Elaboração do luto e escritas autobiográficas na Clínica de Linguagem com afásicos
DOI:
https://doi.org/10.1590/1678-460X202339460727Palavras-chave:
afasia, luto, escrita, clínica de linguagem, psicanáliseResumo
Este artigo apresenta uma reflexão subsidiada pela Clínica de Linguagem (Lier-DeVitto, 2002, 2006), proposta teórico-clínica que articula noções e conceitos do Estruturalismo Europeu, com Saussure e Jakobson, e da Psicanálise, com Freud e Lacan. Desde os trabalhos de Fonseca (1995, 2002, 2011) a afasia é entendida como uma alteração linguística que envolve cérebro ferido, fala em sofrimento e drama subjetivo. O objetivo deste artigo é desenvolver o tema de que o drama subjetivo envolve luto - questão incontornável num atendimento a afásicos que priorize o sujeito e sua condição singular. Destaca-se que a afasia deixa o falante frente às ruínas de uma condição linguística abrupta e inesperada, que remete a um forte abalo no enodamento dos registros do real, simbólico e imaginário (Lacan, 1985/1972-3). Freud (1917) abre a discussão sobre o luto na Psicanálise. Seu texto e de outros psicanalistas são abordados neste artigo. A escrita autobiográfica é apresentada como um dos caminhos possíveis no percurso de elaboração do luto numa Clínica de Linguagem.
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