nos ao fato de a ambivalência ser um elemento que favorece a criação de textos e a dinamização da cultura. Por isso Lotman insiste que os processos culturais e históricos são imprevisíveis. Não sabemos como será a cultura no futuro. As variáveis na cultura são imensas, seu dinamismo não pode ser captado pelas teorias. 

Ao ressaltarmos o dinamismo e a polissemia do texto religioso não estamos negando que eles não possam ser manipulados ideologicamente. De fato, esse potencial de constituição de mundo da linguagem religiosa e mitopoética, com suas potencialidades de desestabilização do estabelecido, foi historicamente submetido a processos de controle pelo poder político, econômico e religioso. O que está em jogo é reduzir as possibilidades de inventividade das sociedades humanas, que precisam ser submetidas a mecanismos de controle ideológico rigorosos. Pensemos na forma como religião é controlada na modernidade e, em especial, no capitalismo liberal. Ou ela é institucionalizada e sistematizada, sendo desprovida de seu poder simbólico, ou é adaptada na forma de discursos persuasivos monossêmicos. Em ambos os processos há um questionamento dos elementos mitopoéticos do discurso religioso. Não é à toa que o mito foi atacado e desqualificado não só pelas ciências, mas também no interior das teologias e de seus projetos de demitização. Domesticar os símbolos religiosos e transformá-los em sistemas monossêmicos de transmissão de sentido religioso é uma das pautas prioritárias dos conservadorismos e, em especial, dos fundamentalismos contemporâneos (CAMPOS, 2018). Inversamente, promover as possibilidades de abertura de sentido e de atualização dos textos religiosos na cultura, em suas fronteiras, é uma forma poderosa de desestabilização dos poderes estabelecidos. Reinserir a religião no diálogo com a arte é uma tarefa urgente4 .

1.2 Principais temáticas envolvidas

Para analisarmos a polissemia do texto religioso, escolhemos um campo de estudos muito promissor na área das ciências da religião, que no Brasil ainda é incipiente5 , a saber, religião e cinema. Esse assunto pode ser estudado em muitas perspectivas, que vão desde a estrutura narrativa do filme, passando pelas ideologias representas nele, as experiências dos expectadores, até os aspectos técnicos da organização da imagem. Escolhemos explorar inicialmente a abordagem de Edgar Morin (2014), que nos permite observar certa fusão e sobreposição de funções e características do cinema com a experiência onírica, com a magia e processos psicológicos e imaginários de identificação e projeção. A sétima arte seria assim um espaço para ampliação de nossas experiências e percepções no mundo, muito análogas às percepções dos processos imaginativos, do sonho e até dos estados alterados de consciência. Também aprendemos com Morin, mas mais especificamente com os textos teóricos do diretor de cinema soviético Sergei Eisenstein (2002), que o cinema, mesmo quando tem como missão promover mudanças sociais, revoluções, ou seja, está voltado para o futuro, é determinado por movimentos recursivos, por resgate de estruturas antropológicas arcaicas. 

A partir dessas provocações teóricas, entre outras, analisamos filmes mudos dos anos 20, dentre eles, “A Greve” (1925) e o “Encouraçado Potemkin” (1925), ambos de Eisenstein, e “Metropolis” (1927), de Fritz Lang. Também estudamos outros filmes como “Luz de Inverno” (1963), de Ingmar Bergman e a Festa de Babete (1987), de Gabriel Axel. Estudamos suas narrativas e as suas estruturações em torno a eixos mitopoéticos fundamentais. Nesses filmes, podemos perceber como a complexidade semiótica dos filmes aliada aos elementos antropológicos fundamentais (“pensamento sensorial” no dizer de Eisenstein) promovem novas e inesgotáveis formas de compreensão da religião no expectador nos mais diferentes contextos e temporalidades. 

1.3 Principais publicações

CAMPOS, B. M. A exclusão do outro na história do mesmo: uma tentativa nova de classificar o velho fundamentalismo religioso. Religare: Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da UFPB, v. 15, p. 354-354, 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/religare/issue/view/2243/showToc. Acesso em: 2 jul. 2021. 

MARIANI, C. M. C. B.; CAMPOS, B. M. “Lixo extraordinário”: teologia e arte nos entre-lugares da cultura. In: RIBEIRO, Claudio de Oliveira (Org.). O princípio pluralista em debate. São Paulo: Recriar, 2021. p. 249-268. 

NOGUEIRA, P. A. S. A linguagem do Apocalipse: apontamentos para uma interpretação conectiva e polissêmica. Reflexus: Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, v. 14, p. 637- 656, 2020. Disponível em: http://revista.faculdadeunida.com.br/index.php/ reflexus/article/view/2447. Acesso em: 2 jul. 2021. 

NOGUEIRA, P. A. S. Reescrituras do Cristo: modelos de narração nas origens e além. Teoliterária: Revista Brasileira de Literaturas e Teologias, v. 10, p. 155-177, 2020. Disponível em: https://revistas. pucsp.br/index.php/teoliteraria/article/view/47893. Acesso em: 2 jul. 2021. 

NOGUEIRA, P. A. S. Religião em movimento: interpretação da Bíblia no cinema. Revista Caminhando, v. 26, p. 1-21, jan.-dez. 2021. Disponível em: https://www.profpaulonogueira.com.br/web/wp-content/uploads/2021/05/religiao-em-movimento.pdf. Acesso em: 2 jul. 2021. 

2. Mística, teologia e poesia

2.1 Principais referências teóricas

Mística costuma ser definida como conhecimento experimental de Deus. No entanto, considerando o termo como cunhado nos escritos de Pseudo-Dionísio, o Areopagita (2005), podemos dizer que mística é uma dimensão da teologia. Na sua ousadia de querer se constituir em logia, ciência de Deus, a teologia se depara com a impossibilidade de realizar essa tarefa. Ao lado de sua teologia simbólica e em tensão com ela, por lançar mão de símbolos para articular um discurso sobre Deus, Dionísio escreve um pequeno tratado intitulado Teologia Mística, no qual reflete sobre a inefabilidade do Mistério divino. Este tratado exerce grande influência na tradição teológica cristã. 

Diferentemente da “Teologia Simbólica”, a “Teologia Mística” é um modo de conhecimento de Deus que afirma a inefabilidade da deidade e implica num processo de despojamento. A Teologia Mística é uma teologia negativa, isto é, a descrição de um modo de captar Deus por meio da “remoção”, que é, para Dionísio, um procedimento de negação com a finalidade última de união transformadora pelo amor que é Deus, absolutamente transcendente e totalmente presente em toda a criação. Neste sentido, podemos definir a mística como um tipo de sabedoria de Deus na qual penetram os iniciados que se dispõem a se despojar do próprio saber para se deixarem conduzir para o alto e viver n’Aquele que a tudo transcende, unindo-se ao princípio superdesconhecido segundo o melhor de suas faculdades, mas conhecido além da inteligência. 

Mística é, portanto, palavra que se refere a um conhecimento que se encontra além dos limites da razão e que não tem expressão na linguagem. Refere-se à relação como o Mistério Santo, o “Aonde” e “Donde” da transcendência, que não pode ser possuído em si mesmo, mas que se dá à medida que “se nos apresenta na forma do autosubtrair-se, do silêncio, da distância, do manter-se permanente em sua inexpressividade, de tal sorte que todo falar sobre ele – para que possa ser escutado com sentido – requer se ouça o seu silêncio” (RAHNER, 1984, p. 83). O “Aonde” da transcendência “vem a conscientizar no encontro categorial (no ato de liberdade e de conhecer) com a realidade concreta (que surge precisamente como mundo somente contradistinguindo-se deste Deus enquanto totalmente outro)” (RAHNER, 1984, p.84). Isso significa que Ele se dá à medida que aponta “para a realidade finita como objeto direto do olhar e da ação imediata” (RAHNER, 1984, p.84). Na percepção moderna de Karl Rahner, mística é o encontro com o Mistério Santo, fundamento e horizonte da realidade concreta que se capta pela contemplação e pela ação na relação com a realidade concreta. 

Por conseguinte, podemos afirmar que as narrativas consideradas místicas, isto é, que brotam desse encontro com o Mistério Santo, referem-se a algo que é indizível, buscam descrever o que não pode ser descrito e afirmam conhecer para além das condições de conhecimento. São palavras que brotam de uma fonte para a qual não existe palavra. 

É fato que a linguagem nos constitui e nos determina, mas não absolutamente. A mística sinaliza algo que se opera no sujeito para além das palavras. Reflete a consciência dessa determinação, ao mesmo tempo que é um esforço de despojamento em vista do chamado à vocação para a divinização. Testemunhos considerados místicos, mesmo reconhecendo a insuficiência da linguagem, buscam formas de expressão: torcem e retorcem a linguagem, usam expressões paradoxais, recorrem a metáforas e símbolos. 

Muitos místicos e místicas encontram na poesia condições de expressão do que se capta no silêncio. Como bem explicita Juan Martín Velasco, “essa luta exaustiva dos místicos com as palavras não leva ao naufrágio de sua linguagem. Ao contrário, despertam suas capacidades expressivas e levam ao limite o poder significativo das palavras” (2004, p. 19, tradução nossa). O símbolo é, para Velasco, a palavra fundamental da experiência mística, na medida em que revela e realiza a relação com essa Presença não objetiva que habita a profundidade e possibilita ser. Entretanto, não qualquer símbolo, mas os símbolos que surgem de um impulso vital, sem nenhuma mediação, porém verbalizados com a ajuda da tradição (religiosa ou não) e do contexto, forjados com materiais da vida e suas circunstâncias (VELASCO, 2009). Pela centralidade ocupada pelo símbolo, a linguagem poética tem grande afinidade com a linguagem mística. 

O século XX, com todas as suas transformações, provocou na teologia, uma revolução epistemológica. Como aponta Adolphe Gesché (2003), a teologia, no diálogo com as ciências humanas, toma consciência de que a linguagem é o lugar (topos) onde a realidade se entrega a nós e, por isso, a primeira questão da teologia. As perguntas pelo que o humano experimenta e quer dizer, e como os traços dessa experiência aparecem na linguagem enquanto conhecimento que coloca a pergunta sobre Deus, devem ser o ponto de partida da reflexão teológica. A teologia atual entende que a questão de Deus se coloca no terreno concreto da experiência linguística onde nasceu. O debate contemporâneo sobre o método situa a teologia no campo das ciências hermenêuticas, já que trabalha com textos, mas também porque interpreta a realidade, a presença do Mistério no texto concreto da história viva. 

Também Clodovis Boff, em sua obra Teoria do método teológico (2015, p. 81-85), chama atenção para a dimensão poética da teologia. Para ele, as asserções relativas à revelação são fruto de argumentos derivados da racionalidade “de conveniência” ou “persuasiva” que evidenciam a harmonia entre a lógica divina e a humana. Isso quer dizer que a teologia é, em primeiro lugar, poética, louvor admirado na contemplação da presença e atuação do Mistério no mundo, pois, no âmbito da epistemologia teológica, a razão intuitiva precede a demonstrativa. 

Tendo como referência sua antropologia teológica, Rahner, por sua vez, afirma que o cristão, sendo um ouvinte da Palavra de Deus encarnada na história, deve estar capacitado, exercitado e agraciado para ouvir a palavra poética que é a palavra mediante a qual o mistério se torna presente. Na palavra humana, corpo da Palavra de Deus, pode ocorrer a encarnação da graça, por isso é importante ouvir a palavra humana, buscando escutá-la em profundidade: “Ouvir bem a palavra supõe sempre escutar atentamente indo ao fundo, à mais íntima profundidade de cada palavra, esperando que talvez precisamente aí, ao afirmar o homem e o seu mundo, de repente ela se transforme em palavra de amor infinito” (RAHNER, 1964, p. 460, tradução nossa). 

No contexto dessa reflexão teológica, insere-se a teopoética, campo relativamente novo a ser explorado, que oferece uma grande contribuição para as ciências da religião e teologia. O termo “teopoética” aparece nos anos 70 do século XX e faz parte de um esforço para se resgatar a imaginação poética no âmbito da teologia. Karl-Josef Kuschel, um dos sistematizadores da relação entre teologia e literatura, entende que a literatura colabora com a teologia na apreensão da realidade em sua densidade, e vê a poesia como interlocutora na tarefa de enunciar a irredutibilidade de Deus. Tendo como referência grandes escritores do século XX, afirma que o discurso sobre a transcendência e sobre um Deus transcendente se faz presente na literatura. Mesmo fragmentado e filtrado por críticas, persiste em autores, como Franz Kafka, Rainer Maria Rilke, Herman Hesse e Thomas Mann, “o esforço por alcançar uma forma de afirmação da realidade transcendente que as restrições feitas por uma crítica clássica à religião não puderam simplesmente eliminar” (KUSCHEL, 1991, p. 212). 

Como reflexão teológica sobre a realidade em diálogo com a literatura, a teopoética “conta com a grande contribuição da poesia enquanto discurso que, para além de toda representação pálida, logra ingressar a fundo na realidade, apresentando assim sua colaboração à desbanalização da vida” (KUSCHEL, 1991, p. 210). A literatura, comenta Maria Clara Bingemer, teóloga que tem atuado muito na interface entre teologia e literatura, tende “a converter-se em nova e poderosa mediação hermenêutica para a inteligência da fé” (2016, p. 6). 

No Brasil, a interface entre teologia e literatura ainda é bem recente. De um lado, notamos um desenvolvimento significativo neste campo somente a partir do ano 2000, como indica o levantamento realizado por Antônio Geraldo Cantarela (2014), publicado na revista Horizonte. Antes disso, registra-se produção parca. O livro de Antônio Manzatto, Teologia e literatura, publicado em 1994, representa um marco importante para o contexto brasileiro. De outro, registramos, ainda segundo Cantarela (2014), um crescimento considerável da produção nos últimos anos. 

Não podemos deixar de lembrar de Rubem Alves, teólogo brasileiro que, antes mesmo dos estudos em teopoética ganharem espaço no Brasil, já atuava como um verdadeiro “teopoeta”, pois sua produção teológica foi muito marcada pela linguagem poética. Pode-se dizer que, com ousadia, escolheu a poesia como linguagem privilegiada de sua teologia. Em um longo prefácio à obra Da esperança, Alves escreve: 

Na praia o que se faz não é provar: ciência. 
É gozar: poesia. 
Poesia é o discurso da fruição, da união mística. 
Faço teologia por isto. 
Porque é belo (1987, p. 43). 

Em pesquisas conduzidas por nós, de acordo e em diálogo com a epistemologia e a metodologia adotadas pelo RELINC, temos produzido artigos abordando a relação entre mística e poesia na obra de Rubem Alves, em contraposição ao risco dos fundamentalismos que sempre rondam a religião (CAMPOS; MARIANI, 2015; 2018). Inclusive, nos dias 11 e 12 de março de 2019, na PUC-Campinas, ocorreu o seminário “Enigmas da religião: esperança e libertação na obra de Rubem Alves”, organizado pelo RELINC. Como legado material do evento, foi publicado em 2020 o livro Rubem Alves e as contas de vidro: variações sobre teologia, mística, literatura e ciência (CAMPOS; MARIANI; RIBEIRO, 2020). 

2.2 Principais temáticas desenvolvidas

No RELINC, consideramos que a contribuição feminina para a cultura foi invisibilizada e que o campo da teologia e dos estudos de religião ainda está longe de uma justiça de gênero. A tarefa de dar a palavra a mulheres significa, conforme Maria Fernanda Henriques (2011, p.136- 137), realizar um deslocamento importante, fazer emergir perspectivas teóricas, valorizar o plural, mediante a hegemonia de uma racionalidade que elegeu o neutro, o objetivo, o abstrato e o universal como norma do saber e do ser. A valorização das diferenças e o reconhecimento da riqueza presente na diversidade devem, com certeza, contribuir para a constituição de uma racionalidade aberta e integradora. A filósofa portuguesa propõe tirar partido da razão em crise, ou da razão débil, e fazer uma exploração fina do sentido dessa crise, que indica que o conhecimento é condicionado pela inserção humana na história, sociedade e cultura, e por sua corporeidade. 

Focando a interface entre mística, teologia e poesia, elegemos como objeto privilegiado de estudo o testemunho de três mulheres que representam três aspectos desta inter-relação. No âmbito da mística medieval, destacamos Marguerite Porete (1250-1310), mística e teóloga, considerada por Georgette Epiney-Burgard e Émilie Zum Brum (2007) como uma das trovadoras de Deus, que nos deixou uma obra, Le Mirouer des Simples Ames (1986), a partir da qual é possível captar a dimensão crítica da mística. Adentrado à modernidade, destacamos a obra de duas poetas do século XX, mulheres que revelam dois aspectos diferentes da inter-relação mística-teologia-poesia. Uma é Violeta Parra (1917-1967), artista chilena, cujos trabalhos – canções, poemas, painéis – estão profundamente relacionados com a escuta dos pobres (MARIANI; RIBEIRO; CAMPOS, 2020). Outra é a conhecida poeta portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), cuja poesia contemplativa da natureza grita por uma articulação entre cuidado e justiça. As duas trazem com sua arte elementos do que Johann Baptist Metz (2013) chama de “mística de olhos abertos”, experiência espiritual que nasce de uma “interrupção” provocada pela compaixão. 

A mística feminina medieval, em especial a contida nos textos de beguinas, como explicitado em artigo em parceria com Maria José Caldeira do Amaral e publicado na Revista de Cultura Teológica, intitulado “Mística como crítica: estudo sobre a dimensão crítica da mística nas narrativas de mulheres medievais” (MARIANI; AMARAL, 2015), revela a face crítica da mística. São mulheres, escrevendo em língua vernácula e usando como mediação a poesia trovadoresca, que descrevem e ensinam com a própria experiência que a consciência da própria pequenez, a percepção da relatividade das coisas e a disposição para o despojamento possibilitam o conhecimento do Amor Infinito, que não é regido pela necessidade, mas pela abundância e gratuidade. No contato com esses escritos, concluímos que essas mulheres nos convidam a conhecer a liberdade perfeita que se desdobra do despojamento de tudo. “Ordenadas ao Deus-Amor, [...] essas mulheres assumem uma posição crítica porque têm clareza, por experiência, da relatividade de todas as coisas e trazem à tona a tensão entre espiritualidade profunda e religião” (MARIANI; AMARAL, p. 15, 2015)6

Passando à modernidade, vemos a mística adquirir novos traços. A passagem dessa compreensão mais clássica de mística para uma compreensão de mística (moderna) como uma experiência espiritual de encontro direto com o divino, e que se desdobra em compromisso com a vida, implicou num processo que é preciso ter em conta para não perdermos a densidade do conceito. Interessante lembrar que na perspectiva moderna da primeira ilustração, a mística é entendida como fé no milagre, isto é, fé em que o humano estaria submetido a uma influência do sobrenatural. Assim, a mística levaria necessariamente ao quietismo. 

Na contemporaneidade, entretanto, considerando a crítica da segunda ilustração e as transformações sociais e políticas ocorridas no século XX, a compreensão de mística se transforma. No âmbito da teologia, afirma Metz, uma maior sensibilidade para a importância da histórica impactou a espiritualidade. Uma nova aproximação da Bíblia orientada pelo método histórico-crítico faz ver a face histórica do Cristo da Fé, o Jesus de Nazaré, cujo olhar messiânico não se destina aos pecados dos outros, mas aos seus sofrimentos. Para Metz, a compaixão, enquanto percepção participativa do sofrimento alheio exige a disposição a uma mudança de visão, a disposição para olharmos e avaliarmos a realidade com os olhos dos sofredores e ameaçados. Esse olhar compassivo, afirma o teólogo, deve provocar uma interrupção no ritmo normal da vida e levar a uma conversão. Aquele que se deixa impactar pela compaixão sofre um descentramento. Tem seus interesses e desejos relativizados em vista do sofrimento do outro. Essa dinâmica tem, então, potencial para a interrupção da violência. Espírito e graça se expressam como força de oposição quando a opressão geral das reproduções sociais exige que tudo continue da maneira como está (METZ, 2013, p. 139). A “mística de olhos abertos”, caracterizada por Metz, é uma experiência espiritual que extrapola os limites institucionais, pois, antes de tudo, reconhece e obedece a autoridade da vítima, tem um sentido universal. A partir da experiência de fé latino-americana, a “mística de olhos abertos”, apresenta-se como “espiritualidade da libertação”. Esta face latino-americana da mística será muito bem explicitada por Gustavo Gutiérrez (1987), Pedro Casaldáliga e José Maria Vigil (1993) e Rubem Alves (1984). 

Tendo essas referências teológicas e em diálogo com a literatura, buscamos destacar a relação entre mística, teologia e poesia em duas poetas: Violeta Parra (1917-1967) e Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). A primeira foi uma artista chilena – compositora, cantora e artista plástica –, que deixou como herança uma arte marcada por uma espiritualidade profunda engendrada na sua convivência com os pobres. Com um estilo austero, despojado de artifícios e liberado do estereótipo feminino, caracterizado por sensualidade sedutora, essa artista busca uma comunicação direta com seu público e constrói, a partir de si mesma, uma nova representação de mulher popular. Privilegiando o simples, renúncia aos artifícios e virtuosismos. Sua poesia, marcada por um tom testemunhal, não serve ao entretenimento, seu canto deve ser escutado num “silêncio religioso”. Sai de si pelo impulso da compaixão para reencontrar-se dando voz ao “outro” popular calado ou representado de forma ideológica pelo folclore institucional. Sobre a identificação compassiva com a fragilidade dos pobres (MARIANI; RIBEIRO; CAMPOS, 2020). 

Ainda no contexto de uma mística de olhos abertos, podemos estabelecer a mesma relação entre mística, teologia e poesia na obra poética de Sophia de Mello Breyner Andresen. Fundamentalmente contemplativos, seus poemas são fruto de um olhar que penetra o mundo em sua concretude e encontro, nas fontes onde mora a plenitude. Sophia, assim como Violeta busca simplicidade, tem sede de frugalidade. Em uma espécie de poema inédito encontrado entre seus papéis, podemos ler: “Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa. Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal. [...] Dai-me a claridade daquilo que é exatamente necessário. Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo lixo” (ANDRESEN, 2015, p. 22). O olhar contemplativo que admira e faz admirar a beleza do mundo nos poemas de Sophia, ao mesmo tempo, clama por justiça. A poeta acreditava que a poesia desaliena porque “estabelece a relação inteira do homem consigo próprio, com ou outros, e com a vida, com o mundo e com as coisas” (ANDRESEN, 1977, p. 78). Critica o uso burguês da cultura, que separa o cérebro das mãos, o trabalhador intelectual do manual, enfim, “o homem de si próprio dos outros e da vida” (ANDRESEN, 1977, p. 78). Entende que só uma relação primordial limpa e justa que possibilite o acesso à verdade das coisas promove uma revolução real. A política deve, portanto, servir ao projeto de inteireza da poesia. A poesia é, para ela, revolucionária e a escritora deve participar na revolução (MARIANI, 2020a).  

2.3 Principais publicações  

CAMPOS, B. M.; MARIANI, C. M. C. B. Lições do abismo: reflexões sobre teologia, mística e poesia em Rubem Alves. Estudos Teológicos (Online), v. 58, p. 466-482, 2018. Disponível em: http://periodicos. est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/3106. Acesso em: 2 jul. 2021. 

CAMPOS, B. M.; MARIANI, C. M. C. B.; RIBEIRO, C. O. (Orgs.). Rubem Alves e as contas de vidro: variações sobre teologia, mística, literatura e ciência. São Paulo: Loyola, 2020. 

CAMPOS, B.M.; MARIANI, C. M. C. B. Peter Berger e Rubem Alves: religião como construção social entre a manutenção do mundo e a libertação. Protestantismo em Revista, v. 36, p. 3-20, 2015. Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/view/2396. Acesso em: 2 jul. 2021. 

MARIANI, C. M. C. B. Das fontes ao anseio de justiça: contemplação poética e mística em Sophia de Mello Breyner Andresen. Estudos de Religião, v. 34, n. 3, p. 61-85, 2020a. Disponível em: https://www. metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/ER/article/view/10812. Acesso: 20 jun. 2021. 

MARIANI, C. M. C. B. Mística Medieval. Enciclopédia Digital Theologica Latinoamericana, 2020b. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=2011. Acesso: 20 jun. 2021. MARIANI, C. M. C. B. Mística, teologia e poesia na voz de mulheres: o protagonismo feminino na mística medieval. Revista Pistis & Práxis: Teologia e Pastoral, v. 13, p. 169-188, 2021. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/pistispraxis/article/view/27685. Acesso: 20/06/2021. 

MARIANI, C. M. C. B.; RIBEIRO, C. O.; CAMPOS, B. M. Vozes poéticas na escuta da fragilidade dos pobres: contribuições para uma reflexão teológica sobre a mística em diálogo com a poesia de Violeta Parra. Teoliterária: Revista Brasileira de Literaturas e Teologias, v. 10, p. 372-405, 2020. Disponível em: https://revistas. pucsp.br/index.php/teoliteraria/article/view/47076. Acesso em: 2 jul. 2021. 

MARIANI, C. M.C.B.; AMARAL, M. J. C. Mística como crítica: estudo sobre a dimensão crítica da mística nas narrativas de mulheres medievais. Revista de Cultura Teológica, n. 86, p. 85-107, 2015. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/rct. v0i86.26041. Acesso: 20 jun. 2021. 

C. Aspectos bibliométricos

Conforme já expusemos, na atual composição do RELINC, somos três pesquisadores: profa. dra. Ceci Maria Costa Baptista Mariani, prof. dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira (que chegou à PUC-Campinas e ao Grupo de Pesquisa em fevereiro de 2020) e prof. dr. Breno Martins Campos (líder do Grupo de Pesquisa); além disso, contamos com dois pós-doutorandos, cinco mestrandos e 11 alunos de Iniciação Científica, das seguintes áreas de formação: ciências sociais, filosofia, psicologia e teologia. 

Quanto aos critérios quantitativos, para composição do número final de publicações do RELINC a ser relatado aqui, estabelecemos o critério de somente contar dos produtos que estejam dentro do último quadriênio da CAPES (2017 a 2020) mais o ano corrente (2021), com exceção da produção do prof. dr. Paulo Nogueira, contada a partir de sua chegada à PUC-Campinas e ao RELINC, ou seja, 2020 e 2021. No total, são 38 artigos em periódicos científicos qualificados na área Ciências da Religião e Teologia; sete livros publicados/organizados; e 16 capítulos de livros.  

Referências

ALVES, R. Da esperança. Campinas: Papirus, 1987. 

ALVES, R. O suspiro dos oprimidos. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1984. 

ANDRESEN, S. M. B. O nome das coisas. Lisboa: Moraes Editores, 1977. 

ANDRESEN, S. M. B. Obra poética. Porto: Assírio & Alvim, 2015.

BINGEMER, M. C. L. Teopoética: uma maneira de fazer teologia? Revista Interações – Cultura e Comunidade, vol. 11, n. 19, p. 3-7, 2016. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/ P.1983-2478.2016v11n19p3/9913. Acesso em: 6 jul. 2021. 

BOFF, C. Teoria do método teológico. Petrópolis: Vozes, 2015. CAMPOS, B. M. A exclusão do outro na história do mesmo: uma tentativa nova de classificar o velho fundamentalismo religioso. Religare: Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da UFPB, v. 15, p. 354-354, 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/religare/issue/view/2243/showToc. Acesso em: 2 jul. 2021. 

CAMPOS, B. M.; MARIANI, C. M. C. B. Lições do abismo: reflexões sobre teologia, mística e poesia em Rubem Alves. Estudos Teológicos (Online), v. 58, p. 466-482, 2018. Disponível em: http://periodicos. est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/3106. Acesso em: 2 jul. 2021. 

CAMPOS, B. M.; MARIANI, C. M. C. B.; RIBEIRO, C. O. (Orgs.). Rubem Alves e as contas de vidro: variações sobre teologia, mística, literatura e ciência. São Paulo: Loyola, 2020. CAMPOS, B.M.; MARIANI, C. M. C. B. Peter Berger e Rubem Alves: religião como construção social entre a manutenção do mundo e a libertação. Protestantismo em Revista, v. 36, p. 3-20, 2015. Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/view/2396. Acesso em: 2 jul. 2021. 

CANTARELA, A. G. A pesquisa em teopoética no Brasil: pesquisadores e produção bibliográfica. Horizonte, v. 12, n. 36, p. 1228-1251, out.-dez. 2014. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2014v12n36p1228. Acesso em: 6 jul. 2021. 

CAPES. Documento de área – Área 44: Ciências da Religião e Teologia. Brasília, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/ciencia-religiao-teologia-pdf. Acesso em: 2 jul. 2021. 

CASALDÁLIGA, P.; VIGIL, J. M. Espiritualidade da Libertação. Petrópolis: Vozes, 1993. 

EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. 

ÉPINEY-BURGARD, G.; ZUM BRUM, E. Mujeres trovadoras de Dios: una tradición silenciada de la Europa medieval. Barcelona: Paidós, 2007. GESCHÉ, A. Deus. São Paulo: Paulinas, 2003. 

GUTIÉRREZ, G. Beber do próprio poço: itinerário espiritual de um povo. Petrópolis: Vozes, 1987. 

HENRIQUES, M. F. Filosofia e género: outras narrativas sobre a tradição ocidental. Lisboa: Edições Colibri, 2016. 

KUSCHEL, K. Os escritores e as escrituras: retratos teológico-literários. São Paulo: Loyola, 1999. 

LOTMAN, I. La semiosfera I. Semiotica de la cultura y del texto. Madrid: Ediciones Cátedra, 1996. 

LOTMAN, Yuri. Universe of the Mind. A Semiotic Theory of Culture. Bloomington; Indianapolis: Indiana University Press, 2000. 

MACHADO, Irene. Escola de semiótica: a experiência Tártu-Moscou para o estudo da cultura. Cotia: Ateliê, 2003. 

MANZATTO, A. Teologia e literatura. São Paulo: Loyola, 1994. 

MARIANI, C. M. C. B. Das fontes ao anseio de justiça: contemplação poética e mística em Sophia de Mello Breyner Andresen. Estudos de Religião, v. 34, n. 3, p. 61-85, 2020a. Disponível em: https://www. metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/ER/article/view/10812. Acesso: 20 jun. 2021. 

MARIANI, C. M. C. B. Mística Medieval. Enciclopédia Digital Theologica Latinoamericana, 2020b. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=2011. Acesso: 20 jun. 2021. 

MARIANI, C. M. C. B. Mística, teologia e poesia na voz de mulheres: o protagonismo feminino na mística medieval. Revista Pistis & Práxis: Teologia e Pastoral, v. 13, p. 169-188, 2021. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/pistispraxis/article/view/27685. Acesso: 20/06/2021. 

MARIANI, C. M. C. B.; CAMPOS, B. M. “Lixo extraordinário”: teologia e arte nos entre-lugares da cultura. In: RIBEIRO, Claudio de Oliveira (Org.). O princípio pluralista em debate. São Paulo: Recriar, 2021. p. 249-268. 

MARIANI, C. M. C. B.; RIBEIRO, C. O.; CAMPOS, B. M. Vozes poéticas na escuta da fragilidade dos pobres: contribuições para uma reflexão teológica sobre a mística em diálogo com a poesia de Violeta Parra. Teoliterária: Revista Brasileira de Literaturas e Teologias, v. 10, p. 372-405, 2020. Disponível em: https://revistas. pucsp.br/index.php/teoliteraria/article/view/47076. Acesso em: 2 jul. 2021. 

MARIANI, C. M.C.B.; AMARAL, M. J. C. Mística como crítica: estudo sobre a dimensão crítica da mística nas narrativas de mulheres medievais. Revista de Cultura Teológica, n. 86, p. 85-107, 2015. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/rct. v0i86.26041. Acesso: 20 jun. 2021. 

METZ, J. B.. Mística de olhos abertos. São Paulo: Paulus, 2013. 

MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário: ensaio de antropologia sociológica. São Paulo: É Realizações, 2014. 

PIEPER, Frederico. Religião e Cinema. São Paulo: Fonte Editorial, 2015. PORETE, Marguerite. Marguerite Porete: le mirouer des simples ames. Margaretae Porete: speculum simplicium animarum. Edição de Romana Guarnieri e Paul Verdeyen. Turnholti: Typograph Brepols Editores Pontifich, 1986. [Corpus Christianorum, Continuatio Medievalis, v. LXIX.] 

PSEUDO-DIONÍSIO, o Areopagita. Teologia mística. Rio de Janeiro: Fissus, 2005. 

RAHNER, K. Curso fundamental da fé. São Paulo: Paulus, 1989. 

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VELASCO, J. M. (Org.). La experiência mística: estudio interdisciplinar. Madrid: Ed. Trotta, 2004. 

VELASCO, J. M. El fenómeno místico: estúdio comparado. Madrid: Ed. Trotta, 2009. 

Notas

[1]  Para informações mais detalhadas, cf. a história dos Grupos de Pesquisa na PUCCampinas. Disponível em: https://www.puc-campinas.edu.br/propesq/grupos-de-pesquisa/. Acesso em: 3 jul 2021.  

[2] Irene Machado define o conceito de texto de Lotman como “mecanismo elementar que conjuga sistemas e, com isso, confere unidade pela transformação da experiência em cultura […] a noção de texto não se aplica apenas a mensagens da língua natural, mas a todos os portadores de sentido: cerimônia, obras de arte, peça musical” (2003, p. 168).  

[3] Cf. Lotman (1986, p.61-76), notadamente o ensaio “Para la construcción de una teoria de la interacción de las culturas (el aspecto semiótico)”.      

[4] Como exemplo, cf. recente publicação (capítulo de livro) – “Lixo extraordinário”: teologia e arte nos entre-lugares da cultura” –, ligada às pesquisas de interesse do RELINC (MARIANI; CAMPOS, 2021). 

[5] Há um livro pioneiro, ainda que muito recente, na pesquisa brasileira de Frederico Pieper (2015) e apenas uns poucos artigos em periódicos da área Ciências da Religião e Teologia.   

[6] Sobre o protagonismo de mulheres medievais na tradição mística cristã, podemos conferir o verbete “Mística Medieval”, publicado na Enciclopédia Digital Theologica Latinoamericana (MARIANI, 2020b); e também no artigo “Mística, teologia e poesia na voz de mulheres: o protagonismo feminino na mística medieval” (MARIANI, 2021), fruto do Colóquio Hermenêuticas do Feminino, promovido pelo Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (CITER) e Centro de Estudos de Filosofia (CEFI) da Universidade Católica Portuguesa em parceria com o Centro de Filosofia, Política e Cultura (Práxis) da Universidade de Évora, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC PR) e a Pontifícia Universidade de Campinas (PUC Campinas). Evento que inaugurou uma parceria contínua por meio de participação no “GT - Ecofeminismo e Ecocultura”, coordenado pela Profa. Dra. Maria Clara Bingemer, que integra o Projeto “Casa comum e novas formas de viver interculturalmente”: teologia pública e ecologia da cultura em tempos de pandemia, desenvolvido pelo CITER.