O voto, o povo e a carta
Notas sobre a legitimidade das demandas evangélicas na campanha presidencial de Lula em 2022
DOI:
https://doi.org/10.23925/1677-1222.2024vol24i1a13Palavras-chave:
Eleições 2022, Povo Evangélico, Lula, PolítciaResumo
O artigo propõe uma análise da "Carta ao Povo Evangélico" lançada pela campanha de Lula em 2022, durante o segundo turno das eleições presidenciais, sob a ótica da Razão Populista de Ernesto Laclau. Dividido em três seções, o trabalho explora a importância estratégica do "voto evangélico", destacando como a campanha se direcionou para esse segmento através de comunicações específicas. Argumenta-se que o "tempo da política" promove a adesão entre candidato e eleitorado, enquadrando-o como público com demandas específicas de representação e comunicação. A segunda seção aborda o "povo evangélico" como uma construção discursiva contingente de demandas que se equiparam, enfatizando a carta de Lula que destaca as principais exigências desse grupo: a garantia do estado laico e a proteção da família e da vida. Esses temas não só legitimam a participação do grupo no debate público como criam os vínculos de adesão necessários para a campanha. Na terceira seção, o foco é na carta como estratégia eleitoral, situando-a em relação Carta ao Povo Brasileiro, de 2002. Destaca-se como o segmento evangélico transcende uma mera adesão estratégica, consolidando-se como ator político reconhecido no cenário polarizado que se desenha para além das eleições de 2022. O texto encerra ressaltando a complexidade com que se deve considerar as relações entre subjetividades religiosas e a ação cristã, destacando o crescimento do segmento e seu impacto na identidade religiosa nacional, sinalizando mudanças significativas na política e na sociedade brasileira.
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