Plataformas digitais e fluxos urbanos: dispersão e controle do trabalho precário

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-5904

Palavras-chave:

Plataformas Digitais, Trabalho, Fluxos Urbanos, Controle, Precariedade

Resumo

O espraiamento recente das plataformas digitais tem provocado novas dinâmicas da relação entre trabalho e cidade. O objetivo deste artigo é analisar os fluxos urbanos dos entregadores de aplicativos pela metrópole de São Paulo para explorar empiricamente as condições em que esse trabalho se inscreve na cidade. Argumentamos que a dispersão de milhares de trabalhadores pela metrópole, ancorada por uma gestão algorítmica, somente se realiza por um controle incisivo do tempo, do território e do próprio trabalho e pela intensa vulnerabilidade dos trabalhadores. Mobilizando dados obtidos por meio de incursões etnográficas, entrevistas e elaboração de material cartográfico, buscaremos discutir as dinâmicas de (re)produção das desigualdades centro-periferia de um trabalho que se espacializa sob gestão centralizada das empresas de plataforma.

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Publicado

2023-12-11

Como Citar

Fioravanti, L. M., Martins, F. R., & Rizek, C. S. (2023). Plataformas digitais e fluxos urbanos: dispersão e controle do trabalho precário. Cadernos Metrópole, 26(59), 69–96. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-5904