Entre sombra e luzes: a cultura da curiosidade e suas ambivalências no século XVIII
DOI:
https://doi.org/10.23925/poliética.v8i1.51942Parole chiave:
Iluminismo, racionalidade, liberdade, tecnicismo, barbárieAbstract
No século XX o Iluminismo foi alvo de críticas radicais. Em Dialética do esclarecimento, publicado inicialmente em 1944, os filósofos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, em particular, queriam mostrar que, no próprio processo de seu desenvolvimento, o Iluminismo resultou dramaticamente em seu oposto. Em vez de trabalhar por uma sociedade mais humana, a racionalidade do Iluminismo teria degenerado para uma forma de positivismo e tecnicismo, levando a uma nova forma de barbárie e opressão, contra a qual o Iluminismo, no entanto, se levantou. Essa leitura do Iluminismo fazia sentido no contexto de uma interrogação sobre o advento dos totalitarismos e do nazismo. Mas numa época em que certos princípios fundamentais do Iluminismo são, por todos os lados, violenta ou cinicamente postos em questão, investigar esse julgamento pareceria particularmente inapropriado. Não se trata, porém, de se limitar a apresentar um Iluminismo radiante que contribui para a invenção das liberdades com entusiasmo unânime, numa visão simplista do progresso do espírito humano. O fenômeno iluminista é rico em tensões, contradições e ambiguidades que não devem ser ignoradas. Gostaríamos de nos concentrar, aqui, em uma das manifestações mais emblemáticas dessa ambivalência: o surgimento de uma nova cultura da curiosidade cujo advento é inseparável do Iluminismo.