Frequência e causas de trombocitopenia na enfermaria de clínica médica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba

Autores

  • Marcelo Gil Cliquet
  • Ana Carolina Xavier de Aguiar
  • Andressa Luiza Forte Corrêa

Palavras-chave:

trombocitopenia, enfermaria, hematologia, plaquetas, frequência, clínica médica

Resumo

INTRODUÇÃO: As plaquetas são quantificadas pelo hemograma e a trombocitopenia é qualificada pelo mielograma. O valor de plaquetas em condições normais é 130.000 a 450.000 plaquetas/μL. A trombocitopenia é caracterizada pela contagem abaixo de 130.000 plaquetas/μL. Além disso, essa condição pode ser classificada em leve (contagem de plaquetas em 100.000 a 130.000/μL), moderada (50.000 a 99.000/μL) e severa (<50.000/μL). Tal baixa na concentração de plaquetas pode ser motivada por 4 mecanismos, sendo eles: diminuição da produção de plaquetas, diminuição da sobrevida das plaquetas, sequestro esplênico e diluição. Pacientes com trombocitopenia podem ser assintomáticos e a trombocitopenia pode ser detectada pela primeira vez em uma contagem sanguínea completa de rotina. A apresentação sintomática da trombocitopenia é sangramento, caracteristicamente mucoso e cutâneo. O sangramento da mucosa pode se manifestar como epistaxe, sangramento gengival e grandes hemorragias bolhosas. Já́ o sangramento na pele se manifesta como petéquias ou equimoses superficiais. Na prática clínica, o achado de trombocitopenia é comum e, muitas vezes, casual. A primeira medida a ser tomada quando se encontra trombocitopenia sem sintomas clínicos é a checagem para descartar uma pseudotrombocitopenia, o que ocorre devido a aglutinação de plaquetas in vitro em tubos contendo ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA). Esse evento ocorre em aproximadamente 1 caso a cada 1000 indivíduos saudáveis. Embora vários estudos tenham documentado frequência de trombocitopenia de 25 a 55% em unidades de terapia intensiva (UTI), nenhum estudo caracterizou sua frequência em todos os pacientes hospitalizados. A frequência da trombocitopenia na UTI pode variar conforme o tipo de serviço prestado (médico, cirúrgico ou misturado) e ela pode estar presente desde da chegada do paciente ou ser desenvolvida durante a hospitalização, o que é comum. Estabelecer a causa da trombocitopenia é o ideal em situações ambulatoriais ou de cuidados intensivos. Para pacientes hospitalizados, a trombocitopenia aparece frequentemente no fundo de um transtorno multissistêmico e pode ser determinada por múltiplos mecanismos. No ambiente ambulatorial a trombocitopenia é geralmente assintomática e isolada, e o diagnóstico pode ser dado diretamente. Além das plaquetas, o hemograma é composto pela série branca e vermelha do sangue. Para os leucócitos, o valor de normalidade é entre 4.000μ/mm3 e 10.000μ/mm3, sendo leucopenia abaixo de tal valor e leucocitose acima de tal. Já́ para hemoglobina, há diferença entre o sexo masculino (valor normal igual à 14,3 – 18,3 g/dl) e feminino (valor normal igual à 12,5 – 15,7 g/dl), sendo anemia quando abaixo de tais valores. Dito isso, quando há a presença de trombocitopenia, anemia e leucopenia em um mesmo paciente caracteriza-se a pancitopenia. Frente aos poucos estudos já existentes quantificando e qualificando a trombocitopenia em internações e a importância desse quadro na recuperação do paciente, fez-se necessário o presente trabalho a fim de dar suporte à atuação medica na Enfermaria de Clinica Medica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba e dar parâmetros para outros estudos e serviços. OBJETIVOS: Com as informações de nossa bibliografia, verificamos a frequência, causas e outras características de trombocitopenia na Enfermaria de Clínica Médica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Esperávamos encontrar dados concretos, possibilitando o cálculo de porcentagens pertinentes ao entendimento da trombocitopenia e coerentes com a realidade em que estaremos pesquisando, onde há uma maior porcentagem de doenças hematológicas. Ademais, analisamos valores de leucócitos, hemoglobina e presença de pancitopenia. MÉTODOS: Tais dados foram obtidos através de visitas semanais à Enfermaria de Clinica Médica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, no período de agosto de 2018 até abril de 2019. Assim, coletamos 478 hemogramas dos indivíduos internados e 47 prontuários de pacientes que assinaram o Termo Livre de Consentimento Esclarecido. RESULTADOS: Ao fim do trabalho, obtivemos 478 hemogramas e 47 (9,83%) prontuários dos pacientes que assinaram o TCLE, 72 (15,06%) pacientes estavam impossibilitados de assinar o TCLE ou optaram por não assinar. Do total de 478 pacientes pesquisados, 227 (47,49%) do sexo feminino e 251 (52,51%) do sexo masculino. Desses, 119 (24,9%) apresentarem trombocitopenia, sendo 60 (50,4%) do sexo feminino e 59 (49,6%) do masculino, tendo p = 0,042924 na aplicação do teste de hipótese (T Student), demonstrando relação entre o sexo do paciente e a presença de trombocitopenia. Também realizamos teste de hipótese (T Student) relacionando as faixas etárias dos pacientes com a presença de trombocitopenia, porém o p = 0,108712 revelou que tal relação não tem significância estatística. Dos pacientes com trombocitopenia, 12 (2,5% em relação aos 478 pacientes), adquiriram o quadro após a internação. Já́ das causas da trombocitopenia, nos 47 pacientes que assinaram o TCLE, 22 (46,8%) tinham doenças hematológicas, 4 (8,5%) tomavam medicações que podem provocar tal quadro, 3 (6,4%) tinham neoplasias e 18 (38,3%) não tinham causa aparente. Além disso, o mínimo de plaquetas encontrado nos pacientes foi 2.000 plaquetas/μL e o máximo foi 837.0000 plaquetas/μL, a média foi de 218.110 plaquetas/μL e a mediana de 207.000 plaquetas/μL. Já a classificação dos graus de trombocitopenia, obtivemos 37 (31,09%) pacientes com leve, 45 (37,82%) moderada e 37 (31,09%) severa. Ademais, na análise dos leucócitos dos pacientes, observou-se média de 9.940/mm3 e mediana de 8.700/mm3. Já́ a classificação em leucopenia e leucocitose, obtivemos 38 (7,95%) pacientes com leucopenia e 189 (39,54%) pacientes com leucocitose. Na série vermelha do sangue, realizamos a média e mediana da hemoglobina, sendo 10,35 g/dL a média e 10,2 g/dL a mediana, e a detecção de anemia, tendo 428 (89,5%) pacientes com esse quadro, sendo 197 (41,2%) pacientes do sexo feminino e 231 (48,3%) pacientes do masculino. Por fim, observamos a frequência de pancitopenia, tendo 26 (5,44%) pacientes com tal quadro. DISCUSSÃO: A frequência de trombocitopenia foi alta na população estudada, cerca de 25% dos pacientes, fato provavelmente decorre do fato da enfermaria de Enfermaria de Clínica Médica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba receber muitos pacientes da área de Hematologia, cerca de 15 a 20% dos leitos. Em outros estudos, a frequência foi de 18.8%. Os resultados encontrados na pesquisa sugerem que há uma maior frequência de trombocitopenia no sexo feminino, mas sem grande diferença entre o sexo masculino. Na literatura, mulheres na faixa dos 30 e 40 anos de idade apresentam mais frequentemente trombocitopenia sem anemia. Por pesquisarmos em um grande intervalo de idade, a diferença entre os sexos se torna mínima. Quanto às faixas etárias, não observamos diferenças entre as várias faixas estudadas e não encontramos na literatura dados concretos diferenciando a frequência de trombocitopenia entre as diferentes idades. Já́ os achados de leucopenia e leucocitose, mostram maior frequência de quadros infecciosos na Enfermaria de Clínica Médica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, pois há cerca de 40% de leucocitose. Tal dado é presumível levando em conta os quadros clínicos de nossos pacientes internados. Os níveis plaquetaários se mostraram abaixo de 50.000/mm3 em 31% dos pacientes trombocitopênicos, ou seja, trombocitopenias graves, o que acontece em pacientes oncohematológicos, comuns no local do estudo. Anemia também foi um achado frequente, cerca de 90% dos pacientes, mostrando a gravidade dos pacientes internados nessa enfermaria, vários com doenças crônicas, infecciosas e neoplásicas. Neste mesmo sentido, observamos a presença de pancitopenia em mais de 5% do total de pacientes analisados. CONCLUSÃO: Esse trabalho possibilitou a análise de 478 pacientes no Conjunto Hospitalar de Sorocaba, com 119 (cerca de 25%) apresentando trombocitopenia durante o curso da pesquisa, mostrando uma frequência elevada, porém já esperada pelos quadros clínicos apresentados pelos internados no serviço. Ao final, conseguimos uma avaliação expressiva dos hemogramas e prontuários, atingindo nossos objetivos. O trabalho constituirá um auxiliar útil, de referência, para que possa ser consultado por profissionais da área da saúde quando necessário parâmetros quanto a trombocitopenia e outros elementos do hemograma.

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Publicado

2019-12-02

Como Citar

1.
Cliquet MG, Aguiar ACX de, Corrêa ALF. Frequência e causas de trombocitopenia na enfermaria de clínica médica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba [Internet]. 2º de dezembro de 2019 [citado 28º de março de 2024];21(Supl.). Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/RFCMS/article/view/46267