R.W.Emerson ou o Método Filosófico dos Americanos

Autores

  • Gabriel Guedes Rossatti Universidade Federal de Santa Catarina/ UFSC - Brasil

Palavras-chave:

Filosofia Americana, Individualismo, Pragmatismo, Self-Reliance, Transcendentalismo

Resumo

Em 1840 o pensador social francês Alexis de Tocqueville (1805-1859) abria o segundo volume de sua aclamada pesquisa acerca da democracia americana (De La Démocratie en Amérique) com a seguinte asserção: “Acredito que não exista, no mundo civilizado, país que menos se preocupe com filosofia do que os Estados Unidos.” Ele então acrescentava que os americanos não apenas não possuíam uma escola filosófica própria, como não prestavam atenção às europeias. Contudo, Tocqueville percebia um ‘certo método filosófico’ a permear as menores ações dos habitantes dos Estados Unidos, embora fosse um método implícito, não escrito ou desenvolvido em livros. Empregando, assim, suas habilidades filosóficas para traçar as origens desse método, Tocqueville desenvolve a seguinte – e peculiar – noção: “A América, assim, é um dos países do mundo onde menos se estuda e onde melhor se seguem os preceitos de Descartes.” Descartes, dessa forma, é transformado, como que através de um truque de mágica, em um dos ‘pais fundadores’, embora nisso não estivesse sozinho, posto que Tocqueville aponta como outras fontes de tal método figuras como Bacon, Lutero e Voltaire. Mais especificamente, Tocqueville reconheceria que a filosofia americana possuiria três características: a) o desejo de julgar tudo por si mesmo; b) o ‘gosto’ do tangível e real e, c) o desprezo pela tradição. Logo, o método filosófico dos americanos é concebido por Tocqueville em termos tanto de sua crença na auto-suficiência da razão quanto de seu pendor para a vida prática, sendo, assim, interpretado como um método decididamente pragmático, voltado para a vida real dos indivíduos inseridos em situações concretas. Entretanto, o que Tocqueville não sabia é que na época em que escrevia tais reflexões um pensador americano chamado Ralph Waldo Emerson (1803-1882) vinha a desenvolver uma linha de pensamento semelhante a esta compreensão de Tocqueville acerca do método filosófico dos americanos. Com efeito, não apenas a filosofia de Emerson contemplava os três itens enumerados acima, como podia já ser sintetizada na expressão auto-confiança, não por acaso título de um de seus mais célebres ensaios. Desse modo, argumentaremos que concomitantemente às percepções de Tocqueville acerca de uma original filosofia americana caracterizada pela recusa do pensamento especulativo, Emerson vinha já a muito conscientemente desenvolver uma filosofia prática e individualista muito semelhante àquela que Tocqueville compreendia como a difusa, por não se encontrar sistematizada, filosofia americana. Assim, levaremos em conta a teoria tocquevilliana da filosofia americana tal qual desenvolvida em De La Démocratie en Amérique II, publicada em 1840, de forma a esclarecer a concomitante produção emersoniana de finais da década de trinta a início da de quarenta, dando ênfase especial ao ensaio publicado em 1841 de título Self-Reliance.

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