Hans Jonas e a reflexão sobre Deus e ética após Auschwitz

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/ua.v26i41.e58166

Palavras-chave:

Auschwitz, Deus, Ética, Mal, Teodiceia

Resumo

Os horrores do século XX, dos quais o episódio de Auschwitz destaca-se como emblemático referencial, colocaram em questão a representação de um Deus absolutamente bom e onipotente, em razão da incompatibilidade lógica desses atributos com o mal radical ocorrido. Este artigo propõe-se a explorar a reflexão do filósofo Hans Jonas, que ensaia uma narrativa de Deus considerando a sua ausência na tragédia da Shoah. Refutando as justificativas racionais da teodiceia, Jonas busca uma nova perspectiva através de um mito cosmogônico, no qual Deus autorrenuncia à onipotência em prol da autonomia cósmica, expondo-se às contingências do mundo, inserindo-se no devir do espaço-tempo e por ele sendo afetado. A abdicação voluntária de Deus promove a autonomia do homem, posicionando-o em um horizonte ético, no qual é responsável, não só por si próprio, mas por toda a criação e, até mesmo, pelo plano de Deus, que é impactado pelas ações e omissões humanas.      

Biografia do Autor

Luiz Fernando Pires Dias, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas)

Doutorando e Mestre em Ciências da Religião filosofia  pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e Bacharel em filosofia pela mesma instituição.

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Publicado

2023-03-14

Como Citar

Dias, L. F. P. (2023). Hans Jonas e a reflexão sobre Deus e ética após Auschwitz. Último Andar, 26(41), e58166. https://doi.org/10.23925/ua.v26i41.e58166