Waman Poma de Ayala, um autor indígena do século XVII
questionando antropocentrismos no colonialoceno
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2021i24p157-182Palavras-chave:
Waman Poma, Tradução Entrecultural, Imagem, Antropocentrismo, Colonialoceno, EpistemicídioResumo
No presente artigo, apresentamos os resultados parciais do atual ciclo do projeto de extensão “ReCânone, Oficina Permanente de Tradução, Legendado e Interpretação de Materiais Indígenas, Afrodiaspóricos e Latinxs” da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Brasil, que objetiva trabalhar com traduções culturalmente situadas de alguns registros elaborados no território do atual Peru pelo cronista indígena Waman Poma de Ayala, quem produziu sua obra “Nova Crônica e Bom Governo” (Nueva corónica y buen gobierno) entre finais do século XVI e inícios do século XVII. A partir de uma leitura crítica e reflexiva de algumas imagens e textos escritos que as acompanham, se oferece uma proposta inicial da “Opera Aperta” que resulta ser a obra de Waman Poma. Os textos visuais e escritos apresentados encontram-se em processo de serem submetidos a tradução entrecultural: compreendemos-os inicialmente como campos semânticos escrito-visuais que nos estimulam a tecer uma história a contrapelo das imposições coloniais. Assim, aproveitamos alguns materiais elaborados pelo cronista explorando o estatuto do antropocentrismo e suas implicâncias ambientais, ontológicas e epistemológicas. Aproveitamos nessa crítica a abordagem conceitual do Colonialoceno, que chama a atenção para a observação do tecido da vida constituído por realidades mais do que humanas em contextos de alteridade colonial. Abrindo o espaço da reflexão para um Waman Poma que possa nos revelar a possibilidade de habitar mundos não cartesianos, cíclicos e densos, apelamos para o trabalho entrecultural como semeador de uma sensibilidade que inspire movimentos contemporâneos na direção de uma descolonização permanente da academia. À maneira de conclusão, sublinhamos a relevância de ampliar a base epistêmica da discussão científica, tensionando o cânone dos discursos científicos contemporâneos e incluindo essas referências nos currículos, seminários e eventos próprios do campo de produção das ciências no Brasil, em Abya Yala e no Sul Global.
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