A sobrevivência de Sikán: imagens de uma lembrança sagrada na obra de Belkis Ayón

Autores

  • Maria Angélica Melendi EBA, UFMG, IEAT

DOI:

https://doi.org/10.23925/2019.v34.dossie2

Palavras-chave:

Arte Cubana, Arte e Sagrado, Arte e Memória, Memória Ancestral, Arte e Etnia

Resumo

Este ensaio aborda a obra de uma artista cubana, Belkis Ayón (1967-
1999), uma jovem negra, que, no breve tempo de sua vida, nos legou imagens
perturbadoras, onde o sagrado excede os limites do mistério e do culto e se expande
no âmbito de uma vida comum e compartilhada. O tema da cultura abakuá, uma
sociedade secreta masculina que tem suas origens no longínquo Calabar, atravessa
a iconografia da arte cubana. Tal vez, o primeiro expoente tenha sido o pintor
espanhol Víctor Patricio de Landaluce, que residiu em La Habana até sua morte.
No século XX, o culto abakuá, foi abordado por vários pintores cubanos: René
Portocarrero, Mariano Rodríguez e sobre tudo Wifredo Lam. Belkis Ayón deriva
só parcialmente dessa tradição: a pesar de acompanhar as cerimonias públicas e
estudar os relatos da tradição abakuá nas obras de Lydia Cabrera, Fernando Ortiz e
Enrique Sosa Rodríguez, a artista concebe, grava e imprime imagens que provêm
de uma memória sagrada e ancestral. Ela imagina imagens a partir do relato
primordial e assim oferece a Sikán uma sobrevida que excede o espaço restrito
por onde espalha-se um secreto nascido à beira do rio Oyono, na Nigéria. Vinte
anos depois da morte de Ayón, podemos detectar na sua obra as problemáticas
contemporâneas de gênero, etnia, situação social e exclusão. Uma mulher captura
o som com que se evoca o espírito e, por isso, é sacrificada. Será necessária outra
mulher para dar imagem e voz à lembrança sagrada sequestrada e apropriada
pelos homens.

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Biografia do Autor

Maria Angélica Melendi, EBA, UFMG, IEAT

Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (1999)

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Publicado

2019-08-27