O comum mais-que-humano: do comum à comunalização
Palavras-chave:
Mais-que-humano, Liberalismo, Comunalização, Cuidado, Cooperativas de pescaResumo
O artigo combina leituras feministas e pós-coloniais do comum com trabalho de campo etnográfico em e sobre Castletownbere, um porto de pesca comercial no sudoeste da Irlanda onde eu passei dezesseis meses vivendo e trabalhando em vários barcos. As origens etimológicas da pavra "comum" são com (junto) e munis (sob obrigação). Primeiro, isto nos diz que o comum é produzido junto, refletindo uma interdependência, o reconhecimento de que alguns de nós (humanos e não-humanos) confiamos uns nos outros dentro de certos contextos. Segundo, e advindo do primeiro, as obrigações que tal interdependência demanda de nós. Estas obrigações não deveriam apenas ser pensadas em termos de regras sociais ou instituições, mas tamém em termos da negociação situada, menos que exata, de diferentes necessidades e habilidades que podem se sobrepor de formas mutuamente benéficas. A negociação dos limites e oportunidades é uma atividade contínua porque as condições ambientais, sociais e de mercado mudam, demandando respostas dos pescadores que já são parte de ecologias e relações sociais "densas" que não podem simplesmente ser ignoradas. O conceito de "comum mais-que-humano" aponta para um mundo que não é, desde o início, separado e assim necessita de fronteiras institucionais para permitir a partilha. Trata-se de um mundo que já é partilhado de formas menos que perfeitas, tensas, mas ainda assim partilhado. Simultaneamente, o comum mais-que-humano não fornece um horizonte utópico ou mesmo uma forma esperançosa de política. Não há nada que autorize se pressupor que tais lugares precários de comunalização sejam opostos ou mesmo externos à captura capitalista do valor ou da retirada atual do Estado da provisão de bem-estar institucionalizado.