Da Individuação à Cumulatividade: a incorporação nominal em Tenetehára (Tupí-Guaraní)

Autores

  • Ricardo Campos de Castro Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) https://orcid.org/0000-0003-3513-1409
  • Quesler Fagundes Camargos Professor Adjunto no Departamento de Educação Intercultural (DEINTER) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização) em Educação Escolar Indígena (PPGEI). https://orcid.org/0000-0001-9112-4858
  • Cíntia Maria Santana da Silva

DOI:

https://doi.org/10.1590/1678-460X202339248182

Palavras-chave:

tupi-guarani, tenetehára, incorporação nominal, cumulatividade, individualização

Resumo

Para expressar individuação e cumulatividade, as línguas naturais apresentam uma significativa diversidade de mecanismos gramaticais que envolvem estratégias lexicais, morfológicas e sintáticas. Pretendemos demonstrar que, na língua Tenetehára (Tupí-Guaraní), a incorporação nominal constitui-se como um desses recursos. Para isso, será discutida essa operação sintática, que expressa baixo grau de individuação do termo incorporado, além de resultar ainda em nomes com uma interpretação cumulativa. Embora não haja, por exemplo, artigos nessa língua que possam denotar definitude ou especificidade, objetos não incorporados apresentam maior grau de individuação quando são contrastados com suas versões incorporadas. A análise aqui proposta se fundamenta em dados linguísticos elicitados que compreendem as duas estratégias de incorporação nominal nessa língua: (i) incorporação nominal com redução de valência, que envolve a incorporação do objeto de verbos transitivos; e (ii) incorporação sem diminuição de valência, que diz respeito à incorporação do termo possuído de sintagmas nominais na função sintática de sujeito de verbos intransitivos e objeto de transitivos.

Biografia do Autor

Ricardo Campos de Castro, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Doutor em Estudos Linguísticos pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais (PosLin/UFMG).  Professor Visitante no Departamento de Linguística da Universidade da Geórgia (UGA, EUA) e no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL/UNICAMP). Bolsista de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Processos 2017/09615-9 e 2018/06203-4, respectivamente.

Quesler Fagundes Camargos, Professor Adjunto no Departamento de Educação Intercultural (DEINTER) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização) em Educação Escolar Indígena (PPGEI).

Doutor em Estudos Linguísticos (2017), na área de concentração Linguística Teórica e Descritiva, pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (POSLIN) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com período sanduíche na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) em Moçambique (2014), ocasião em que desenvolveu atividades de pesquisa a respeito de aspectos da morfossintaxe de línguas africanas (Bantu) e indígenas. Mestre em Estudos Linguísticos (2013) pelo POSLIN/UFMG e graduado (2010) em Letras ? Licenciado em Português e Bacharel em Linguística ? pela Faculdade de Letras (FALE) da UFMG. Pesquisador no Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia (GPEA/UNIR), na linha de pesquisa Estudos da Linguagem Intercultural e membro do Laboratório de Línguas e Culturas Indígenas (LALIC/UNIR). Coordena projetos de pesquisas, tendo como objetivo o estudo da sintaxe e da morfologia de línguas indígenas brasileiras, sobretudo a respeito das línguas Guajajára e Amondawa (Tupí-Guaraní), Wari? (Txapakura), Paiter e Cinta Larga (Mondé) e Aikanã (língua isolada). Vem adotando, como suporte teórico, intuições da tipologia linguística e desenvolvimentos recentes da Teoria Gerativa. Dentre os vários aspectos gramaticais, tem se interessado, por exemplo, pelos sistemas de concordância verbal, processos de aumento de valência verbal por meio da causativização e aplicativização, codificação de tempo, aspecto e modalidade. Além disso, coordena um projeto de documentação, descrição e análise das línguas da família Txapakura, cujo objetivo é a construção de uma gramática descritiva e a produção de material pedagógico a ser utilizado nas escolas indígenas.

Cíntia Maria Santana da Silva

Possui graduação em Intercultural Para Formação e Habilitação de Educadores Indígenas pela Universidade Federal de Goiás(2015). Atualmente é Professora contratada da Prefeitura Municipal de Amarante (RO). Tem experiência na área de Educação.

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Publicado

2023-09-30

Como Citar

de Castro, R. C., Camargos, Q. F., & da Silva, C. M. S. (2023). Da Individuação à Cumulatividade: a incorporação nominal em Tenetehára (Tupí-Guaraní). DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 39(2). https://doi.org/10.1590/1678-460X202339248182

Edição

Seção

Artigos