Minoritização, religião pública e populismo religioso no Brasil

Autores

  • Joanildo Burity Fundação Joaquim Nabuco

DOI:

https://doi.org/10.23925/1677-1222.2024vol24i1a2

Palavras-chave:

Minoritização, Religião pública, Populismo, Evangélicos e pentecostais no Brasil

Resumo

Este artigo discute a trajetória da emergência evangélico-pentecostal na política brasileira, a partir de um marco analítico fornecido pelas categorias minoritização, religião pública e populismo, abordando-a em chave diacrônica, desde os anos 1980 até as eleições de 2022. Argumenta-se que a emergência evangélica expressa uma irrupção do político como dimensão instituinte do social, independentemente de seu caráter religioso, e que ela se desdobra em distintos momentos, não previstos ou planejados, de afirmação de uma minoria como parte da definição da identidade nacional (povo nacional) e de paulatina inserção no pacto político vigente na sociedade, levando-a a aspirar a direção moral e política da sociedade, num contexto de crise hegemônica. Esta minoritização implicou na transformação do campo evangélico-pentecostal em religião pública, atravessada pelas dinâmicas e conflitividade sociais amplas, enquanto a credenciou a integrar um novo bloco de poder no intento de fundar um novo povo brasileiro, pós-lulista, pós-democrático, integrado por “cidadãos de bem” de uma “maioria cristã”, em ressonância com outras posições conservadoras empenhadas no enfrentamento da “esquerda”, como inimigo inassimilável.

Biografia do Autor

Joanildo Burity, Fundação Joaquim Nabuco

Doutor em Ciência Política pela Universidade de Essex (Reino Unido), pesquisador titular na Fundação Joaquim Nabuco, e professor do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (Profsocio-Fundaj) e dos Programas de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco.

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Publicado

2024-08-09