O desastre de Mariana através do Jornal A Sirene

a emergência de uma estrutura de sentimento entre os atingidos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1982-6672.2022v15i45p50-76

Palavras-chave:

Antropoceno, desastre de Mariana, extrativismo mineral brasileiro, sociologia dos desastres

Resumo

Entendendo o desastre de Mariana como um processo ainda em curso, o artigo busca enfatizar e tensionar camadas de investigação às investidas da Sociologia dos Desastres no terreno das dimensões subjetivas associadas a tais processos disruptivos. Isso significa que exercita um tipo de análise que se implica na compreensão dos impactos sociais, mais especificamente as transformações no auto entendimento coletivo, a elaboração e construção de sentidos para os desastres e as disputas destes, uma vez que abertos à negociação em uma esfera pública. Na impossibilidade do trabalho de campo por causa da crise sanitária da Covid-19, é a partir da análise documental de edições do jornal A Sirene, veículo comunitário realizado centralmente por atingidos da região rural de Mariana desde 2016, que o artigo busca identificar a emergência e a sedimentação de uma “estrutura de sentimento”: um processo de assemblage emocional, de arranjo afetivo processual e de produção de uma nova consciência a partir do desastre que a ideia de estrutura de sentimento busca lidar. Isso se torna viável a partir de fragmentos com tonalidade testemunhal que possibilitam remontar uma dinâmica de sofrimento social e de instâncias de empoderamento, bem como perceber dimensões de uma política de memória. No horizonte essa estrutura de sentimento é articulada tanto por uma ampliação da solidariedade quanto por uma luta por reconhecimento (e por reparação). Essa estrutura de sentimento, por fim, trás para o primeiro plano uma outra história da mineração que, sugiro, está submergida em um contexto de trauma cultural.

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Biografia do Autor

Natanael de Alencar Santos, PPGS/UFSCar

Doutorando em Sociologia na Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia (2018) na Universidade Federal da Paraíba Licenciado em Ciências Sociais (2019) pela mesma universidade. Possui graduação em Comunicação Social pela Faculdade Santo Agostinho de Teresina (2012). É membro do grupo de pesquisa TRAMA - Terra, Trabalho, Migração e Memória (Cnpq). Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/7528521103315148.

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Publicado

2023-01-29