Frequência institucional religiosa como atividade essencial
Uma investigação sobre saúde mental e religiosidade organizacional
DOI:
https://doi.org/10.23925/1677-1222.2023vol23i1a13Palavras-chave:
Pandemia, Psicologia da Religião e da Espiritualidade, Coping religioso, Práticas religiosasResumo
O presente trabalho buscou explorar e investigar as possíveis relações entre a frequência religiosa institucional com a saúde mental durante a pandemia. Foi utilizada uma metodologia de pesquisa quantitativa, transversal e do tipo descritivo-correlacional com voluntários que responderam um formulário online. Foi encontrado que a prevalência de sintomas de ansiedade pôde predizer “frequentar menos a instituição religiosa durante a pandemia” com força de 2,5 e p < 0,01 (OR). Maiores sintomas de ansiedade foram relatados no sexo feminino, em pessoas mais jovens e relatos de menor sentimento de proximidade com Deus, menor manutenção de práticas religiosas e maior perda de sentido que guiava a vida devido às medidas de restrição. Maiores frequências na instituição religiosa estiveram associadas com melhores quadros em ansiedade e maiores níveis nos índices de religiosidade não-organizacional e intrínseca. A escolaridade se mostrou como variável de influência para frequência institucional religiosa e também em saúde mental. Acredita-se que a maior frequência se associou aos melhores quadros na saúde mental por ter oferecido aos frequentadores possibilidades de se sentirem mais próximos de sua religião e comunidade, o que permitiu a vivencia de sua religiosidade. Há a possibilidade de que a menor frequência pode ter prejudicado a vivência dessa religiosidade, e com isso prejudicado também os caminhos de realização do coping religioso que pode ser recurso para alívio e prevenção na ansiedade. A busca pela integralidade em saúde se apresenta como um desafio e a religião cada vez mais se apresenta como importante fator do processo.
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