Ideologia e reforma psiquiátrica:crítica do laço social produzido nos serviços substitutivos de saúde mental

Resumo

Resumo: A partir de referências a duas abordagens ivergentes acerca do sofrimento psíquico, o artigo propõe-se a refl etir sobre a possibilidade de acolhimento da psicose nos serviços substitutivos de saúde mental que leve em conta o contexto histórico e social sem cercear a palavra do psicótico. Admite-se que existem contribuições positivas trazidas pelo modelo basagliano para o campo da saúde mental, já que aponta a relevância da inserção social dos pacientes psiquiátricos. Porém, formulam-se críticas à concepção de sujeito utilizada na implementação do modelo basagliano e também ao tipo de laço social por ele implicado. Isso é feito a partir de considerações teóricas fundamentadas na noção lacaniana de sujeito, na concepção psicanalítica das psicoses e na teoria lacaniana dos quatro discursos. Conclui-se demonstrando que o efeito de circulação de discursos pode abrir campos de significação onde certos modos de compreensão e socialização são estimulados em detrimento de outros. Argumentamos que o discurso ideológico da inclusão do portador de sofrimento mental pode ser pensado em sua dupla incidência, clínica e ideológica. Palavras-chave: ideologia; reforma psiquiátrica; psicanálise; psicose;laço social. Abstract: Based on references to two divergent approaches to mental suff ering, this article aims to refl ect on the possibility of including psychosis in outpatient mental health care services to consider the historical and social context without gagging people experiencing psychosis. Admittedly, the Basaglian model has made positive contributions to the fi eld of mental health care, which point to the relevance of social inclusion of psychiatric patients. But, this article critiques the notion of subject that is used when implementing the Basaglian model as well as the type of social bond that it implies. This is based on theoretical considerations that build on the Lacanian concept of subject, the psychoanalytic concept of psychosis, as well as the Lacanian theory of the four discourses. We conclude by demonstrating that the eff ect of circulating discourses can open up fi elds of meaning where certain understanding and socialization methods are encouraged instead of others. We argue that it is possible to refl ect on the ramifi cations of the ideological discourse of including people that are experiencing mental suff ering, which are both clinical and ideological. Keywords: ideology; psychiatric reform; psychoanalysis; psychosis;social bond.