Segregação espaço-temporal: tempo de deslocamento que une e separa classes e raças

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-6008

Palavras-chave:

Segregação, Tempo de Deslocamento, Desigualdade, Raça, São Paulo

Resumo

É marcante o intenso crescimento das cidades brasileiras caracterizado pela periferização e pelas desigualdades socioespaciais. Porém, ainda são escassas pesquisas que enfoquem a dimensão temporal quanto à compreensão da segregação espacial. Este artigo visa compreender o papel do tempo de deslocamento na explicação do processo de segregação espacial na metrópole de São Paulo. Para tanto, sua metodologia baseia-se em dados estatísticos das áreas de ponderação da amostra do Censo Demográfico, através da variável tempo de deslocamento habitual para o trabalho, combinada com outras variáveis socioeconômicas, de renda e raça. Busca-se contribuir para o entendimento da segregação espaço-temporal, demonstrando que o tempo de deslocamento une os mais pobres e os negros, separando-os dos mais ricos e dos brancos na referida metrópole.

Biografia do Autor

Ricardo Barbosa da Silva, Universidade Federal de São Paulo

Universidade Federal de São Paulo, Instituto das Cidades. São Paulo, SP/Brasil.

Referências

AB’SABER, A.N. (1958). “O sítio urbano de São Paulo”. In: AZEVEDO, Aroldo (Org.). A Cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. A Evolução Urbana. Vol. II. São Paulo: Cia. Editorial Nacional.

ALMEIDA, S. (2019). Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro/Pólen.

ALVES, G. (2000). O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: FAPESP: Boitempo Editorial.

ANSELIN, L (1995). Local Indicators of Spatial Association-LISA. Geographical Analysis, v. 27, n. 2, pp. 93–115.

ANTUNES, R. (2003). Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 9ª ed. São Paulo: Cortez: Unicamp.

ASSUNÇÃO, P. (2004).São Paulo Imperial: a cidade em transformação. São Paulo: Ed. Arke.

BALTRUSIS, N.;D'OTTAVIANO, M.C.L. (2009). Ricos e pobres, cada qual em seu lugar: a desigualdade socio-espacial na metrópole paulistana. Caderno CRH, v.22 , n.55 , pp.135-149.

BITTENCOURT, T. A.; GIANNOTTI, M.; MARQUES, E. (2020). Cumulative (and self-reinforcing) spatial inequalities: Interactions between accessibility and segregation in four Brazilian metropolises. Environment and Planning B: Urban Analytics and City Science, v. 0, n. 0, pp. 1–17.

CAMARGO, C. et al. São Paulo 1975. (1982). Crescimento e pobreza. São Paulo: Edições Loyola.

CALDEIRA, T. P.R. (2003). Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: EDUSP/Ed. 34.

CARLOS, A. F. (2013). "A Prática espacial urbana como segregação e o 'direito à cidade' como horizonte utópico". In: VASCONCELLOS, P.; CORRÊA, R.; PINTAUDI, S. (Orgs.). A cidade contemporânea: segregação espacial. São Paulo: Ed. Contexto.

CHETTY, R. et al. (2014). Where is the land of opportunity? The geography of intergenerational mobility in the united states. The quarterly journal of economics, v. 129, n. 4, pp. 1553–1623.

CLARK, K. (1965). Dark Ghetto: dilemmas of social power. New York: Harper & Row.

CORRÊA, R. (1989). O Espaço Urbano. Editora Ática, Série Principios.

COSTA, W. M. (1988.). O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo: Contexto.

BECKER, B. K. ; EGLER, C. A. G. (1994). Brasil: Uma Nova Potência Regional na Economia-Mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

D’ANDREA, T. (2020). Contributions to the Definition of Periphery and Peripheral Subjects. Novos Estudos CEBRAP, v. 39, n. 1, pp. 19–36.

DASSOLER, E. R. (2012). Do triângulo da morte ao círculo das artes: um olhar sobre a movimentação cultural da periferia sul de São Paulo. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL CULTURAS JOVENS AFRO-BRASIL AMÉRICA: ENCONTROS E DESENCONTROS. Anais. São Paulo, pp.1-17.

DUNCAN; DUNCAN, B. (1955). A Methodological Analysis of Segregation Indexes. American Sociological Review, v. 20, n. 2, pp. 210–217.

FEITOSA, F. (2005). Índices Espaciais para Mensurar Segregação Residencial: O caso de São José dos Campos (SP). Dissertação de Mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

FERNANDES, F. (2008). A integração do negro na sociedade de classes. 5ª ed. São Paulo: Globo.

FRANÇA, D. (2015). "Desigualdade e segregação residencial por raça e classe". In: MARQUES, E. A metrópole de São Paulo no século XXI: espaços, heterogeneidades e desigualdades. São Paulo: Ed. Unesp.

FURTADO, Celso. (1979). Formação econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional.

GUTIÉRREZ, A. (2010). Movilidad, transporte y acceso: una renovación aplicada al ordenamiento territorial. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, v. XIV, n. 331 (86), pp. 1–17.

HADDAD, M. A.( 2020). Residential income segregation and commuting in a Latin American city. Applied Geography, v. 117, n. March, pp.1-11.

HARVEY, D. (1980). A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec.

HEDMAN, L. et al. (2021). Daily mobility patterns: Reducing or reproducing inequalities and segregation? Social Inclusion, v. 9, n. 2, pp. 208–221.

Hindson D. (1996). "The apartheid city : construction, decline and reconstruction". In: LE BRIS, E. (org.). Villes du sud: sur la route d'Istanbul. Paris:ORSTOM.

HINDSON, D.; BYERLEY, M.; MORRIS, M. (1994). From Violence To Reconstruction: the Making, Disintegration and Remaking of an Apartheid City. Antipode, v. 26, n. 4, pp. 323–350.

IBGE. (2010). Amostra do Censo Brasileiro. Rio de Janeiro: IBGE.

KOWARICK, L. (1979). Espoliação urbana. São Paulo: Paz e Terra.

_____. (2004). a sobre segregação: conceitos, métodos e medições. Espaço & Debates, v. 24, pp. 87-109.

JIRÓN, P. (2010). "Posibilidades de socialización e integración: la movilidad en Santiago de Chile". In: INDIANO, F. (Ed.). Mutaciones de lo colectivo: desafíos de integración. Santiago: [s.n.]. pp. 103–122.

LE ROUX, G.; VALLÉE, J. (2017).; COMMENGES, H. Social segregation around the clock in the Paris region (France). Journal of Transport Geography, v. 59, pp. 134–145.

MALOUTAS, T. (2012). "Introduction: Residential segregation in Context". In: MALOUTAS, T., FUJITA, K. (orgs.). Residential Segregation in Comparative Perspective : Making Sense of Contextual Diversity. London: Ashgate Pub.

MARICATO, E. (1982). "Autoconstrução, arquitetura do possível". In: MARICATO, E.(Org,). A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. São Paulo: Ed. Alfa-ômega, pp.71-93.

_____. (2000). Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras. São Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 4, pp. 21–33.

_____. ( 2003). Metrópole, legislação e desigualdade. Estudos Avançados, v. 17, n. 48, pp. 151–166.

MARQUES, E. (2005). "Elementos conceituais da segregação, da pobreza urbana e da ação do Estado". In: MARQUES, E.; TORRES, H. São Paulo, segregação, pobreza e desigualdades sociais, pp. 16-56.

_____. (2015). "Os espaços sociais da metrópole nos 2000". In: MARQUES, E. A metrópole de São Paulo no século XXI: espaços, heterogeneidades e desigualdades. São Paulo: Ed. Unesp, pp.173-198.

MASSEY, D. S.; DENTON, N. A. (1990). American apartheid: Segregation and the making of the underclass. Inequality: Classic Readings in Race, Class, and Gender, v. 96, n. 2, pp. 329–357.

MATOS, O. N. (1958). "São Paulo no século XIX". In: AZEVEDO, A. (Org.). A Cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. A Evolução Urbana. Vol. II. São Paulo: Cia. Editorial Nacional, pp. 49-95.

MARTINS, J.de S. (1992). Subúrbio – vida cotidiana e história no subúrbio da cidade

de São Paulo: São Caetano, do fim do império ao fim da república velha. São Paulo:

Hucitec.

_____. (1996). O cativeiro da terra. São Paulo: Hucitec.

MAUTNER, Y. M. M. (1999). "A periferia como fronteira da expansão do capital". In: DEÃK, Csaba; SCHIFFER, S. (Org.). O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: EDUSP e FUPAM.

MONBEIG, P. (1957). Novos estudos de geografia humana brasileira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro.

MOURA, C. (1977). O Negro: de bom escravo a mal cidadão. São Paulo: Editora.

_____. (1994). Dialética radical do Brasil negro. São Paulo: Editora Anita Garibaldi.

NASCIMENTO, A. (1978). O Genocídio do Negro Brasileiro Processo de um Racismo Mascarado. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra.

PARNELL, S.; ROBINSON, J. (2012). (Re)theorizing cities from the global south: Looking beyond neoliberalism. Urban Geography, v. 33, n. 4, pp. 593–617.

PASTERNAK, S. (2004). A pesquisa sobre segregação: conceitos, métodos e medições. Espaço & Debates, v. 24, pp. 87-109.

PEREIRA, R. M. H.; SCHWANEN, T. (2013). Tempo de deslocamento casa-trabalho no Brasil (1992-2009): diferenças entre regiões metropolitanas, níveis de renda e sexo. Ipea.

PETRONE, P. (1958). "São Paulo no século XX". In: AZEVEDO, Aroldo (Org.). A Cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. A Evolução Urbana. Vol. II. São Paulo: Cia. Editorial Nacional. pp. 101-160.

PRÉTECEILLE, E. (2009). La ségrégation ethno-raciale a-t-elle augmenté dans la métropole parisienne ? Revue française de sociologie, v. 50, n. 3, pp. 489–519.

ONU. (2022). Aglomerações urbanas. Disponível em: https://population.un.org/wup/Download/. Acesso em: 16 mar.2022.

RODRÍGUEZ, J.; ARRIAGADA, C. (2004). Segregación residencial en la ciudad

latinoamericana. EURE, v. 29, n. 89, pp. 5-24.

ROLNIK, R. (1989). Territórios Negros: Etnicidade e Cidade em São Paulo e Rio de Janeiro. Revista de Estudos Afroasiáticos, n.17, pp.1-17.

ROY, A. (2015). Worlding the South. The Routledge Handbook on Cities of the Global South.

SABATINI, F.; BRAIN, I. (2008). La segregación, los guetos y la integración social urbana: Mitos y claves. Eure, v.34, n.103, pp.5-26.

SABATINI, F.; CÁCERES, G.; CERDA, J. (2001). Segregación residencial en las principales ciudades chilenas: Tendencias de las tres últimas décadas y posiblescursos de acción. Eure, v. 27, n. 82, pp. 21–42.

SANTOS, M.( 1982). Pensando o espaço do homem. São Paulo: Editora Hucitec.

_____. (1990). Metrópole Corporativa Fragmentada: o caso de São Paulo. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura/Nobel.

_____. (2004). O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos. São Paulo: Edusp.

_____. (2005). Urbanização Brasileira. São Paulo: Edusp.

_____. (1994).Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e Meio Técnico-Científico Informacional. São Paulo: Ed. Hucitec.

_____. (2002). A Natureza do Espaço – Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp.

_____. (1996/1997). "As cidadanias mutiladas". In: CARDOSO, R. O preconceito. São Paulo: Imprensa oficial do Estado.

_____. (2003). Por uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro, São Paulo: Ed. Record.

SÁVIO, Marcos A. C. (2010). A Cidade e as Maquinas: Bonde e automóveis nos primórdios da metrópole paulista 1900-1930. São Paulo: Annablume/Fapemig.

SEADE. (2022). Seade População. Disponível em: https://populacao.seade.gov.br/. Acesso em: 16 mar.2022.

_____. Seade PIB (2002). Disponível em: https://repositorio.seade.gov.br/group/seade-pib. Acesso em: 16 mar.2022.

SILVA, J.C.G. (2012). Rap, a trilha sonora do gueto: um discurso musical no combate ao racismo, violência e violações aos direitos humanos na periferia. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL CULTURAS JOVENS AFRO-BRASIL AMÉRICA: ENCONTROS E DESENCONTROS. Anais. São Paulo, pp.1-19.

SPOSATI, A (coord.). (1996). Mapa da exclusão/inclusão social da cidade de São Paulo. São Paulo: Educ.

SPOSATI, A. (2004). A pesquisa sobre segregação: conceitos, métodos e medições. Espaço & Debates, v. 24, pp. 87-109.

SHELLER, M. (2018). Theorising mobility justice. Tempo Social, v. 30, n. 2, pp. 17–34.

TELLES, V. DA S. (1999). A “nova questão social” brasileira: ou como as figuras de nosso atraso viraram símbolo de nossa modernidade. Caderno CRH, n. 30/31, pp. 85–110.

TELLES, E. E. (1995). Race, Class and Space in Brazilian Cities. International Journal of Urban and Regional Research, v. 19, n. 3, pp. 395–406.

VASCONCELLOS, E. A. (1997). The making of the middle-class city: Transportation policy in São Paulo. Environment and Planning A, v. 29, n. 2, pp. 293–310.

VASCONCELOS, P.A. (2018). "Contribuição para o debate sobre processos e formas socioespaciais nas cidades". In: VASCONCELOS, P.; CORRÊ, R.L.; PINTAUDI, S.M. A cidade contemporânea: segregação espacial. São Paulo: Ed. Contexto.

VILLAÇA, F. (1998). O Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute.

WACQUANT, L. (2004). Que é gueto? Construindo um conceito sociológico. Revista de Sociologia e Política, n. 23, pp. 155–164.

WARD, D. (1989). Poverty, ethnicity and the American city. New York: Cambrigde.

WIRTH, L. (1927). The Ghetto. American Journal of Sociology , vol. 33, n.1, pp. 57–71.

Publicado

2024-06-04

Como Citar

Silva, R. B. da. (2024). Segregação espaço-temporal: tempo de deslocamento que une e separa classes e raças. Cadernos Metrópole, 26(60), 561–587. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-6008