“Ofereço o retrato de minha filha como prova de nosso reconhecimento”:
O corpo feminino na perspectiva da saúde mental expresso em fonte jornalística na cidade de Feira de Santana, Bahia (1921-1950)
DOI:
https://doi.org/10.23925/1982-6672.2022v15i43p45-63Resumo
A perspectiva histórica da saúde mental (SM) na cidade de Feira de Santana, Bahia, remete à relação de gênero enquanto elemento condicionante de experiências que permitem compreender a sociedade urbana no recorte temporal do início do século XX. Os discursos difundidos na imprensa podem dar pistas sobre estas experiências e construções e assim, este artigo objetiva identificar como a SM foi traduzida nas publicações Jornal Folha do Norte (JFN), no período 1921-1950. Esta pesquisa tem caráter documental, abordagem qualitativa a partir do levantamento de dados no acervo de exemplares digitalizados do JFN no Museu Casa do Sertão da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). A análise das publicações identificou entre anúncios, propagandas e notícias, um discurso imposto pelo modelo médico-sanitário vigente que converge para o foco da doença com dispositivos de disciplinamento do corpo baseado na medicalização como símbolo de civilização, para diversas patologias bem como, a atenção em SM, em especial, nas mulheres. Os vários anúncios e propagandas de medicamentos tinham base fitoterápica, referentes ao controle do ciclo hormonal feminino na época entendido como incômodo exigindo cuidados especiais; às oscilações hormonais inerentes da fisiologia feminina, que levam a mal-estar e irritabilidade, aspectos considerados na época como infortúnios femininos. A medicação era tida como solução e fazia bem à saúde silenciando os incômodos, indisposições e fragilidades atribuídos ao corpo feminino Tal representação do corpo feminino em um contexto medicalizado aponta para questões relacionadas à desigualdade de gênero ancorada no discurso médico e como o entorno social permeia processos destrutivos à SM.
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