Há mundo depois da quântica?

Autores

  • Bruno Cava Rodrigues

DOI:

https://doi.org/10.23925/1984-3585.2024i2930p180-197

Palavras-chave:

Antropoceno, real, incerteza, complementaridade, revolução

Resumo

Se o século XXI é o século da terceira morte filosófica, a do mundo, que os clínicos da civilização vêm diagnosticando no (pós-)horizonte do Antropoceno, cabe analisar o que vem depois e o que nos cabe esperar. As consequências tecnológicas da mecânica quântica são um fato notório, na medida em que a constituição de nossa vida comum está irremediavelmente imersa nelas. Menos reconhecido, entretanto, é o abalo das descobertas e paradoxos da mecânica quântica para uma nova imanência e uma nova liberdade. Está em jogo um deslocamento do problema que se comunica, por ondas de choque, com limiares de ruptura de outros campos, como reconstrução da legibilidade do Real por Paul Klee e sua variante radical da arte moderna. A gênese conceitual da interpretação de Copenhague se orienta pelos princípios da incerteza e da complementariedade. Ela embute uma dupla renúncia: ao projeto de inteligibilidade visual do mundo e ao determinismo eficiente que define um universo explicável por cadeias de causas e efeitos. Para elucidá-la, abordam-se três tipos ideais que compõem a Física predominante depois da Renascença: metafísica (neo-)aristotélica, mecanicismo cartesiano e cosmologia newtoniana (culminada na Teoria da Relatividade); bem como tais componentes foram deslocados na mecânica dos quanta, descortinada por Heisenberg e Bohr. O artigo conclui com um breve comentário sobre as ressonâncias cosmopolíticas da revolução quântica.

Biografia do Autor

Bruno Cava Rodrigues

É autor de A multidão foi ao deserto (2013), republicado na Argentina, La multitud se fue al desierto (2016). Com Alexandre F. Mendes, publicou A vida dos direitos, ensaio sobre violência e modernidade em Foucault e Agamben (Lumen Iuris, 2008) e A constituição do comum (Revan, 2017). Organizador de Amanhã vai ser maior (2014), Podemos e Syriza; experiências democráticas no século 21 (2015) e A terra treme: leituras do Brasil de 2013 a 2016 (2016), os três pela ed. Annablume, além de Pensar a Netflix – Séries de pop filosofia e política (D'Plácido, 2018), com Murilo Duarte C. Corrêa. Publicou New Neoliberalism and the Other (Lexington Books, 2018), Enigma do disforme (Mauad, 2018) e A vida da moeda (Mauad, 2020), com Giuseppe Cocco. Escreve em vários sites, com artigos publicados em revistas. Orcid: https://orcid.org/0009-0007-6814-7200. E-mail: hamletvictrix@gmail.com.

Referências

ALTHUSSER, Louis. Du matérialisme aléatoire. In Multitudes 2005/2, n. 21. p. 179-194.

ARANTES, Otília Beatriz Fiori. Klee, a utopia do movimento. In Revista Filosófica São Boaventura, v. 12, n. 1, jan/jun. 2018. p. 21-42.

ARISTÓTELES. Metafisica, org. Giovanni Reale. Milan: Bompiani, 2000.

ARISTÓTELES. La física, org. L. Ruggiu. Milan: Mimesi, 2007.

BARRON, Stephanie. Degenerate Art: The fate of the avant-garde in Nazi Germany. New York: Harry N. Adams, 1991.

BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade: A propósito da teoria de Einstein. Tradução de Carla Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2006 [1922].

BERGSON, Henri. A ideia de tempo: Curso no Collège de France (1901-1902). Tradução de Débora Morato Pinto. São Paulo: Ed. UNESP, 2022.

BITBOL, Michel. L’aveuglante proximité du réel. Critique, n. 576, p. 359-383. Mai 1995.

BITBOL, Michel. Philosophie quantique. Le monde est-il extérieur. Paris: Mimésis, 2023.

BOHR, Niels. Atomic theory and the description of nature. Cambridge: Cambridge University Press, 1961.

BOHR, Niels. The philosophical writings of Niels Bohr, Vol. 3: Essays 1958-1962 on atomic physics and human knowledge. Woodbridge, CN: Ox Bow Press, 1995.

BOURNEUF, Annie. Paul Klee: The visible and the intelligible. Chicago: Chicago University Press, 2015.

BRAVER, Lee. Groundless Grounds. A study of Heidegger and Wittgenstein. Boston, MA: MIT Press, 2012.

BRÉZIN, Édouard. The inescapable strangeness of the quantum world. In D’ESPAGNAT, Bernard; ZWIRN Hervé. The quantum world: philosophical debates on quantum physics. Berlin: Springer, 2017, p. 1-30.

CAMPO, Alessandra; GOZZANO, Simone (org.) Einstein vs. Bergson: An enduring quarrel on time. Berlin: de Gruyter, 2022.

CANALES, Jimena. Bedeviled: A shadow history of demons in science. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2020.

CHILDERS, Timothy. Philosophy and probability. Oxford: Oxford University Press, 2013.

COCCO, Giuseppe; CAVA, Bruno. Enigma do disforme: neoliberalismo e biopoder no Brasil global. Rio de Janeiro: Mauad, 2018a.

COCCO, Giuseppe; CAVA, Bruno. Le travail des lignes. Revue Multitudes, n. 70. Paris, 2018b. p. 195-200.

DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. São Paulo: ISA, 2014.

DESCARTES, René. Discurso do método & ensaios. Compilado por Pablo Ruben Mariconda. São Paulo: Ed. UNESP, 2018.

D’ESPAGNAT, Bernard. Veiled reality. An analysis of present-day – quantum mechanical and concepts. Boulder, CO: Westview Press, 2003.

D’ESPAGNAT, Bernard. On Physics and Philosophy. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2021.

EINSTEIN, Albert; BORN, Max. The Born-Einstein letters: correspondence between Albert Einstein and Max and Hedwig Born from 1916–1955, with commentaries by Max Born. Macmillan, 1971. p. 158.

EINSTEIN, Albert; PODOLSKY, B.; ROSEN, N. Can quantum-mechanical description of physical reality be considered complete? Physical Review, Princeton, NJ, v. 47, 1935, p. 777-780.

FEYNMAN, Richard P. QED. Milano: Adelphi, 1989.

GHINS, Michael. A inércia e o espaço-tempo absoluto. Campinas: UNICAMP, 1991.

HAHN, Roger. Le système du monde: Pierre Simon Laplace, un itinéraire dans la science. Tradução: Patrick Hersant. Paris: Gallimard, 2004.

JAMMER, Max. The conceptual development of quantum mechanics. 2. ed. New York, NY: McGraw Hill, 1989.

JUNIPER, James. Deleuze and the calculus. Society of Heterodox Economics, dez. 2006, p. 239-248.

KAISER, David. How the hippies saved physics: Science, Counterculture, and the Quantum Revival. New York: Norton, 2012.

KATSUMORI, Makoto. Niels Bohr complementarity: its structure, history and intersection with hermeneutics and deconstruction. Berlin: Springer, 2011.

KLEE, Paul. Théorie de l’art moderne. Tradução Pierre-Henri Gonthier. Paris: Gallimard, 1998 [1964].

KLEE, Paul. Teoria della forma e della figurazione, v. 2. Tradução Carlo Mainoldi. Milano: Feltrinelli, 1970.

KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito, 2. ed. Tradução Donaldson M. Garschagen. Rio de Janeiro: Forense, 1986 [1957].

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 13. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

KUMAR, Manjit. Einstein, Bohr, and the Great Debate About the Nature Of Reality. New York: Norton, 2010.

LINDLEY, David. Uncertainty: Einstein, Heisenberg, Bohr, and the Struggle for the Soul of Science. London: Anchor Books, 2008.

MICHELSON, Albert A. Annual register, jul. 1895 – jul. 1896. Chicago: Chicago University Press, 1896.

MITTELSTAEDT, Peter. The interpretation Quantum Mechanics and the Measurement Process. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

NEWTON, Isaac. Principia – Livros II e III: Princípios Matemáticos de Filosofia Natural – O sistema do mundo. São Paulo: EDUSP, 2008.

PAULI, Wolfgang. Niels Bohr and the development of physics: essays dedicated to Niels Bohr on the occasion of his seventieth birthday. London: Pergamon Press, 1955.

PETERSON, Aage. The philosophy of Niels Bohr. Bulletin of the Atomic scientists, v. 19, n. 7, 1963.

PLOTNITSKY, Arkady. Reading Bohr: Physics and philosophy. Berlin: Springer, 2006.

PLOTNITSKY, Arkady. Niels Bohr and complementarity: An introduction. Berlin: Springer, 2013.

PLOTNITSKY, Arkady. Reality without realism: Matter, thought and technology in quantum physics. Berlin: Springer, 2021.

ROVELLI, Carlo. Helgoland. Milan: Adelphi, 2020.

SCHUSTER, John. Descartes-agonistes: psycho-mathematics, method & corpuscular mechanism 1618-33. Berlin: Springer, 2013.

SCIAMA, Dennis. La relativitá generale: fondamenti fisici della teoria. Torino: BMS, 1963.

SERRES, Michel. O nascimento da física no texto de Lucrécio; correntes e turbulências. Tradução de Péricles Trevisan. São Paulo: Ed. UNESP, 2003.

SMOLIN, Lee. La rivoluzione incompiuta di Einstein: La ricerca di ciò che c´è al di lá dei quanti. Tradução de Simonetta Frediani. Torino: Einaudi, 2020.

STENGER, Victor J. The quantum uncounscious: Metaphysics in modern physics and cosmology. New York: Prometheus, 1995.

THOM, René. Prédire n'est pas expliquer. Entretiens avec Emile Noël. 2. ed. Paris: Flammarion, 1993.

Downloads

Publicado

2025-03-19