A ecopolítica e a desterritorialização do humano. Apontamentos e provocações
Abstract
Articulando, de um lado, a desfronteirização e a desterritorialização contemporâneas - aqui entendidas como o alargamento e o apagamento das fronteiras que o homem colocou entre si mesmo e o mundo - com, de outro lado, a exacerbação de alguns dos topoi que marcam as tradições monoteístas, argumenta-se que a ecopolítica corre o risco de descambar para um ecologismo que, em nome da Natureza, passe a rejeitar "tudo aquilo que se refere à intervenção humana", no sentido que Alain Touraine deu a essa expressão. Basta uma leitura atenta de boa parte dos discursos sobre o meio ambiente para que logo se revele o fundamentalismo, denuncismo, catastrofismo e o salvacionismo em que tais discursos se sustentam. Além disso -e de uma maneira paradoxal-, muitos desses discursos repõem pela janela o que tiram espalhafatosamente pela porta da frente. Seja na forma de um panteísmo ou de um panenteísmo krausiano, o ecologismo quase sempre se manifesta como uma desfronteirização reducionista capaz de travar ou comprometer uma biopolítica interessada em manter a segurança humana intimamente ligada à habitabilidade planetária.
Palavras-chave: desfronteirização, ecologismo, catastrofismo, topoi judaico-cristãos, platonismo.
Ecopolitics and deterritorialization of the human. Notes and provocations
Abstract: It is argued that ecopolitics risks ending up in an ecologism that, on behalf of nature, starts to reject “all that refers to human intervention”, as stated by Alain Tourraine. In this movement, it articulates, on the one hand, the process of removal of borders and contemporary deterritorialization – here understood as the enlargement and elimination of frontiers that man has place between himself and the world – with, on the other, the enhancement of some of the topoi that mark monotheist traditions. A careful reading of most of the discourses on the environment is enough to reveal the fundamentalism, denouncement, catastrophism and salvationism on which these discourses are based. In addition, and paradoxically, many of the discourses place back in what they have loudly taken out. Both in the form of pantheism or a Krausian pantheism, ecologism often presents itself as a reductionist process of removal of borders, capable of hampering or compromising a biopolitics interested in keeping human security closely linked to planetary livelihood.
Keywords: environmentalism, catastrophism, topoi Judeu-Christian, platonismo.