Orison Marden Bandeira de Melo Junior
Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Universidade Federal da Paraíba (UFP). Professor de literatura de língua inglesa do curso de Letras-Inglês no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Contato: orison.junior@ufrn.br
Vanessa Riambau Pinheiro
Doutora na área de Estudos Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, professora adjunta na graduação e na pós-graduação na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Contato: vanessariamabau@gmail.com
Resumo: Apesar de haver, no Brasil, uma discussão ainda escassa sobre as questões queer em África, várias obras literárias buscam representar o ser africano queer na contemporaneidade. Entre elas, está a coletânea de contos Queer Africa 2, em que se encontra “The day he came” de Amatesiro Dore, corpus deste trabalho. Este artigo busca, dessa forma, trazer uma análise do conto pautada na interação entre mundo da arte e mundo da vida, buscando compreender o contexto da homossexualidade na Nigéria, espaço ficcional escolhido por Dore e país onde a homossexualidade é criminalizada, e sua relação com o discurso religioso (pecado), legal (crime) e tradicional (un-Africannes) a partir das vozes, em sua maioria, de intelectuais africanos que se debruçam sobre o tema. Verificou-se que, no conto, o autor, mesmo estabelecendo o mundo ficcional na Nigéria, prioriza o discurso religioso e não a questão legal ou tradicional como a fonte principal dos conflitos vividos pelo protagonista Peter.
Palavras-chave: The day he came; Amatesiro Dore; Literatura africana queer; politização da homossexualidade; teologização da homofobia
Abstract: Despite the still scarce discussion in Brazil on queer issues in Africa, different literary works aim to represent queer Africans today, among which is the short story collection Queer Africa 2, where we find Amatesiro Dore’s “The day he came,” the corpus of this paper. Therefore, we intend to analyze Dore’s short story based on the interaction between the world of art and the world of life, seeking to understand the context of homosexuality in Nigeria, the fictional space chosen by Dore and the country where homosexuality is criminalized, and its relation to discourses of religion (sin), law (crime) and tradition (un-Africannes), based on the voices of mostly African intellectuals who focus on the topic. We concluded that the author, even establishing the fictional world in Nigeria, prioritizes religion discourse over legal or traditional issues as the main source of the conflicts the protagonist Peter lives.
Keywords: The day he came; Amatesiro Dore; queer African literature; politicization of homosexuality; theologization of homophobia
Desde a virada epistêmica ocorrida com os Estudos Culturais no século XX e das consequentes pesquisas sobre pós-colonialismo e decolonialidade, os olhares do Ocidente voltaram-se às produções literárias africanas. Inicialmente, a partir de alguns autores renomados traduzidos para o português como Chinua Achebe e poucos escritores africanos de língua portuguesa publicados no Brasil, como Mia Couto e José Eduardo Agualusa. Com o avanço das pesquisas acadêmicas e o interesse do público em geral por África ocorrido nos últimos anos, felizmente essa linha editorial ganhou força e se expandiu; atualmente, as maiores editoras do país publicam obras de autores africanos, quer sejam traduzidos do inglês e do francês como também os de língua oficial portuguesa. Assim, ao lado de autores consagrados, outros novos e já renomados nomes como Chimamanda Adichie e Ondjaki chegaram ao mercado brasileiro, ao lado de outros menos conhecidos como Taye Selasi, Yaa Gyasi e Sangare Okapi, por exemplo. Nessa mescla de velhos e novos autores, perspectivas da África descolonizada se misturam a tramas diversas, contemplando um vasto repertório de temáticas que são, prioritariamente, de cunho histórico-social.
Entretanto, ainda que a representação literária atual em África contemple debates relevantes à sociedade contemporânea, como a denúncia das desigualdades sociais e a crítica ao patriarcado, o fato é que poucas obras africanas refletem acerca de temas ainda hoje considerados tabus, como a identidade de gênero e a orientação sexual.
Nesse sentido, este artigo busca contribuir com pesquisas que discutem questões voltadas à representação de sexualidades em obras ficcionais africanas. Mais especificamente, terá, como foco, a homossexualidade e a sua relação com a religião e a tradição, temas discutidos por diversos/as pesquisadores/as, quer africanos/as ou não. É por essa razão que o título do artigo (Homossexual: pecador e un-African?) busca aglutinar esse embate, trazendo uma interrogação após os dois substantivos (pecador e un-African) para destacar a existência de tensões em torno da homossexualidade masculina representada no conto escolhido como corpus de análise, a saber, “The day he came” do autor nigeriano Amatesiro Dore. Deixamos o termo un-African em inglês, pois uma tradução do termo como ‘não africano’ não abarca propriamente a complexidade semântica e ideológica da palavra em inglês, cuja negação se faz pelo uso de um prefixo (un-), que, formando uma só palavra, dá ao adjetivo African uma força de oposição e não pertencimento.
“The day he came” é, portanto, o sexto conto de uma coletânea composta por 25 contos e um excerto de uma novela. A coletânea, intitulada Queer Africa 2: New Stories, é a segunda coletânea da série Queer Africa. Ambas as obras Queer Africa e Queer Africa 2 foram organizadas por Karen Martin e Makhosazana Xaba, tendo sido a primeira publicada em 2013 e a segunda, em 2017. Os autores dos contos das duas coletâneas são de vários países do continente africano, quer morem em seus países de nascimento ou não. No caso da coletânea em que está o conto sob análise, os autores são dos seguintes países: África do Sul (nove contos), Quênia (sete contos), Nigéria (seis contos e um excerto de novela), Uganda (dois contos) e Serra Leoa (um conto). Amatesiro Dore, autor de “The day he came”, foi escritor residente da Wole Soyinka Foundation em 2019 e recebeu, em 2016, os prêmios Reimagined Folktale Contest e Saraba Manuscript (Nonfiction). Atualmente mora na Itália como escritor residente do ICORN (International Cities of Refuge Network), uma organização internacional que “oferece abrigo a escritores e artistas em risco, promove a liberdade de expressão, defende os valores democráticos e promove a solidariedade internacional” (ICORN, 2022; tradução nossa)[1].
Ao pontuar o país de origem das/os contistas da coletânea Queer Africa 2, outro elemento não pode ser descartado: a criminalização da homossexualidade em vários países africanos. Discutiremos, de forma breve, essa questão ao longo do artigo, mas é importante esclarecer, nesta introdução, que dos cinco países representados na obra, apenas a África do Sul não criminaliza a homossexualidade em seu país. De fato, segundo Gloppen e Rakner (2020), a sua lei está entre aquelas que mais protegem a comunidade LGBTQIAPN+[2] no mundo. A sua Constituição, no capítulo sobre Direitos (Chapter 2), declara que “The state may not unfairly discriminate directly or indirectly against anyone on one or more grounds, including race, gender, sex, pregnancy, marital status, ethnic or social origin, colour, sexual orientation, age, disability, religion, conscience, belief, culture, language and birth” (1996, p. 6)[3]. Obviamente, como discute Msibi (2011), a homofobia no país é crescente, mesmo em violação à lei, que, explicitamente, inclui a orientação sexual entre as razões pelas quais uma pessoa não pode ser discriminada direta ou indiretamente.
Buscaremos, portanto, por meio de um diálogo entre ‘mundo da vida’ e ‘mundo da arte’, compreender como Dore (2017) hierarquiza a questão legal em relação à religiosa em sua representação da homossexualidade, cujo conflito é apoiado pela tradição que caracteriza o indivíduo homossexual como un-African. Para alcançarmos esse objetivo, traremos, na próxima seção, algumas/alguns autoras/es que nos auxiliarão a compreender não apenas o contexto da obra literária na vida, como as escolhas autorais feitas para dar vida aos conflitos e às vozes por ele orquestrados na obra literária. Passemos, então, à análise contextualizada do conto.
Iniciamos esta seção com um excerto do conto “The day he came”: “But as a man, a full-blooded African man, I object to and take offence at every attempt to abrogate my manhood and circumscribe my sexuality” (DORE, 2017, p. 49)[4]. Há, nesse excerto, a representação de uma arena de vozes conflitantes em torno da sexualidade de Peter, uma das personagens principais do conto. Para que possamos discutir a presença dessa arena, é necessário trazer uma contextualização do excerto e, consequentemente, do conto.
“The day he came” é um conto cujo espaço narrativo é a Nigéria. Narra a história da personagem Larry, que sofre bulling homofóbico por seu companheiro de quarto Michael. No entanto, Larry, filho de um juiz nigeriano, apaixona-se por Michael, que tem um relacionamento com Peter, cujos pais são extremamente religiosos: seu pai é um pastor protestante e sua mãe uma musicista gospel. Larry não aceita o relacionamento entre Peter e Michael, pois além de ser apaixonado por ele, deu-lhe apoio de diferentes formas: deixava-o dirigir seu carro, dava-lhe um quarto para ficar e comida que Michael não tinha dinheiro para comprar. Ao ser rejeitado por Michael, Larry decide ir à casa de Peter para dizer aos seus pais que a sua filha (referindo-se a Peter) devia ficar longe de seu homem (Michael).
Como é possível perceber no enredo, que, para Bakhtin (2015), é aquele que representa as personagens (detentores de vozes e ideólogos) e seus universos ideológicos, há um claro conflito entre três jovens universitários que fazem o curso de direito e desenvolvem relações amorosas. Utilizamos o termo conflito para as experiências vividas pelas personagens, tendo em vista que o autor escolhe a Nigéria como espaço ficcional, ou seja, um país em que a homossexualidade é criminalizada, como será discutido mais à frente, e a religião como fio ideológico condutor desse conflito. Não queremos fazer, aqui, uma relação direta entre mundo representado e mundo que representa; no entanto, sabendo que há uma relação de interação entre eles (BAKHTIN, 2018), faz-se necessário conhecer o contexto de ambos esses mundos.
Dessa forma, precisamos contextualizar o excerto com o qual iniciamos este texto. O enunciado é uma resposta que Peter dá ao ser chamado de “pretty” (bonito/a, lindo/a)[5] por Michael. Ao relacionar “pretty” com afeminação, a personagem busca reivindicar a sua masculinidade. Se atentarmos para a forma usada pelo autor para dar forma a esse conteúdo, vemos, no excerto, a utilização não só da palavra “man” (homem), usada duas vezes no mesmo enunciado, mas também da palavra “manhood” (o estado de ser homem ou a sua masculinidade). Diante disso, a personagem assume o papel ideológico do grupo social que relaciona a homossexualidade com desvio da masculinidade, conformando-se, assim, com a ideologia da masculinidade hegemônica heteronormativa. Segundo Taywaditep (2002), essa ideologia determina que a masculinidade seja um padrão hierárquico, com base no qual homens e masculinidade são superiores a mulheres e feminidade. Dessa forma, aqueles que dominam retêm esse poder para subordinar os que não o têm, como mulheres, homossexuais etc. Além disso, para Connell (1995), em um mesmo grupo social podem ser produzidas diferentes masculinidades; no entanto, a sua forma hegemônica é aquela que agrupa em torno dela e subordina todas as outras. Diante disso, essa ideologia dominante se coloca ou se quer colocar como a única “verdade” a partir da qual todas as outras possibilidades de masculinidades passam a ser percebidas como “não verdade”, como um “desvio” a ser condenado para que as estruturas basilares da masculinidade hegemônica não sejam desestabilizadas.
Volóchinov (2017), ao discorrer sobre a luta de classes, esclarece que a classe dominante “tende a atribuir ao signo ideológico um caráter eterno e superior à luta de classes, apagar ou ocultar o embate das avaliações sociais no seu interior, tornando-o monoacentual” (p. 113). Com base nesse pensamento, é possível também discorrer sobre a ideologia (conteúdo axiológico que preenche o signo ‘masculinidade’) da classe dominante em sociedades heteronormativas patriarcais, segundo a qual a forma “natural” de masculinidade é aquela corroborada por leis e dogmas religiosos que dão à heteronormatividade um “caráter eterno” e superior às diferentes masculinidades que sempre se fizeram presentes na história da humanidade. Para que esse projeto de dominação seja concretizado, é necessário, portanto, que a homossexualidade seja colocada no patamar de “estilo de vida”, “preferência sexual” ou “opção sexual”, ocultando, dessa forma, a sua direta relação com a subjetividade de corpos que não se adéquam a essa ideologia da masculinidade hegemônica. Essa monoacentuação, no entanto, não fica apenas no campo das ideias, no embate ideológico entre grupos sociais ou dentro deles, mas se torna, em vários países do nosso mundo contemporâneo, punição legalizada com penas que variam entre anos de prisão até a morte (cf. Map of Countries that Criminalise LGBT People, 2021).
Voltando ao mundo da arte, Dore cria um mundo ficcional em que diferentes masculinidades são representadas, e a afeminação é colocada em foco de maneira explícita. Peter declara: “I hated being labelled ‘pretty’. It sounded effeminate” (DORE, 2017, p. 48)[6]. Há uma preocupação da personagem em ser rotulada como pertencente ao grupo dos afeminados. Afeminado, para Ramos e Cerqueira-Santos (2020), é o adjetivo “dado aos sujeitos que aparentam ou se comportam de forma a transmitir ‘feminilidade’ para além do que é convencionalmente concebido em um contexto cultural. A afeminação seria uma fuga dos ideais de masculinidade” (p. 167). Essa fuga buscada pela personagem a partir da adoção da ideologia da masculinidade hegemônica – uma adoção paradoxal, já que, como personagem gay, é rechaçado por essa mesma ideologia – é percebida, ainda, na forma como Peter se refere a Larry: “His effemintate gesticulations and wriggling made me squeamish” (DORE, 2017, p. 50)[7]. Há, novamente, o uso do adjetivo afeminado (effemintate) – agora para se referir às gesticulações (gesticulations) e ao andar rebolado (wriggling) de Larry. Essas características que o autor dá a Larry (a partir do olhar de Peter) fazem com que Peter se sinta nauseado (squeamish), o que reforça a sua necessidade de afastar-se daquele corpo afeminado a qualquer custo, pois “aproximar-se do afeminado é expor-se à possibilidade de confundir-se com tal e assim perder patentes de masculinidade” (RAMOS; CERQUEIRA-SANTOS, 2020, p. 167). Segundo Taywaditep (2002), a antiafeminação entre homens gays pode ser decorrente, como apontado anteriormente, da adoção da ideologia da masculinidade hegemônica mesmo na comunidade gay; a misoginia, portanto, herança patriarcal comum na performance do masculino heterossexual, reflete-se também no universo homossexual. Isso leva, segundo Ramos e Cerqueira-Santos (2020, p. 164), a um “processo de legitimação de um modelo de homossexualidade largamente atravessado pela heteronormatividade e seus padrões”. Com base nesse padrão, Peter declara: “Larry was an aberration of my family values” (DORE, 2017, p. 50)[8]. O autor faz escolhas lexicais que são axiologicamente significativas – “aberration” e “family values”. Aberração (quer no inglês ou no português) refere-se a um “desvio [...] do comportamento considerado padrão” (SACCONI, 2010, p. 29). Ideologicamente, essa palavra ‘aberração’ está preenchida, no conto, por valores da masculinidade hegemônica hierarquizada, segundo a qual gays masculinizados se sentem superiores aos gays afeminados (NASCIMENTO, 2012). Além disso, a personagem reivindica os valores da sua família, que, como é claro no conto, é uma família protestante na Nigéria. Esse “padrão” de “família tradicional” – como é usado no Brasil contemporâneo como sinônimo de família heterossexual – é o que busca se posicionar axiologicamente como superior a qualquer outra configuração familiar.
Ao localizar Peter em uma família protestante na Nigéria, o autor estabelece um diálogo direto entre o mundo ficcional e o contexto externo do conto. Retomando a visão de romance de Bakhtin, vale salientar que, para o autor russo, apesar de ser impossível haver uma fusão entre o mundo da arte e o mundo da vida, “eles estão indissoluvelmente ligados um ao outro e se encontram em constante interação” (BAKHTIN, 2018, p. 231), que proporciona um enriquecimento mútuo entre eles, pois “[a] obra e o mundo nela representado entram no mundo real e o enriquecem, e o mundo real entra na obra e no mundo representado tanto no processo de sua criação como no processo de sua vida subsequente, numa renovação permanente pela recepção criadora [...]” (BAKHTIN, 2018, p. 231). Com base nessa interação, portanto, é necessário entender a localização do conto na Nigéria e a relação que se estabelece entre a homossexualidade e a sua caracterização como un-African. Aliás, conforme percebido no excerto que abre este artigo, ao reivindicar a sua masculinidade, Peter reivindica, também, a sua africanidade ao dizer ser um “full-blooded African man” (homem de sangue puramente africano).
Para entendermos essa reivindicação, alguns estudiosos podem nos auxiliar. Entre eles estão Gloppen e Rakner (2020), segundo os quais políticos e líderes religiosos em alguns países do continente africano declaram que a homossexualidade é un-African, pois teria sido levada ao continente pelo ocidente, ou mais especificamente, por ativistas gays internacionais. Para os autores, há uma politização em torno do debate sobre a homossexualidade em África que o leva a ser visto como uma ameaça não só à moralidade pública, mas também aos valores africanos, à integridade e à soberania de cada nação. Aliada a essa politização, encontram-se, segundo os autores, as igrejas protestantes que buscam promover um projeto político para a construção de nações cristãs, pautadas nos valores institucionais que colocam a homossexualidade à margem, ao “mundo do pecado”, à “iniquidade”. Como exemplo dessa rejeição, lemos, em uma notícia publicada no jornal nigeriano The Nation no dia 28 de fevereiro de 2021, a declaração sobre o tema por Henry Ndukuba, arcebispo da Igreja da Nigéria (Comunhão Anglicana): “The Church of Nigeria affirms its total rejection of homosexuality, and will surely stand to defend the truth of the gospel based on the injunctions and ethical principles of the Holy Bible”[9]. Várias palavras dessa declaração saltam aos olhos, como “rejection” (rejeição), “truth of the gospel” (a verdade do evangelho), “ethical principles of the Holy Bible” (princípios éticos da Bíblica Sagrada). Ao trazer a sua visão da bíblia como um livro sagrado que prega uma verdade absoluta composta por princípios éticos, o arcebispo traz à tona não só a politização da homossexualidade, mas a teologização da homofobia. É a partir dessa teologização que, segundo van Klinken e Chitando (2016), líderes políticos usam uma retórica bíblica para descrever a homossexualidade e os direitos civis da população LGBTQIAPN+ como uma ameaça moral aos seus países.
Mutua (2011), ao discutir se, ao ser gay, a pessoa seria un-African, declara que há uma falta de consistência nesse discurso homofóbico religioso, pois ataca a homossexualidade como “estrangeira”, mas abraça o cristianismo como autêntico. Para o autor, quando o ex-presidente do Zimbabwe Robert Mungabe, por exemplo, declarou que pessoas homossexuais são pecadoras, ele correlacionou o pecado não a um deus africano, mas ao deus cristão, imposto como parte do projeto colonizador europeu: “That particular God came to Africa to pave the way for colonialists and to pacify Africans for domination by European colonial powers” (MUTUA, 2011, p. 460)[10]. Nesse sentido, para o autor, a inconsistência de Mungabe está no fato de que ele usa uma religião estrangeira (o cristianismo), falando uma língua estrangeira (o inglês), para declarar que a homossexualidade é un-African. Para van Klinken e Chitando (2016), o uso desse tipo de argumento por líderes políticos e religiosos não é convincente, pois usam um livro chamado sagrado de uma religião levada por missionários ocidentais para declarar que a homossexualidade é inaceitável em África por ser uma invenção do ocidente. Essa contradição também é denunciada por Msibi (2011), quando afirma que: “[...] if the intention is to rid Africa of Western impositions, then Christianity and Western laws cannot rationally be used to justify the rejection of homossexual acts” (p. 69)[11].
Essa discussão toma, também, outros contornos. Por exemplo, para Ratele (2011), ao dizerem que a homossexualidade não é africana, os defensores dessa tese reivindicam que a identidade de gays africanos seria marginal, se comparada à identidade de gays de outras partes do mundo. Nesse sentido, o autor declara que “There is nothing particularly different about Africans, nothing that essentially distinguishes them from Americans, Asians, Europeans and any other group of human beings except their historical and contemporary social conditions” (RATELE, 2011, p. 412)[12]. Para outros autores, como Namwase, Jjuuko e Nyarango (2017), a afirmação de que a homossexualidade é un-African advém de uma perspectiva não esclarecida a respeito do que é, de fato, a homossexualidade, bem como do desconhecimento sobre fatos históricos sobre a homossexualidade em África – inclusive no período anterior à colonização europeia. Nessa esteira, Ambani (2017) traça uma perspectiva histórica da “regulamentação” da homossexualidade e declara que, em vários grupos autóctones no período pré-colonial, a homossexualidade era sancionada de forma silenciosa. Para ele, apesar de as sociedades tradicionais africanas preferirem relações heterossexuais que levassem ao casamento e à procriação, a evidência histórica aponta que, mesmo no período pré-colonial, a homossexualidade era permitida em várias instâncias e que relações entre pessoas do mesmo sexo existiam em várias sociedades autóctones. Nessa esteira, Msibi (2011) discute a presença do “desejo entre pessoas do mesmo sexo” (termo que ele usa para substituir o termo “homossexualidade”) em vários grupos em diferentes países, como Nigéria, Uganda, Malawi e Senegal. Para Msibi (2011) e Ambani (2017), portanto, as relações homossexuais não são un-African, pois elas sempre estiveram presentes; o que seria “ocidental”, para eles, seria a concepção de que a homossexualidade é uma identidade e não apenas uma conduta. Já para Mutua (2009), não há como separar a homossexualidade de identidade, pois como “identidade” se refere ao “estado de ser”, o conceito inclui, também, a orientação sexual de um indivíduo. Para o autor, o que foi importado não foi a relação entre homossexualidade e identidade, mas a homofobia que pode ser localizada no Cristianismo e no Islamismo, “[...] the two religious traditions that express homofobia in their doctrinal teachings” (MUTUA, 2009)[13]. Nesse sentido, Msibi (2011) declara que ambas as religiões se utilizam de Deus como um instrumento para silenciar as práticas homossexuais autóctones.
Nesse sentido, é imprescindível reconhecer o papel da religião protestante conservadora no processo de teologização da homofobia. Vários autores se debruçam sobre a relação entre homossexualidade e religião; entre eles, gostaríamos de destacar Wilcox (2003), para quem em discursos religiosos há uma universalização da heterossexualidade a partir da qual todas as pessoas são heterossexuais por natureza, sendo a homossexualidade, portanto, um desvio “não natural” desse padrão. Já DeRogatis (2003), ao discutir especificamente a relação entre protestantismo e sexualidade, afirma que, para igrejas protestantes conservadoras, ao fugirem do “padrão” pré-estabelecido (heteronormativo patriarcal), homens e mulheres “escolhem” um estilo de vida contrário à natureza; dessa forma, por ser um comportamento (e não uma subjetividade), pessoas não heterossexuais são colocadas à margem da “graça” por elas pregada.
Outro exemplo da teologização da homofobia em África é dado por Benyah (2019), que, ao discorrer sobre o papel do pentecostalismo na discriminação contra homossexuais em Gana, outra ex-colônia britânica que criminaliza a homossexualidade, explica que, para os pentecostais, tanto a homossexualidade quanto o casamento entre pessoas do mesmo sexo são considerados demoníacos, o que levou o GPCC [Ghana Pentecostal and Charismatic Council (Conselho Carismático e Pentecostal de Gana)] à organização de um evento de três dias de oração e jejum (30 de junho a 02 de julho de 2018) contra as forças demoníacas da homossexualidade[14]. Ainda no mesmo país, mais recentemente, conforme o site Sahara Reporters (2021), a National Coalition for Proper Human Sexual Rights and Family Values (Coalisão Nacional para Direitos Humanos Sexuais e Valores Familiares Apropriados), um coalisão formada por líderes cristãos, muçulmanos e de religiões tradicionais que se opõem aos direitos da comunidade LGBTQIAPN+ e defendem os valores da “família tradicional”, organizou um dia de orações, o dia 21 de março de 2021. O tema para o dia (1 Day National Prayer Rally on LGBTQI+) foi “Homosexuality: a detestable sin to God” (Homossexuality: um pecado detestável a Deus)[15].
Voltando ao conto, Dore cria um contexto em que a relação de Peter com a sua sexualidade é eivada de conflitos que decorrem da sua relação com a religião protestante. Por exemplo, no enredo, após a relação sexual entre Peter e Michael, Peter materializa, na sua fala, esse embate: “I imagined the trumpets announcing the return of Christ and it brought me to my knees behind the car” e “I was sorry but I wanted to do it again. In fact I wanted to stay with Michael till the kingdom come” (p. 49)[16]. Como é possível perceber, o discurso bíblico do retorno do Cristo (“the return of Christ”) é aquele que vem à mente da personagem, fazendo com que ela caia de joelhos (“brought me to my knees”) como símbolo de arrependimento. Esse discurso é encontrado no Evangelho chamado Mateus: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem [...]. E ele enviará seus anjos com a grande trombeta, e, dos quatro ventos, de uma extremidade dos céus à outra, eles reunirão seus eleitos” (MATEUS, 1994, p. 1906). Dore (2017) se utiliza, portanto, do discurso bíblico para mostrar que a fonte do conflito da personagem Peter tem um nome, a saber, a bíblia. Como o discurso bíblico se mostra como discurso autoritário [nas palavras de Bakhtin (2015), aquele que não se submete a um jogo criativo pelos seus usuários], não há como Peter ajustá-lo às suas necessidades – ele pode aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas não modificá-lo de forma criativa de acordo com a sua conveniência. Entretanto, o autor quer evidenciar essa arena discursiva ao trazer, no mesmo parágrafo, tanto a sua afirmação de arrependimento (“I was sorry”), quanto a sua decisão de ficar com Michael até a vinda do reino (“till the kingdom come”), ou seja, até o retorno do Cristo.
É possível perceber, portanto, que o conto, enquanto obra de arte criativa, interage com a vida ao representar os conflitos que pessoas, na vida, travam diante de discursos quer seja da tradição (ao dizer que a homossexualidade é un-African), quer da religião (ao classificar os homossexuais como pecadores destituídos da graça do deus cristão). Além disso, ainda em relação à Nigéria, vale destacar, mesmo de forma breve, que o país é um dos que criminalizam a homossexualidade no continente africano. Segundo a página Map of Countries that Criminalise LGBT People (2021), há 29 países africanos que criminalizam, de alguma forma, a homossexualidade. Em relação às ex-colônias britânicas (o que é o caso da Nigéria), Gloppen e Rakner (2020) esclarecem que, a partir de 1860, o Império Britânico instituiu o Indian Penal Code [Código Penal da Índia] – IPC ao longo de suas colônias. Esse fato também é discutido por Han e O’Mahoney (2014), segundo os quais o colonialismo britânico foi particularmente danoso aos direitos LGBT em suas colônias ao usar a seção 377 do IPC[17], que criminalizava as relações sexuais entre homens chamadas de “unnatural offenses” (ofensas não naturais). A punição para tais crimes variava desde dez anos de prisão até prisão perpétua. A grande questão para Ambani (2017) é que, de forma geral, a maioria das ex-colônias manteve os códigos penais trazidos pelo império britânico depois de sua independência; no entanto, houve aqueles países que, além de conservarem essas leis, procuraram intensificá-las com as suas próprias, como é o caso de Quênia, Nigéria e Uganda[18]. É o que Ambani (2017) chama de “second wave of criminalization of homosexuality” [segunda onda de criminalização da homossexualidade (p. 16)]. No caso específico da Nigéria, o capítulo 21, artigo 214 do Criminal Code Act de 1990, a relação carnal “contra a natureza” (“against the order of nature”) é punida com 14 anos de prisão. Já o artigo 217 pune com três anos qualquer homem que cometa ou tente cometer atos de “indecência flagrante” (“gross indecency”) com outro homem, pública ou privadamente. Ademais, em 2013 foi sancionado o decreto chamado Same Sex Marriage (Prohibition) Act. Segundo esse decreto, somente casamentos heterossexuais seriam reconhecidos no país. As uniões civis proibidas a casais homossexuais se referem a qualquer tipo de relacionamento – estável ou não –, e a punição pode chegar a 14 anos de prisão. Dessa forma, esse decreto ratifica o Criminal Code Act e amplia a sua abrangência, já que ele inclui a proibição de qualquer registro, operação ou participação de organizações LGBTQIA+ e de demonstração de relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo com até dez anos de prisão. O rigor com o qual os direitos LGBTQIAPN+ são tratados é discutido por Olaoluwa (2018), segundo o qual essa postura proibitiva do governo nigeriano se apoia em discursos sociais que derivam da trama homofóbica da religião. Van Klinken e Chitando (2016) denunciam a contradição dessas leis que mantiveram o código penal imposto pelos colonizadores, pois elas ironicamente dizem defender os valores africanos quando, de fato, refletem “[...] the Victorian values of a nineteenth-century colonial Christianity” (p. 3)[19].
Vale esclarecer que “The day he came” não representa, de forma direta, o conflito das personagens com as questões legais da Nigéria, o espaço escolhido pelo autor para a sua criação artística. No entanto, esse conflito não deixa de estar no background, já que os protagonistas são alunos de Direito e, consequentemente, não devem ser ignorantes das leis do país. Mesmo assim, o autor escolhe tornar o centro do conflito a relação que Peter tem com a sua religião, fazendo não só que ele escondesse a sua sexualidade de seus pais protestantes, como, individualmente, questionasse a sua homossexualidade. Nessa criação artística, Dore parece querer hierarquizar os dois elementos antagônicos à homossexualidade, ou seja, a religião e a lei anti-gay na Nigéria, colocando a religião num patamar de maior relevância para o conflito, já que, doutra forma, a própria construção da personagem Larry poderia tomar outros contornos, pois é filho de um juiz em um país que criminaliza a homossexualidade. No entanto, o autor escolhe que Larry seja abertamente gay, sendo o que vai à casa dos pais de Peter para dar-lhes um aviso: “[...] I’m warning you for the last time. Warn your daughter, Peter, to leave my man alone or this world will not contain all of us” (DORE, 2017, p. 58)[20]. É curioso notar o uso repetido que o autor faz do verbo “warn”: tanto é um aviso (ameaçador) aos pais do Peter – vale relembrar que o pai é pastor e a mãe é uma musicista gospel – quanto ao próprio Peter, pois se ele não “deixasse o seu homem em paz” (“leave my man alone”), não haveria espaço no mundo para todos eles (“this world will not contain all of us”). A (re)ação dos pais não é apresentada pelo autor, que apenas introduz, por meio do narrador, o pensamento deles, quando imaginam Peter na cama com um homem [“[...] they imagined Peter in bed with a man” (DORE, 2017, p. 58)][21]. Após esse enunciado, o autor escreve “The end” [O fim]. O conto, de fato, termina, mas os sentidos e os discursos por ele produzidos permanecem na mente do leitor, que, segundo Bakhtin (2017, p. 36), é um cocriador, já que a “interpretação criadora continua a criação, multiplica a riqueza artística da humanidade”. Essas possibilidades de sentido que são produzidas pelos leitores/intérpretes/cocriadores vão desde possíveis “fins” que eles podem dar às personagens no enredo até o pensamento sobre as repercussões que poderia haver, na vida, caso alguém fosse denunciado a pais protestantes em um país em que a homossexualidade é criminalizada.
Este artigo teve o objetivo de compreender a construção do conto “The day he came” de Amatesiro Dore no que tange à orquestração feita pelo autor de várias vozes sociais referentes à homossexualidade e ao embate em torno dela feita pela religião e pela tradição que declara ser a homossexualidade un-African. Para tal, buscamos perceber como a obra ficcional dialoga com o mundo da vida, trazendo, em sua representação, conflitos vividos por Peter (personagem filho de pais protestantes) no espaço ficcional da Nigéria, país em que a homossexualidade é criminalizada. Foi possível perceber, portanto, que o autor, não só por meio da trama, mas também das escolhas lexicais que faz e do foco narrativo utilizado, cria uma arena de conflitos a partir dos embates vividos por Peter, que oscila entre as suas convicções religiosas (o retorno do Cristo) e seu amor por Michael, entre a sua homossexualidade e a sua tradição como um homem de sangue africano puro. Ao trazer esses conflitos ao centro da obra ficcional, o autor estabelece um diálogo direto com os conflitos na própria vida, em que há, como vimos, uma politização da homossexualidade e uma teologização da homofobia feitas não só por leis que criminalizam a homossexualidade em vários países do continente africano, considerando-a como opção sexual “não natural” e un-African, como por dogmas conservadores protestantes que classificam pessoas homossexuais como pecadores e, portanto, destituídas da graça do evangelho que pregam a partir de sua interpretação do seu texto sagrado.
É importante destacar que as discussões trazidas neste ensaio sobre a relação entre a homossexualidade, a religião, a tradição e as leis não devem ser vistas como um debate essencialista e estereotípico sobre as questões relacionadas à sexualidade em África. Como destaca Epprecht (2013), a história nos faz lembrar que foi exatamente a Europa que estava na linha de frente na luta contra práticas homossexuais nas colônias, o que leva o autor a declarar que a ideia de que a homossexualidade é un-African deve muito a autores e propagandistas europeus e norte-americanos que tinham interesse em disseminar essa generalização a despeito do que os próprios africanos tinham a dizer sobre o assunto. Outra observação que o autor traz refere-se à falsa concepção de que a cruzada religiosa contra a homossexualidade em igrejas protestantes é um fenômeno puramente africano. Para ele, não podemos esquecer o papel que igrejas norte-americanas conservadoras têm na disseminação de um discurso anti-LGBT, levando-os a se unirem a bispos e pastores evangélicos no combate à homossexualidade em África. Dessa forma, como é possível perceber, o debate é amplo e não pode ser descontextualizado; tampouco os desafios que se colocam para a comunidade LGBTQIAPN+ em muitos países africanos podem ocultar os avanços que a própria comunidade tem tido ao longo das últimas décadas. Ademais, como foi possível ver neste artigo, vários intelectuais africanos estão discutindo o tema por meio de estudos profícuos, publicados em revistas acadêmicas e antologias, o que vai contra o argumento de que “non-normative sexualities are not a topic of particular interest to African intellectuals or a serious research priority but rather reflect a purely Western-driven agenda or elitist frivolity” (VAN KLINKEN; CHITANDO, 2016, p. 2)[22].
Para finalizar, trazemos a voz de Medviédev (2012): “os gêneros literários bem consolidados enriquecem nosso discurso interior com novos procedimentos de tomar consciência e compreender a realidade” (p. 198). Nesse sentido, a arena de vozes dentro de “The day he came” permitiu que vozes de intelectuais e religiosos, africanas ou não, divergentes ou não, fossem ouvidas ao longo deste texto, permitindo que nós também tivéssemos consciência e compreendêssemos as discussões sobre a politização da homossexualidade e a teologização da homofobia em África de forma não essencialista e mais plural.
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[1] As traduções de textos originalmente em inglês, mas não publicadas em português não nossas. Texto original: “offering shelter to writers and artists at risk, advancing freedom of expression, defending democratic values and promoting international solidarity”.
[2] Utilizaremos a sigla LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais, Pansexuais, Não-binárie e outros) no corpo do texto, já que é o mais atualizado no Brasil. No entanto, caso determinado/a autor/a use apenas LGBT, por exemplo, conservaremos o uso que ele/a faz da sigla.
[3] Nossa tradução: “O Estado não pode discriminar ninguém injustamente, direta ou indiretamente, por uma ou mais razões, incluindo raça, gênero, sexo, gravidez, estado civil, origem étnica ou social, cor, orientação sexual, idade, deficiência, religião, consciência, crença, cultura, língua e nascimento”.
[4] Nossa tradução: “Mas como um homem, um homem de sangue puramente africano, eu rejeito e fico ofendido com toda e qualquer tentativa de se ab-rogar a minha masculinidade e circunscrever a minha sexualidade”.
[5] Segundo o Dictionary.com, o vocábulo “pretty” está relacionado a algo que é agradável aos olhos por sua delicadeza e graciosidade.
[6] Nossa tradução: “Eu odiava ser tachado de ‘lindo’. Soava afeminado”.
[7] Nossa tradução: “As suas gesticulações afeminadas e o seu rebolado me davam náuseas”.
[8] Nossa tradução: “Larry era uma aberração aos meus valores familiares”.
[9] A notícia é intitulada “Homosexuality: Anglican Communion in Nigeria affirms rejection”. Nossa tradução: “A Igreja da Nigéria afirma sua total rejeição à homossexualidade e certamente se posicionará para defender a verdade do evangelho com base nas injunções e nos princípios éticos da Bíblia Sagrada”.
[10] Nossa tradução: “Esse Deus em particular veio a África para preparar o caminho para os colonizadores e pacificar os africanos para serem dominados pelas potências coloniais europeias”.
[11] Nossa tradução: “se a intenção é livrar África das imposições ocidentais, então o cristianismo e as leis ocidentais não podem ser usados de forma racional para justificar a rejeição a atos homossexuais”.
[12] Nossa tradução: “Não há nada de particularmente diferente nos africanos, nada que os diferencie essencialmente dos americanos, asiáticos, europeus e qualquer outro grupo de seres humanos, exceto suas condições sociais históricas e contemporâneas”.
[13] Nossa tradução: “as duas tradições religiosas que expressam homofobia em seus ensinos doutrinários”.
[14] Cf. Coalition to pray homosexual and gay out of Ghana (2018).
[15] Cf. Christian Clerics in Ghana Organise National Prayer Against Same-Sex Union (2021).
[16] Nossa tradução: “Imaginei as trombetas anunciando o retorno do Cristo, o que me levou a cair de joelhos atrás do carro”; “Estava arrependido, mas queria fazer de novo. De fato, queria ficar com Michael até a vinda do reino”.
[17] A seção intitulada de “Unnatural offenses” está disponível no site India Code (https://www.indiacode.nic.in/show-data?actid=AC_CEN_5_23_00037_186045_1523266765688§ion Id=46160§ionno=377&orderno=434).
[18] Vale destacar a atualidade dessa discussão. No dia 21 de março de 2023, o parlamento da Uganda aprovou um projeto de lei anti-homossexual, que aguarda a sanção presidencial. Segundo Nyeko (2023), o projeto de lei não apenas corrobora as punições já sancionadas por leis impostas no período da colonização britânica, como amplia esse escopo ao criar “novas ofensas que reduzirão qualquer ativismo sobre as questões de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) e erradicarão as pessoas LGBT de qualquer forma de engajamento social na Uganda”. Texto original: “new offenses that will curtail any activism on lesbian, gay, bisexual, and transgender (LGBT) issues and eradicate LGBT people from any form of social engagement in Uganda”.
[19] Nossa tradução: “os valores vitorianos de um cristianismo colonial do século XIX”.
[20] Nossa tradução: “Estou avisando a vocês pela última vez. Avise a sua filha, Peter, que deve deixar o meu homem em paz ou este mundo não conterá todos nós”.
[21] Nossa tradução: “[...] eles imaginaram Peter na cama com um homem”.
[22] Nossa tradução: “sexualidades não normativas não são um tópico de interesse específico de intelectuais africanos ou uma prioridade de pesquisa séria, e refletem uma agenda puramente ocidental ou uma frivolidade elitista”.