Narrativas e ação pública nas ruínas da Fábrica de Cimento de Perus

Autores

Palavras-chave:

Patrimônio Industrial, Luta Operária, Movimento Social, Narrativas

Resumo

Interpreto as relações entre o abandono e a rememoração a partir das possibilidades de ressignificação da Fábrica de Cimento Portland de Perus. Abandonada desde a década de 1970, as instalações da falida Companhia Brasileira de Cimento Portland são, hoje, objeto de ações culturais de movimentos sociais de Perus, distrito da zona noroeste da Cidade de São Paulo. Estes procuram retomar memórias pessoais e coletivas da chamada Greve dos Queixadas, que tomou a Fábrica durante sete anos e legou ao território uma identidade de luta por direitos e cidadania. A partir da análise de entrevistas, discuto como um desses coletivos, a Comunidade Cultural Quilombaque, elabora uma contranarrativa que se opõe ao esquecimento para anunciar as potencialidades de seu território.

DOI:

https://doi.org/10.1590/2236-9996.2025-6265322-pt

https://doi.org/10.1590/2236-9996.2025-6265322-en

Biografia do Autor

Pedro Vianna Godinho Peria, Fundação Getulio Vargas

Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Administração Pública e Governo. São Paulo, SP/Brasil.

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Publicado

2024-12-26

Como Citar

Peria, P. V. G. (2024). Narrativas e ação pública nas ruínas da Fábrica de Cimento de Perus. Cadernos Metrópole, 27(62), e6265322. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/65322