Zoomorfoses: horizontes da vida e da imagem na era da informação
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2020i22p34-63Palavras-chave:
Zoomorfoses, Domesticação, Sistemas, Meio, Vida, ZoopoderResumo
Segundo o mitólogo alemão Karl Kerényi, para os gregos a bíos era a vida determinada, ao passo que a zoé era a vida indeterminada e infinita: a natureza. Por isso, a zoologia sempre foi a taxonomia dos animais não-humanos feita pelos humanos. E todas as formas de domesticação da natureza teve um objetivo: reduzir a zoé à bíos. Determinar o indeterminado. Acreditamos que uma das preocupações nucleares da arte contemporânea seja mostrar a inversão vetorial desse sistema de domesticação (Sloterdijk) animais-humanos, determinados-indeterminados. Vivemos um processo de oclusão dos humanos sobre si mesmos, por meio dos algoritmos e dos sistemas de vigilância digitais. Antes, o humano domesticava a natureza e outros humanos. Ao transcender a natureza, o corpo, a morte e a animalidade, os humanos passaram a domesticar a si mesmos, criando sistemas de climatização e de controle biomorfos, inspirados na natureza. Na era pós-evolutiva, dominada pela seleção artificial, pela vida sintética e pela biotecnologia, a vida humana-animal se converte em algoritmos zerodimensionais. Paradoxalmente, o mais abstrato se torna o mais concreto (Flusser). Assim, pretendemos analisar em que medida esses novos dispositivos de controle, em torno da ambivalência da determinabilidade-indeterminabilidade, geram novos regimes de poder sobre a vida e as imagens. Neste artigo, definimos este processo global como zoomorfose e suas implicações políticas como zoopoder. Propusemo-nos fazer um mapeamento destas relações a partir das obras da arte contemporânea.
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