O amor de todo mundo, palavras-sementes para mudar o mundo:
gramáticas de resistência e práticas terapêuticas de uso social da linguagem por coletivos culturais da periferia em tempos de crise sanitária
DOI:
https://doi.org/10.1590/1678-460x202156109Resumo
Este artigo focaliza a produção de uma gramática cultural de resistência a partir da análise de práticas linguísticas de coletivos culturais da periferia de Fortaleza, Ceará, vivenciadas nas cartografias do Viva a Palavra, um programa de extensão comunitária e de educação popular comprometido com o enfrentamento da violência por meio da valorização das formas de vida e práticas autogestionadas de arte e cultura das juventudes periféricas. Foram geradas palavras-sementes, em uma pesquisa cartográfica, sob a perspectiva da pragmática cultural. Tais palavras e seus temas geradores permitiram a análise de jogos de linguagem, como os círculos de cultura que, embora produzidos de forma remota, funcionam como práticas linguísticas terapêuticas, diante do sofrimento social, agravado pela pandemia de Covid 19. Para esse estudo, foram articulados os conceitos de palavra-mundo de Paulo Freire com os conceitos de jogos de linguagem e terapia da linguagem de Wittgenstein. Também são centrais os trabalhos de Veena Das sobre o sofrimento social e a gramática cultural. A análise mostra os efeitos da violência nas socialidades dos coletivos periféricos e as práticas linguísticas de resistência à violência, na atual crise sanitária mundial.