Plataformas digitais e fluxos urbanos: dispersão e controle do trabalho precário
DOI:
https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-5904Palavras-chave:
Plataformas Digitais, Trabalho, Fluxos Urbanos, Controle, PrecariedadeResumo
O espraiamento recente das plataformas digitais tem provocado novas dinâmicas da relação entre trabalho e cidade. O objetivo deste artigo é analisar os fluxos urbanos dos entregadores de aplicativos pela metrópole de São Paulo para explorar empiricamente as condições em que esse trabalho se inscreve na cidade. Argumentamos que a dispersão de milhares de trabalhadores pela metrópole, ancorada por uma gestão algorítmica, somente se realiza por um controle incisivo do tempo, do território e do próprio trabalho e pela intensa vulnerabilidade dos trabalhadores. Mobilizando dados obtidos por meio de incursões etnográficas, entrevistas e elaboração de material cartográfico, buscaremos discutir as dinâmicas de (re)produção das desigualdades centro-periferia de um trabalho que se espacializa sob gestão centralizada das empresas de plataforma.
Referências
ABILIO, L. (2017) Uberização do trabalho: A subsunção real da viração. Site Passapalavra/Blog da Boitempo. Disponível em https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/22/uberizacao-do-trabalhosubsuncao-real-da-viracao/. Acesso em: 6 mar 2023.
______ (2020a). Uberização: a era do trabalhador just-in-time? Estudos Avançados, v. 34, n. 98, pp. 111-126. Disponível em: . Acesso em: 11 dez 2022.
______ (2020b). Uberização e juventude periférica. Desigualdades, autogerenciamento e novas formas de controle do trabalho. Novos Estudos Cebrap, v. 39, n. 3, pp. 579-97. Disponível em: <https://doi.org/10.25091/s01013300202000030008> Acesso em: 11 mar 2023.
ABÍLIO, L. C.; ALMEIDA, P. F.; AMORIM, H.; CARDOSO, A. C. M. ; FONSECA, V. P. da; KALIL, R. B.; MACHADO, S. (2020). Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a Covid-19. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano. Campinas, Edição Especial – Dossiê covid-19, pp. 1-21.
ABÍLIO, L. C.; AMORIM, H.; GROHMANN, R. (2021). Uberização e plataformização do trabalho no Brasil: conceitos, processos e formas. Sociologias, v. 23, pp. 26-56. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/soc/a/XDh9FZw9Bcy5GkYGzngPxwB/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em: 14 mar 2023.
BRAGA, R.; SILVA, D. (2022). The meanings of uberism: Work platforms, informality and forms of resistance in the city of São Paulo. Revista de Ciências Sociais Política & Trabalho, n. 56, pp. 118-136. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/politicaetrabalho/article/view/61446. Acesso em: 11 mar 2023.
CARDOSO, A.; AZAÏS, C. (2019). Reformas trabalhistas e seus mercados: uma comparação Brasil-França. Caderno CRH. Salvador, v. 32, n. 86, pp. 307-324.
CARELLI, R.; OLIVEIRA, M. (2021). As Plataformas Digitais e o Direito do Trabalho: como entender a tecnologia e proteger as relações de trabalho no Século XXI. São Paulo, Dialética.
CÍCERO, J. (2022). iFood tem contrato que prevê direitos trabalhistas. Agência Pública, 22 maio. Disponível em: <https://apublica.org/2022/05/sem-que-entregadores-saibam-ifood-tem-contrato-quepreve-direitos-trabalhistas/>. Acesso em: 13 fev. 2023.
DE STEFANO, V. (2016). The rise of the "just-in-time workforce": on-demand work, crowdwork and labour protection in the "gig-economy". International Labor Office, Inclusive Labour Markets, Labour Relations and Working Conditions Branch. Conditions of work and employment series, n. 71, Genbra. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---travail/documents/publication/wcms_443267.pdf. Acesso em: 25 ago 2023.
FELTRAN, G. de S. (2014). Valor dos pobres: a aposta no dinheiro como mediação para o conflito social contemporâneo. Caderno CRH, n. 27, pp. 495-512.
FILGUEIRAS, V. A. (2021). “É tudo novo”, de novo: as narrativas sobre as grandes mudanças no mundo do trabalho como ferramenta do capital. São Paulo, Boitempo.
FILGUEIRAS, V.; ANTUNES, R. (2020). Plataformas digitais, uberização do trabalho e regulação no Capitalismo contemporâneo. Contracampo, v. 39, n. 1, pp. 27-43. Disponível em: <https://periodicos.uff.br/contracampo/issue/view/2137/pdf_9 >. Acesso em: 5 jun 2022.
FIORAVANTI, L. M. (2022). Concentração de entregadores nas regiões mais ricas da capital paulista. Le Monde Diplomatique, 5 out. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/concentracao-deentregadores-nas-regioes-mais-ricas-da-capital-paulista/>. Acesso em: 6 mar 2023.
______ (2023). Espaço urbano e plataformas digitais: deslocamentos e condições de trabalho dos entregadores de bicicleta da metrópole de São Paulo. GEOUSP, no prelo.
GRIESBACH K, R. A; ELLIOTT-NEGRI, L; MILKMAN R. (2019). Algorithmic Control in Platform Food Delivery Work. Socius, v.5, n. 4, pp. 1-15.
GUIMARÃES, F. (2021). Cerca de 11,4 milhões de brasileiros dependem de aplicativos para ter uma renda. Estado de S.Paulo, 12 de abril. Disponível em: <https://www.estadao.com.br/economia/brasileiro-depende-mais-de-aplicativos-para-ter-renda/>. Acesso em: 6 mar 2023.
HARVEY, D. (2008). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Loyola.
HEILAND, H. (2021). Neither timeless, nor placeless: control of food delivery gig work via place-based working time regimes. Human Relations, v.75, n. 9, pp. 1824-1848. DOI: https://doi.org/10.1002/hrm.22168.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2023). PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html>. Acesso em: 9 mar 2023.
KALIL, R. B. (2020). A regulação do trabalho via plataformas digitais. São Paulo, Blucher.
LIMA, L. (2022). Ifood Pedal: o funcionamento e a localização das bases de empréstimos de bicicletas para os entregadores Ifood em São Paulo. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS. Anais. Disponível em: <https://www.eng2022.agb.org.br/site/anais?AREA=6#L>. Acesso em: 6 mar 2023.
MACHADO, S.; ZANONI, A. P. (2022). O trabalho controlado por plataformas digitais no Brasil: dimensões, perfis e direitos. Curitiba, UFPR – Clínica Direito do Trabalho.
MARX, K. (2015). Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo, Boitempo editorial.
MONCAU, G. (2022). "Sistema jagunço": por que o iFood tenta esconder sua relação com empresas intermediárias (OL)? Brasil de Fato, 14 de abr. Disponível em: <https://www.brasildefato.com. br/2022/04/14/ifood-tenta-censurar-video-que-mostra-relacao-com-empresas-intermediarias>. Acesso em: 6 mar 2023.
OLIVEIRA, M. C. S.; CARELLI, R. de L.; GRILLO, S. (2020). Conceito e crítica das plataformas digitais de trabalho. Revista Direito e Práxis, v. 11, n. 4, pp. 2609-2634. Disponível em: <https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/ article/view/50080/35864>. Acesso em: 27 fev 2023.
PETROPOULEAS, S. (2022). Saída da Uber Eats acirra briga entre iFood e Rappi e preocupa restaurantes. Folha de S.Paulo, 18 fev. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/02/saidada-uber-eats-acirra-briga-entre-ifood-e-rappi-e-preocupa-restaurantes.shtml >. Acesso em: 1º ago 2022.
RANGEL, F. (2021). A empresarização dos mercados populares: trabalho e formalização excludente. Belo Horizonte, Fino Traço.
REUTERS/G1 (2023). Cade faz acordo com iFood em investigação sobre exclusividade com restaurantes. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/02/08/cade-faz-acordo-com-ifoodem-investigacao-sobre-exclusividade-com-restaurantes.ghtml>. Acesso em: 14 mar 2023.
RIBEIRO, P. V. (2022). Motociclistas são 70% dos internados no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, diz médica na CPI dos Aplicativos. The Intercept Brasil, 16 dez. Disponível em: <https://theintercept.com/2022/12/12/entregadores-de-apps-sao-70-dos-internados-no-institutode-ortopedia-e-traumatologia-do-hospital-das-clinicas-diz-medica/>. Acesso em: 14 mar 2023.
RIZEK, C. S. (2012). Trabalho, moradia e cidade: zonas de indiferenciação? Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 27, pp. 41-49.
RIZEK, C. S.; RANGEL, F.; FIORAVANTI, L. M. (2023) Trabalho, Subordinação e fluxos urbanos: Resultados de pesquisa. In: LIVRO DO XVII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA. No prelo.
RODRIGUES, R. (2021). Cidade de SP tem 563 mil motoristas de aplicativos ativos, diz Prefeitura; 74% dos carros têm placa da própria cidade. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/12/04/cidade-de-sp-tem-563-mil-motoristas-de-aplicativos-ativos-diz-prefeitura-74percent-dos-carros-tem-placa-da-propriacidade.ghtml>. Acesso em: 6 mar 2021.
ROSIN, A. (2023). Trabalho de plataforma: desregulamentações, práticas no urbano e fluxos. Relatório de Qualificação. São Paulo, Universidade de São Paulo.
SARAIVA, J. (2020). Total de entregadores na Grande São Paulo tem aumento de 20%. Valor Econômico. jun. Disponível em: <https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2020/06/09/totalde-entregadores-na-grande-sao-paulo-tem-aumento-de-20.ghtml>. Acesso em: 11 fev. 2023; TELLES, V. da S. (2006). Mutações do trabalho e experiência urbana. Tempo social, v. 18, pp. 173-195.
TOZI, F. (2020). Da nuvem ao território nacional: uma periodização das empresas de transporte por aplicativo no Brasil. Geousp – Espaço e Tempo (on-line), v. 24, n. 3, pp. 487-507. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/168573>. Acesso em: 14 mar 2023.
TOZI, F.; DUARTE, L. R.; CASTANHEIRA, G. R. (2021). Trabalho precário, espaço precário: as plataformas digitais de transporte e os circuitos da economia urbana no Brasil. Ar@cne. Barcelona, Universidad de Barcelona, 1 mar., vol. XXV, n. 252. Disponível em: < https://revistes.ub.edu/index.php/aracne/article/view/33968/33445 >. Acesso em: 22 mar.
VEEN, A.; BARRATT, T.; GOODS, C. (2020). Platform-Capital’s ‘App-etite’ for Control: a labour process analysis of food-delivery work in Australia. Work, Employment and Society, v. 34, n. 3, pp. 388-406.
VÉRAS DE OLIVEIRA, R.; FESTI, R. C. (2023). Entregadores de aplicativos no Brasil: entre a subordinação e a “autonomia”. Contemporânea-Revista de Sociologia da UFSCar, v. 13, n. 1.
II VIGISAN (2022). Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. São Paulo, SP, Fundação Friedrich Ebert, Rede Penssan. Disponível em: https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf. Acesso em: 9 mar 2023.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Lívia Maschio Fioravanti, Felipe Rangel Martins, Cibele Saliba Rizek
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
A revista não tem condições de pagar direitos autorais nem de distribuir separatas.
O Instrumento Particular de Autorização e Cessão de Direitos Autorais, datado e assinado pelo(s) autor(es), deve ser transferido no passo 4 da submissão (Transferência de Documentos Suplementares). Em caso de dúvida consulte o Manual de Submissão pelo Autor.
O conteúdo do texto é de responsabilidade do(s) autor(es).