No movimento do caleidoscópio:

Escalas sociolinguísticas e o ajuste de foco na pesquisa aplicada em linguagem

Autores

  • Daniel Nascimento Silva Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.1590/1678-460x202259475

Palavras-chave:

escalas sociolinguísticas; complexidade sociolinguística; Complexo do Alemão; esperança.

Resumo

Neste artigo, parto de um aspecto das reflexões teóricas e metodológicas de Marilda Cavalcanti em seu profícuo trabalho em linguística aplicada – sua atenção ao movimento, ao reajuste de foco e à linguagem não como objeto estático, mas como caleidoscópio de recursos – para fazer um exercício semelhante sobre o conjunto de interações, diálogos, tropeços, planos, fracassos e contínuos ajustes naquilo que chamamos de pesquisa de campo. A pergunta que este artigo faz é: se concebemos linguagem não como objeto fixo, estático e circunscrito, mas como um complexo sociolinguisticamente móvel de vozes, dimensões, espaços, tempos e interações, como evitar tomar como dadas ou reificadas as práticas comunicativas que observamos em nossos campos empíricos? Faço um retorno a minha trajetória de pesquisa sobre a violência na linguagem, mostrando como o foco foi continuamente se ajustando dos processos de dominação simbólica à resistência e à esperança (sem, ao mesmo tempo, desconsiderar a dominação). Concluo que o foco na desigualdade, embora legítimo e necessário, não pode eclipsar a produção de voz e agência no chão de fábrica da escola, do coletivo, da periferia, isto é, do campo de pesquisa.

Referências

Bakhtin, M. (1981). The Dialogic Imagination. University of Texas Press. Beltrame, J. M. (2014). Todo dia é segunda-feira. Sextante.

Bhabha, H. (1998). O local da cultura. Editora da UFMG.

Bloch, E. (1986). The principle of hope. The MIT Press.

Blommaert, J. (2007). Sociolinguistic Scales. Intercultural Pragmatics, 4(1), 1-19

Blommaert, J. (2010) Sociolinguistics of Globalization. Cambridge University Press.

Blommaert, J. (2015). Chronotopes, Scales, and Complexity in the Study of Language in Society. Annual Review of Anthropology, 44, 105-116. Blommaert, J., Westinen, E., & Leppänen, S. (2015). Further notes on

sociolinguistic scales. Intercultural Pragmatics, 12(1), 119-127. Bonnin, J., & Unamuno, V. (2021). Debating translanguaging: A contribution from the perspective of minority language speakers.

Language, Culture and Society, 3(2), 231–254.

Bonnin, J. E. (2021). Discourse analysis for social change: Voice, agency

and hope. International Journal of the Sociology of Language, 267-

, 69-84

Borba, R. (2019). Injurious signs: The geopolitics of hate and hope in

the linguistic landscape of a political crisis. In A. Peck, C. Stroud, Q. Williams (Eds.), Making Sense of People and Place in Linguistic Landscapes (pp. 161-181). Bloomsbury.

Bourdieu, P. (1993) The field of cultural production: Essays on art and literature. Columbia University Press.

Briggs, C. (2007). Anthropology, Interviewing, and Communicability in Contemporary Society. Current Anthropology, 48(4), 551-580. Brown, R., & Gilman, A. (1960). The pronouns of power and solidarity.

In T. A. Sebeok (Ed.), Style in language (pp. 252-281). MIT Press. Butler, J. (1997). Excitable speech: a politics of the performative.

Routledge.

Carr, E., & Lempert, M. (2016). Introduction: Pragmatics of Scale. In E.

S. Carr & M. Lempert (Eds.), Scale: Discourse and Dimensions of

Social Life (pp. 1-18). University of California Press.

Cavalcanti, M. C. (1996). Collusion, Resistance, and Reflexivity: Indigenous Teacher Education in Brazil. Linguistics and Education,

, 175-188.

Cavalcanti, M. C. (2006). Um olhar metateórico e metametodológico em

pesquisa em linguística aplicada: implicações éticas e políticas. In L. P. Moita Lopes (Ed.), Por uma linguística aplicada indisciplinar (pp. 232-252). Parábola Editorial.

Cavalcanti, M. C., & Maher, T. (Eds.). (2018). Multilingual Brazil: Language resources, identities and ideologies in a globalized world. Routledge.

César, A. L. S., & Cavalcanti, M. C. (2007). Do singular para o multifacetado: o conceito de língua como caleidoscópio. In M. C. Cavalcanti & S. M. Bortoni-Ricardo (Eds.), Transculturalidade, linguagem e educação (pp. 45-66), Mercado de Letras.

Collins, James, Slembrouck S., &, Baynham, M. (Eds.). (2009).

Globalisation and language in contact: Scale, migration, and

communicative practices. Continuum.

Derrida, J. (1991). Assinatura acontecimento contexto. In J. Derrida,

Limited inc (pp. 11-37). Papirus.

Derrida, J. (2004). Living on. In H. Bloom (Ed.), Deconstruction and

criticism (pp. 62-142). Continuum.

Fabrício, B. F. (2019). Discourse circulation in news coverage of the Zika

virus outbreak: Colonial geopolitics, biomediatization and affect.

Discourse Context & Media, 30, 100289.

Fabrício, B. F. (2021). A scalar approach to the circulation of virulent

affects on the web. Social Semiotics, 31, 695-709.

Facina, A. (2010). “Eu só quero é ser feliz”: quem é a juventude funkeira

no Rio de Janeiro. Revista Epos, 1, 218.

Facina, A. (2014). Sobreviver e sonhar: reflexões sobre cultura e

“pacificação” no Complexo do Alemão. In M. A. Fernandes & R. D. Pedrinha. (Eds.), Escritos Transdisciplinares de Criminologia, Direito e Processo Penal: homenagem aos mestres Vera Malaguti e Nilo Batista (pp. 39-47). Revan.

Feltran, G. (2011). Fronteiras de tensão: política e violência nas periferias de S. Paulo. Ed. da UNESP.

Gaffney, C. (2013). Between Discourse and Reality: The Un-Sustainability of Mega-Event Planning. Sustainability, 5, 3926-3940.

Gal, S., & Irvine, J. (2019). Signs of difference: Language and ideology in social life. Cambridge University Press.

Goffman, E. (2002). Footing. In B. Ribeiro & P. Garcez (Eds.), Sociolinguística interacional (pp. 107-148). Loyola.

Gonçalves, R. (2018). Favelas no Rio de Janeiro: História e direito. Pallas & PUC-Rio.

Gondim, J. P., Galdo, R., Mendes, T., & Bravo, Z. (2011). Ocupação da Mangueira fecha cinturão em torno do Maracanã; Maré é desafio. http://oglobo.globo.com/rio/ocupacao-da-mangueira-fecha-cinturao- em-torno-do-maracana-mare-desafio-2873566#ixzz34GMcAIGk. (accessed 24 September, 2022).

Grassiani, E., & Müller, F. (2019). Brazil-Israel Relations and the Marketing of Urban Security Expertise. Latin American Perspectives, 46(3), 114-130.

Heller, M., & McElhinny, B. (2017). Language, capitalism, colonialism: Toward a critical history. University of Toronto Press.

Jacquemet, M. (2005). Transidiomatic practices: Language and power in the age of globalization. Language & Communication, 25(3), 257-277. Kell, C. (2013). Ariadne’s thread: Literacy, scale and meaning making across space and time. Working Papers in Urban Language and

Literacies, Paper 118.

Kroskrity, P. (2009). Arizona Tewa Kiva speech as a manifestation

of a dominant language ideology. In A. Duranti (Ed.), Linguistic

anthropology: A reader (pp. 402–419). Wiley.

Lear, J. (2006). Radical hope: Ethics in the face ofcultural devastation.

Harvard University Press.

Leitão, M. (2014). Prefácio. In J. M. Beltrame, Todo dia é segunda-feira

(pp. 9-13).

Lopes, A. (2011) Funk-se quem quiser no batidão negro da cidade carioca.

Bom Texto.

Machado da Silva, L. A., & Menezes, P. (2019). (Des)continuidades na

Experiência de ‘Vida sob Cerco’ e na ‘Sociabilidade Violenta’. Novos

Estudos, 38(3), 529–51.

Maher, T. J. M. (1996). Ser professor sendo índio: questões de língua(gem)

e identidade [Tese de doutorado]. Universidade Estadual de Campinas. Mattingly, C. (2010). The paradox of hope: Journeys through a clinical

borderland. University of California Press.

Miyazaki, H. (2004). The method of hope: Anthropology, philosophy, and

Fijian knowledge. Stanford University Press.

Moita Lopes, L. P. (Ed.). (2013). O português no século XXI: Cenário

geopolítico e sociolinguístico. Parábola.

Park, J. (2021). In Pursuit of English: Language and Subjectivity in

Neoliberal South Korea. Oxford.

Peirce, C. S. (1955[1897]). Logic as semiotic: the theory of signs. In J.

Buchler (Ed.), Philosophical writings of Peirce. Dover Publications. Pinto, J. (2001). Pragmática. In F. Mussalin & A. C. Bentes (Eds.) Introdução à Linguística: domínios e fronteiras (pp. 47-68). Cortez. Robbins, J. (2013). Beyond the suffering subject: toward an anthropology of the good. Journal of the Royal Anthropological Institute, 19(3), 447-462.

Silva, D. N. (2010). Pragmática da violência: o Nordeste na mídia

brasileira. [Tese de doutorado]. Universidade Estadual de Campinas.

Silva, D. N. (2012). Pragmática da violência: o Nordeste na mídia brasileira. 7 Letras/Faperj.

Silva, D. N. (2017). The circulation of violence in discourse. In D. Silva (Ed.), Language and Violence: Pragmatic Perspectives (pp. 107-124). John Benjamins.

Silva, D. N. (2022). Papo Reto: The politics of enregisterment amid the crossfire in Rio de Janeiro. Signs and Society, 10(2), 239-264.

Silva, D. N., & Alencar, C. (2018). Arranjos violentos e esperança: Como a linguagem dos direitos humanos operou num atentado em Fortaleza, CE. Trabalhos em Linguística Aplicada, 57(2), 675-698. https://doi. org/10.1590/010318138652730402141.

Silva, D. N., & Fabrício, B. (2020). Monólitos neoliberais, metamorfoses periféricas: Escala e precariedade no Rio de Janeiro e nos Estudos da Linguagem. In A. Butturi Junior, D. Scarso & J. L. Leme (Eds.), Antropoceno, biopolítica e pós-humano (pp. 169-206). Pontes Editores.

Silva, D. N., & Fabrício, B. (2021). Self-containment and contamination: Two competing circuits of adaptability. In D. Silva & J. Mey (Eds.), The Pragmatics of Adaptability (pp. 117-141). John Benjamins Publishing Company.

Silva, D. N., Facina, A., & Lopes, A.C. (2015). Complex territories, complex circulations: The “pacification” of the Complexo do Alemão in Rio de Janeiro. Pragmatics and Society, 6, 175-196.

Silva, D. N., & Lee, J. (2021). “Marielle, presente”: Metaleptic temporality and the enregisterment of hope in Rio de Janeiro. Journal of Sociolinguistics, 25(2), 179-97 https://doi.org/10.1111/josl.12450.

Silva, D. N., & Maia, J. (2022). Digital rockets: Resisting necropolitics through defiant languaging and artivism. Discourse, Context & Media, 49, 100630.

Strathern, M. (2004). Partial Connections. AltaMira Press.

Tsing, A. (2022). O cogumelo no fim do mundo: Sobre a possibilidade da vida nas ruínas do capitalismo. N-1 Edições.

Valladares, L. (2005). A invenção da favela: Do mito de origem a favela. com. FGV Editora.

Windle, J., & Moita Lopes, L. P. (2021). Rescaling the global borderlands:

Transperipheral projections from `the heart of the Amazon? Language in Society, 2, 1-21.

Publicado

2023-09-09

Como Citar

Silva, D. N. (2023). No movimento do caleidoscópio:: Escalas sociolinguísticas e o ajuste de foco na pesquisa aplicada em linguagem. DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 38(4). https://doi.org/10.1590/1678-460x202259475