Desastres, ruínas e desafios do extrativismo mineral brasileiro

a regulação das barragens de rejeito de mineração

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1982-6672.2022v15i45p28-49

Palavras-chave:

Mineração, Barragem de rejeito, Política pública, Antropoceno

Resumo

Neste artigo, argumento que o contexto neoliberal, aliado ao perfil extrativista da economia brasileira, levou a pseudo-respostas dos agentes econômicos e a iniciativas ambíguas dos órgãos de regulação no Brasil para lidar com os rompimentos de barragens de rejeito de mineração. O texto, com base em revisão bibliográfica, complementa resultados de pesquisas específicas adotando uma visão sintética. Ao longo do estudo descrevo a visão extrativista que se consolidou na política mineral brasileira, explicitando suas diferentes fases. Em seguida, apresento, em nível global, as tendências temporais e geopolíticas dos rompimentos de barragem. Depois, discuto as iniciativas de “mercado” para lidar com os rompimentos de barragem e explicito suas limitações. Então, discorro sobre as tentativas de regulação estatal e os repetidos recuos das entidades governamentais. Por fim, aponto para o embate entre o setor mineral, que busca construir uma imagem positiva, e os movimentos sociais, que questionam o atual modelo mineral brasileiro.

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Biografia do Autor

Bruno Milanez, UFJF

Possui graduação em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), mestrado em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos (2002) e doutorado em Política Ambiental - Lincoln University (2006). Atualmente é professor no programa de Pós-graduação em Geografia e no Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica da Universidade Federal de Juiz de Fora.

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Publicado

2023-01-29