O último olhar de King Kong: antropocentrismo e tecnociências
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2020i22p121-141Palavras-chave:
Símios, Naturezas híbridas, Biosemiótica, Psicanálise, CinemaResumo
Os símios estão entre os animais historicamente escolhidos pelo sapiens como cobaias, duplos, companhia, peças de jogos de espetáculo e de extermínio. Os macacos são uma escolha usual em laboratórios no que diz respeito às pesquisas das chamadas “naturezas híbridas”, que investigam, por exemplo, a produção de órgãos e tecidos para transplantes. Normas éticas se impõem fortemente – não se sabe até quando, já que urge buscar soluções para doenças e para o prolongamento da vida humana. Ao mesmo tempo, o “macaco peludo”, perante o qual não somos – em certa medida – mais do que um terceiro chimpanzé desnudo, é ponto de partida para se pensar nossa relação com os (outros) animais. Marca mais dura do contemporâneo, o Antropoceno nos obriga a reconsiderarmos o que temos feito com os demais seres da biota. Emerge, pois, na escrita antropocênica da civilização, o aspecto de enigma que o animal não-humano desperta em nós. Em uma perspectiva que desconsidera os dualismos clássicos entre humanos e animais, racionais e irracionais, instintivos e pulsionais, busco algum entendimento sobre esses “outros” que nos miram e parecem “saber” que a sobrevivência de nossa espécie interdepende de uma mudança radical de como escolhemos nos situar no mundo como sapiens e como civilização. Para tanto, conto com o imaginário do cinema – capaz de nos conduzir por autorreflexões – e também com os animais domésticos – companheiros diletos de tantos filósofos e pensadores.
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