Dislexia ou processo de aquisição da escrita?

Autores

  • Giselle de Athayde Massi

Palavras-chave:

escrita, lingüística textual, fonoaudiologia, dislexia

Resumo

Investigamos, nesta pesquisa, a indefinição que acompanha a noção de dislexia vinculada a uma perspectiva de distúrbio de aprendizagem ou dificuldade de aquisição da escrita. Discutimos a falta de evidência capaz de indicar a causa desse suposto distúrbio e, também, a inconsistência descritiva do que tem sido considerado como sintoma disléxico. Entendendo a linguagem como atividade dialógica, como trabalho constitutivo, histórico e social, no contraponto de uma noção patologizadora, mostramos que tais “sintomas” desvendam estratégias de reflexão lançadas pelo aprendiz sobre a escrita em uso e construção. Denunciamos que, por se fixarem em aspectos gráficos do objeto escrito, ignorando os textos elaborados pelos aprendizes, as diversas tarefas avaliativas propostas em manuais envolvidos com o diagnóstico do que tem sido considerado dislexia não cumprem os seus objetivos, ou seja, não avaliam a escrita. Para superar essas tarefas, analisamos, em concordância com o paradigma indiciário, dois casos de crianças rotuladas como portadoras de dificuldades de aprendizagem da escrita. A partir dessa análise, a qual se embasa na compreensão da singularidade do trajeto trilhado por esses sujeitos no processo de aprendizagem da linguagem, indicamos que tais crianças, ao contrário dos rótulos que carregam, produzem textos com progressão referencial e progressão tópica, lançando mão de diversas estratégias textuais, bem como de diferentes hipóteses sobre aspectos gráficos e convencionais da escrita, sinais da própria construção desse objeto de conhecimento.