Cuidado e renda das pessoas idosas no Brasil: uma equação para além da educação financeira?
DOI:
https://doi.org/10.23925/1806-9029.36i2(66)68883Palavras-chave:
Pessoas Idosas, Economia do Cuidado, Endividamento, Renda, Educação FinanceiraResumo
O artigo desce da análise macro e investiga o aspecto micro para captar o perfil sociológico da pessoa endividada. Segue a trilha de gastos de cuidado de longa duração para o risco de inadimplência. O rastreamento pretende ampliar a discussão na definição da “financeirização da velhice” (Debert e Félix, 2024), isto é, a invocação entre Estado e mercado para assumir serviços de proteção social antes típicos da esfera pública, configurando assim o que foi denominado de “Estado fiador” (Debert e Félix, 2024). São analisadas três pesquisas relevantes para guiar a política econômica brasileira. É destacada a importância de políticas de proteção social para mitigar o peso dos custos de cuidado na cesta de consumo das pessoas idosas e problematizada a solução apontada por governo e organismos multilaterais de promover educação financeira para combater o endividamento vis à vis a queda da renda.
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