Crenças por contágio
a estrutura semiótica da transmissão de conteúdos virais nas redes
DOI:
https://doi.org/10.23925/2316-5278.2025v26i1:e73858Palavras-chave:
Crença, Contágio, Memes, Redes, SemióticaResumo
A discussão peirciana sobre os modos de fixar crença permanece atual diante do cenário informacional contemporâneo, no qual as redes digitais assumem lugar central na produção e circulação de conteúdos. Entretanto, os critérios que garantiam confiabilidade às crenças científicas, como a continuidade da experiência, o teste empírico e o escrutínio comunitário, vêm sendo substituídos por processos de validação social imediata baseados na velocidade, repetição e viralidade da informação. Neste artigo, analisamos o fenômeno que denominamos transmissão de crenças por contágio, entendido como um modo emergente de reprodução da crença em ambientes mediados por plataformas digitais. Para tanto, revisamos o conceito de crença no pragmatismo de Peirce e o situamos no contexto semiótico das redes. Em seguida, descrevemos a estrutura triádica que sustenta a dinâmica desse contágio, articulada na relação meme–rede–crença: o meme como elemento icônico, a rede como índice e a crença como símbolo enquanto lei geral de ação. Demonstramos que essa forma de disseminação não resulta do diálogo com os fatos, mas da capacidade de engajamento comunitário e algorítmico, configurando uma simulação da investigação científica que compromete a formação de hábitos responsivos à realidade. Por fim, defendemos a necessidade de promover, no ambiente digital, formas de circulação de crenças que recuperem os princípios cooperativos e investigativos do método científico, de modo que a racionalidade possa também se tornar objeto de um contágio orientado ao crescimento da experiência e ao ideal de verdade.
Referências
BAGGIO, R. H. Como as redes fixam crença: uma análise realista da pós-verdade e suas implicações semiótico-pragmáticas. 2021. 200 f. Tese (Doutorado) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, São Paulo, 2021.
BRUNS, A. Blogs, Wikipedia, Second Life, and Beyond: From Production to Produsage. New York: Peter Lang. 2008
CANNIZZARO, S. Internet Memes as Internet Signs: a semiotic view of digital culture. Sign Systems Studies, v. 44, n. 4, p. 562-586, 2016.
DAWKINS, R. The Selfish Gene. 2 ed. Oxford/New York: Oxford University Press, 2006.
FRACASTORO, H. De sympathia et antipathia rerum. Liber unus. De contagione et contagiosis morbis et curatione. Libri III. 1546. Disponível em: <http://pds.lib.harvard.edu/pds/view/7552491?n=1&imagesize=600&jp2Res=0.25. Acesso em 02/11/2024/.
GIORDANO, P. No Contágio. Trad. Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
IBRI, I. A. Habit Formation and Self-Organization: a Peircean approach. In: PEREIRA JR, A.; PICKERING, W. A.; GUDWIN, R. R. (Orgs.). Systems, Self-Organization and Information: an Interdisciplinary Perspective. New York: Routledge, 2019, v. 1, p. 192-204.
PEIRCE, C. S. Collected Papers of Charles Sanders Peirce. 8 vols. HARTSHORNE, C.; WEISS, P.; BURKS, A, (Ed.). Cambridge, MA: Harvard University Press. 1931-1935; 1958.
PEIRCE, C. S. Philosophical writings of Peirce. BUCHLER, J. (ed.). New York: Dover Publications, 2011.
SANTAELLA, L. A Teoria Geral dos Signos: Semiose e Autogeração. São Paulo: Editora Ática, 1995.
SERRES, M. O Parasita. Trad. Priscila Figueiredo. São Paulo: Editora UNESP, 2013.
TOFFLER, A. The Third Wave. New York: William Morrow, 1980.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.






