Não há país no mundo, tão farto em criações de rua, como o Brasil, seja na pintura, no teatro, na música, na dança etc... A cada semana, temos artistas solitários ou em grupo, dando forma ao que têm na cabeça, na alma e na intuição - como potência carente de materialização. Usam os mais inusitados materiais e procuram os mais diferentes espaços a céu aberto: feiras livres, jardins públicos, viadutos, avenidas, ruas, becos, burgos, prados, e outros tantos nichos populares. Refletindo, mais dirigidamente, sobre uma das modalidades: Teatro de Rua, não podemos deixar de lado, um de seus tentáculos, talvez o maior: o Texto Literário Adaptado ou a Dramaturgia. Quais as características do discurso escrito para apresentações desta natureza? O que os atores querem, podem ou devem dizer em suas interlocuções? Como são as relações entre as três instâncias poéticas do teatro: autor, ator e diretor, no caso destas encenações abertas? Quais os graus de interatividade que elas sugerem entre artistas e receptores para não haver invasões recíprocas desagradáveis? Discussões desta ordem e de muitas outras, precisam ser mantidas quando se trata de Teatro de Rua. Há que se perguntar: os escritores, os atores e os diretores desejam, realmente, levar mensagens para reflexões fecundas, do universo da própria platéia ou preferem textos que nada têm a dizer de significativo para ela, optando por apenas “jogar” com o público, de uma maneira livre, leve e solta? É importante ressaltar, que nas idiossincrasias da etnia brasileira, está impregnado o caráter “macunaimesco” de ser: nosso famoso “jeitinho”, indica-nos que somos pouco inclinados a estudos profundos sobre assuntos relevantes, quanto aos “virtuosos das praças” então?..., menos ainda, confiam demasiado na própria criatividade; na bem-vinda intuição; nas vontades saciadas ao exporem suas aptidões à prova, como os malabares, os mímicos e os mágicos, por exemplo; nas pulsões e nos desejos de extroversão; na alegria que lhes é inerente; no talento nato; nas ousadias para as quais coragem não lhes falta, enfim, este perfil de personalidade tende a dizer aos criadores que optam pelos “ares livres” que: “na hora sai!”. Não é bem assim. Para tudo, e principalmente para os Artistas de Rua, é necessário trabalho exaustivo, estudo obsessivo e treino persistente. Se assim procederem, eles podem auxiliar, e muito, os seres humanos, no refinamento da sensibilidade; no requinte do gosto e de um senso crítico coerente; no aguçamento da inteligência, dos sentidos, das percepções; porque afinal, Exposições e Demonstrações Artísticas de Rua, não são a rua, SÃO ARTE URBANA!, aventurada sob e entre constelações, sóis, luares, estrelas, vendavais, tempestades, poeira, calor, frio etc... A arte escancara o maior testemunho do que almejamos defender: os chamados “estetas do asfalto”, sustentados em um “trapézio sem rede”, estampam o caráter revelado no rosto brasileiro: diversidades na identidade nacional.
Palavras-chave
Arte; Teatro; Ar Livre; Literatura; Linguagens; Artista; Intuição; Estética; Criatividade; Diversidade; Ousadia; Talento; Identidade.
Abstract
There is no country in the world so abundant in street creations as Brazil, as in painting, theater, music, dance etc Every week we have artists, solitary ones or in groups, molding what they have in their minds, in their souls and in their intuition as deprived power of materialization. They use the most unusual materials and look for the most different outdoor spaces: market fairs, public gardens, flyovers, avenues, streets, alleys, boroughs, meadows, and some other popular niches. Reflecting more directly upon one of the following modalities: Street Theater, we cannot put aside one of its tentacles, maybe the biggest one: the Adapted Literary Text or the Dramatic Art. Which are the characteristics of the written speech for presentations of this kind? What do the actors want, can or must say in their interlocutions? How is the relationship among the three poetic instances of theater: author, actor and director, in such open performances? Which are the levels of interactivity that they suggest between artists and receivers, so that there are no unpleasant reciprocal invasions? Discussions of this kind and many others should happen when the subject is the Street Theater. We have to ask if writers, actors and directors really want to send messages for fertilized reflections, from the universe of the audience, or if they prefer those texts that don't have anything significant for them, only choosing to play with the audience, in a free, light and loose way? It's important to highlight that, in the idiosyncrasies of the Brazilian ethnic group, is impregnated the macunaíma character of being: our famous knack indicate us that we are a little bit inclined to deep studies about relevant issues regarding the virtuous of the squares, so what?..... even less, they trust too much in their own creativity; in the welcome intuition; in satisfied wishes as they expose their abilities to give a trial, as the jugglers, the mimes and the magicians, for instance; in the pulsations and desires of extroversion; in the happiness which is inherent in them; in the born talent; in the boldness for which they don't lack courage, in short, this personality profile tends to say to the creators who choose free airs that: at the right moment, things happen! It is not exactly this way. For everything, and mainly for Street Artists, it is necessary hard work, obsessed study and persistent training. If they act this way, they can help very much the human beings in refining their sensibility; in their sophistication of taste and in a coherent critical sense; in the stimulation of intelligence, senses, perceptions; because, after all, Street Artistic Exhibitions and Demonstrations are not the street itself, but it is URBAN ART!, ventured under and among constellations, suns, moonlights, stars, gales, storms, dust, heat, cold etc. Art opens wide the most important evidence of what we want to
defend: the so-called aesthetic from the asphalt, supported in a trapeze without a safety net, prints the revealed character on the Brazilian face: diversities in the national identity.
Keywords
Art; Theater; Outdoors; Literature; Languages; Artist; Intuition; Aesthetic; Creativity; Diversity; Boldness; Talent; Identity.
Author Biography
Fortuna Marlene
A autora é Mestre e Doutora pela PUC/SP. Faz Pós-Doutorado na UNICAMP/SP, com bolsa FAPESP/SP. É professora de Pós-Graduação, atriz de longa experiência e pesquisadora na área de Artes Cênicas e Visuais.