Algumas contribuições para o estudo do processo terapêutico da gagueira infantil

considerações a partir de um caso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/2176-2724.2023v35i1e60143

Palavras-chave:

Gagueira, Linguagem infantil, Fonoterapia

Resumo

Introdução: A gagueira é caracterizada por interrupções no fluxo da fala, tais como bloqueios, prolongamentos e/ou repetições de sons, sílabas, palavras ou frases, comumente identificadas como disfluências atípicas, sendo frequentemente acompanhada por outras manifestações, como gestos de antecipação da gagueira, autoimagem negativa, tiques e/ou outras manifestações corporais. Objetivo: identificar as principais características manifestas na fala de uma criança que gaguejava, refletindo sobre os momentos de fluências e disfluências nas terapias fonoaudiológicas, visando o estudo do processo terapêutico. Método: Este é um estudo de caso com abordagem qualitativa, baseado em gravações em áudio de sete sessões fonoaudiológicas de uma criança (PG) de 6 anos, sexo feminino, que apresentava manifestações gagas e encontrava-se em atendimento em Unidade Básica de Saúde. As gravações foram transcritas, analisadas e discutidas com base na literatura. Resultados: As repetições foram mais prevalentes; os bloqueios ocorreram predominantemente em fonemas oclusivos e os prolongamentos, em vogais. Geralmente, a gagueira intensificava-se quando PG colocava-se na posição de autora e diminuía nos momentos em que ela não focalizava sua fala ou seu modo de falar, dirigindo sua atenção para outra atividade ou tópico discursivo. PG demonstrava relação negativa com sua própria fala. A quantidade de manifestações gagas diminuiu ao longo do processo terapêutico. Conclusão: O papel do terapeuta no processo terapêutico ao lidar com a construção da fluência, da autoconfiança e a desconstrução da autoimagem de mau falante da criança expressa a importância da atuação fonoaudiológica na gagueira infantil.

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Biografia do Autor

Irani Rodrigues Maldonade, Universidade Estadual de Campinas

Graduada em Fonoaudiologia (bacharelado) pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1984) e graduada em Linguística (bacharelado) pela Universidade Estadual de Campinas (1986). Mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (2003). Ambos os trabalhos foram desenvolvidos na área de Aquisição da Linguagem sob o prisma do interacionismo. Participou como professora PRODOC/CAPES (2006/2008) junto ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de Santa Maria, RS. Fez pós-doutorado no Departamento de Linguística do IEL/Unicamp, desenvolvendo projeto de pesquisa que tematizava não só o erro, mas também a autocorreção na fala da criança, na sua relação com a língua/linguagem. Tem experiência na área de Fonoaudiologia - especialmente em clínica de linguagem e saúde coletiva e na área de Linguística - principalmente em Aquisição da Linguagem (oral e escrita). É docente do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação da FCM/UNICAMP atuante na graduação do curso de Fonoaudiologia, na Residência Multiprofissional e na Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da FCM/UNICAMP.

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Publicado

2023-06-01

Como Citar

Pereira, G. de O., & Maldonade, I. R. (2023). Algumas contribuições para o estudo do processo terapêutico da gagueira infantil: considerações a partir de um caso. Distúrbios Da Comunicação, 35(1), e60143. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2023v35i1e60143

Edição

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Artigos