O Infinito Atual em Or Hashem de Hasdai Crescas (1340 -1411)
DOI:
https://doi.org/10.23925/1980-7651.2020v25;p01-39Palabras clave:
Crescas, Maimônides, infinito, vácuo, primeira causaResumen
Este artigo enfoca a concepção de infinito atual do filósofo judeu medieval Hasdai Crescas (1340–1411), formuladas no livro Or Hashem (1410) às três primeiras proposições de Maimônides, tal como são enunciadas na segunda parte do Guia dos Perplexos. As teses de Maimônides têm como objetivo negar a possibilidade do infinito atual como magnitude imaterial ou material, como conjunto infinito de seres finitos e como série infinita de causa e efeito. Após uma breve exposição da trajetória dos conceitos de infinito nas diversas tradições sapienciais judaicas recebidas na Idade Média, indicamos como a argumentação em prol da ideia de infinito atual em Crescas dialoga com elas. Desse diálogo, emerge o conceito de infinito como singularidade atualizada paralelamente no real como vácuo infinito, lugar de coexistência de infinitos universos, e como infinito atual divino como Kavod, Glória, que preenche o universo infinito e como causa imanente da série infinita de causa e efeito que constitui a existência eterna dos seres contingentes. Na crítica à terceira proposição maimonidiana, a causa primeira é descrita como causa ontológica e imanente da série infinita de causas e efeitos. Nessa discussão, Crescas aponta para uma ideia de Deus muito diferente daquela elaborada por Maimônides. Temos aqui o debate judaico medieval entre os defensores da transcendência divina e os defensores da imanência. Esse tema é importante para a compreensão da recepção da obra de Hasdai Crescas por Picco Della Mirandolla, Bruno e Espinosa.