O valor das Cadeias Globais de Valor:

uma análise critica da abordagem teórica sobre as CGV

Autores

  • Alexis Saludjian
  • João Pedro Braga
  • Rodrigo Fernandes

DOI:

https://doi.org/10.23925/1806-9029.v35i2e60739

Palavras-chave:

Cadeias globais de valor, Desigualdade, Pobreza, Meio ambiente

Resumo

Desde a década de 1990, acadêmicos discutem a dinâmica das Cadeias Globais de Valor (CGV) e os possíveis benefícios de inserção das indústrias nacionais como uma possível oportunidade de desenvolvimento. A partir desta literatura consolidada, este trabalho analisa criticamente as CGV desenvolvendo três pontos principais nos quais a narrativa de ganhos mútuos se mostra uma lente ideologicamente carregada para analisar a produção no âmbito do capitalismo global. O primeiro delas é a permanência de grandes diferenciais salariais entre trabalhadores nos países desenvolvidos e em desenvolvimento não devido somente a diferentes produtividades, mas também as estruturas produtivas e sociais sobre as quais se baseiam na exploração do trabalho. Adotando a interpretação de Selwyn (2019) e Quentin & Campling (2017), as CGV acabam por reproduzir pobreza e desigualdade social entre os trabalhadores do Sul Global. O segundo ponto é sobre a possibilidade de movimentação e fuga de capitais e mais valor, facilitado e estimulado pela CGV, criando novas dinâmicas de desigualdade global entre países e intrapaíses. Por último, tratamos das dinâmicas de exportação de dano ambiental facilitados pela CGV, além de apresentar criticamente propostas reformistas ao atual cenário de degradação do meio ambiente. Assim sendo, este artigo sintetiza visões críticas à internacionalização cega do comércio proposta pela análise dominante das CGV na medida em que ela representa uma barreira sensível ao desenvolvimento socioeconômico no Sul Global.

Referências

AMARAL M. SILVA e M. D. CARCANHOLO, 2009, A superexploração do trabalho em economias periféricas dependentes, in Rev. katálysis vol.12 no.2 Florianópolis jul./dez. 2009, https://doi.org/10.1590/S1414-49802009000200011

BARRETO, E. S. Crise climática e o Green New Deal : uma primeira aproximação crítica. Revista Fim do Mundo, 2020. n. 2, p. 75–91.

BARRETO, E. S. O capital na estufa: para a crítica da economia das mudanças climáticas. Rio de Janeiro: Consequência, 2018.

BERGMANN, L. Bound by Chains of Carbon: Ecological-Economic Geographies of Globalization. Annals of the Association of American Geographers, v. 103, n. 6, p. 1348–1370, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1080/00045608.2013.779547

BERNHARDT, T.; POLLAK, R. Economic and social upgrading dynamics in global manufacturing value chains: A comparative analysis. Environment and Planning A, v. 48, n. 7, p. 1220–1243, 2016.

CARCANHOLO M. 2017. Dependencia, superexplotación del trabajo y crisis. Una interpretación desde Marx , Ed. Maia.

CHESNAIS F.. Finance capital today: corporations and banks in the lasting global slump. Boston, Brill Academic Pub., 2016. 310 pp.

FRIEDMAN, T. L. A Warning from the Garden. The New York Times, 19 de jan. 2007. Disponível em: < https://www.nytimes.com/2007/01/19/opinion/19friedman.html>. Acesso em: 29 de jul. de 2020.

GEREFFI, G. Shifting Governance Structures in Global Commodity Chains. Hispanic Journal of Behavioral Sciences, v. 9, n. 2, p. 183–205, 1987.

GRIMES, P.; KENTOR, J. Exporting the Greenhouse: Foreign Capital Penetration and CO? Emissions 19801996. Journal of World-Systems Research, 2003. p. 261–275.

JORGENSON, A. K. Does foreign investment harm the air we breathe and the water we drink? A cross-national study of carbon dioxide emissions and organic water pollution in less-developed countries, 1975 to 2000. Organization and Environment, 2007. v. 20, n. 2, p. 137–156.

KALTENBRUNNER, A; PAINCEIRA, J. P. Subordinated Financial Integration and Financialisation in Emerging Capitalist Economies: The Brazilian Experience, New Political Economy, 2018. v. 23, n. 3, p. 290-313.

KAPLINSKY, R. Spreading the gains from globalisation: what can be learned from value chain analysis? Problems of economic transition. n. July 2015, p. 74–115, 2004.

LUCE, Mathias S. Teoria Marxista da Dependência: problemas e categorias. Uma visão histórica. São Paulo: Expressão Popular, 2017.

MANDEL E. O Capitalismo tardio, editora Abril. 1982.

MARINI, R. M. Dialética da Dependência. Expressão Popular, 2005.

MARTINS, C. E.; SOTELO VALENCIA, A. (Org.) A América Latina e os desafios da glo- balização: ensaios em homenagem a Ruy Mauro Marini. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; São Paulo: Boitempo, 2009.

MARX, K. O Capital - Livro 1. São Paulo: Boitempo, 2011.

MAZZUCATO, M. O Estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor privado. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.

MEDEIROS C. A. e N. TREBAT, 2018. Las finanzas, el comercio y la distribución del ingreso en las cadenas globales de valor: implicancias para las economías en desarrollo y América Latina, in Martín Abeles, Esteban Pérez Caldentey y Sebastián Valdecantos (editores), Estudios sobre financierización en América Latina, Libros de la CEPAL, N° 152 (LC/PUB.2018/3-P), Santiago, CEPAL, 2018.

NADVI, K. Globalisation and Poverty: How can Global Value Chain Research Inform the Policy Debate? IDS Bulletin, v. 35, n. 1, 2003.

NAVARRETE, S. D. S.; BORINI, F. M.; AVRICHIR, I. Environmental upgrading and the United Nations Sustainable Development Goals. Journal of Cleaner Production, 2020. v. 264, p. 121563. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.121563>.

NERI, M. (coord.) A Nova Classe Média. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2008. Disponível em https://www.cps.fgv.br/ibrecps/M3/M3_TextoFinal.pdf.

OECD; WTO; WORLD BANK. Global Value Chains: Challenges, opportunities, and implications for policy. Report prepared for submission to the G20 Trade Ministers Meeting Sydney, Australia, n. July, p. 53, 2014.

OPOKU, E. E. O.; BOACHIE, M. K. The environmental impact of industrialization and foreign direct investment. Energy Policy, 2020. v. 137, n. June, p. 111178. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.enpol.2019.111178>.

QUENTIN, D.; CAMPLING, L. Global inequality chains: integrating mechanisms of value distribution into analyses of global production. Global Networks, v. 18, n. 1, p. 33–56, 2017.

SALAMA P., 2016, “La tormenta en América latina. ¿Hacia dónde van las economías de la región?, Ed. Universidad de Guadalajara, 2016.

SCHWARTZMAN, D. Green new deal: An ecosocialist perspective. Capitalism, Nature, Socialism, 2011. v. 22, n. 3, p. 49–56.

SELWYN, B. Poverty chains and global capitalism. Competition and Change, v. 23, n. 1, p. 71–97, 2019.

SHAHBAZ, M. et al. Does foreign direct investment impede environmental quality in high-, middle-, and low-income countries? Energy Economics, 2015. v. 51, p. 275–287. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.eneco.2015.06.014>.

TORKIL LAUESEN; COPE, Z. Imperialism and the Transformation of Values into Prices. Monthly Review, 2015.

UNCTAD. Global Value Chains and Development: Investment and value added trade in the global economy. United Nations Conference on Trade and Development, p. 32, 2013.

UNCTAD. Trade and Development Report 2017. Beyond Austerity: Towards a Global New Deal.

SANT’ANNA, A. A.; YOUNG, C. E. F. Risco, Desigualdade e o Valor da Vida Humana. In: YOUNG, C. E. F.; MATHIAS, J. F. C. M (org.). Covid-19: Meio Ambiente e Políticas Públicas. São Paulo: Hucitec, 2020. p. 161-166. Disponível em: http://www.huciteceditora.com.br/_imagens/_downloads/Covid-19%20Meio%20Ambiente%20e%20Politicas%20Publicas.pdf. Acesso em: 29 de jul. 2020.

Downloads

Publicado

2023-01-30