Ruína: um objeto-resto no século XX

Autores

  • Sueli Chaves Andrade PUC-SP/Doutoranda

Resumo

Se fosse possível escolher apenas um objeto para ilustrar o século dos objetos, o que sustentaria essa escolha? Segundo o psicanalista Gerard Wajcman, seria a capacidade de um mesmo objeto ordenar ao mesmo tempo duas logicas muito particulares do século em questão: a do singular (aquilo que é sem duplo, irreprodutível e irredutível a qualquer coisa) e a do plural ( a produção em série e em massa). Portanto, dentro de uma lista de elementos/objetos que possuem as duas categorias anteriormente mencionadas, a ruína sobressairia. Trata-se de um objeto único, pois ocupa um lugar no espaço, com contornos particulares, específicos a sua própria estrutura e sem precedentes e/ou referentes. Além disso, está aberta aos sentidos, ainda que na prática se apresente desestruturada. É também um objeto do plural, pois tem como origem a ordem de produção em massa do mercado de construção civil. Nenhuma ruína é igual a outra ruína, e grande parte delas são oriundas da mesma forma de produção. Dessa forma, o presente artigo se propõe a discutir o papel da ruína numa perspectiva muito particular na história dos objetos: a de um ponto de rasgadura e de furo, no sentido de um ser um resto que tem muito a dizer. Para tanto, além do texto de Wajcman já mencionado, será abordada uma conferência proferida por Bruno Latour no Encontro de Design, História e Sociedade na cidade de Cornwall, em 2008, que versa sobre a Filosofia do Design. Nesta ocasião, o teórico defende o design como a forma ( desenho) das formas (arte, arquitetura etc). Uma forma de pensamento e estrutura que possui pouca inovação e sempre faz uso dos mesmos processos, raciocínios e desenhos na configuração dos objetos em geral. Por conta disso, Latour inclusive recorre ao mito de Prometeu para fazer analogia a essa realidade. Além disso, a imagem-sintoma de Didi-Huberman servirá de aporte teórico para fazer valer essa articulação entre design e ruína, visto que este conceito defende uma análise da imagem e dos objetos, a partir de uma perspectiva de olhar para o que não se enxerga facilmente: decifra-me ou me mantenha velado.

Palavras-chave: Ruína. Objeto-resto. Gerard Wajcman. Bruno Latour. Didi-Huberman.

Biografia do Autor

Sueli Chaves Andrade, PUC-SP/Doutoranda

Doutoranda do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC/SP, bolsista CAPES/CNPq.

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