A interação de duas crianças pequenas com Síndrome de Down e suas mães

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/2176-2724.2025v37i4e72342

Palavras-chave:

Interação Mãe-Criança, Linguagem

Resumo

Introdução: As escolhas terapêuticas do fonoaudiólogo dependem da concepção de linguagem adotada, especialmente quando esta inclui a subjetividade da criança. A partir dessa perspectiva, o estudo aborda a importância da inserção da criança nas cadeias enunciativas e o impacto dessa inserção na aquisição da linguagem. Objetivo: Este estudo tem como objetivo descrever as interações entre duas crianças pequenas com Síndrome de Down e suas mães. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, aprovada pelo Comitê de Ética (CAAE 6.857.321), realizada por meio da filmagem de interações lúdicas entre mães e crianças, posteriormente transcritas e analisadas segundo o protocolo de Sinais Enunciativos de Aquisição da Linguagem (SEAL), que permite observar a inserção da criança nas cadeias enunciativas, campo de brotamento da linguagem. Resultado: Ambas as crianças apresentaram sinais enunciativos aquém do esperado para a idade, com interações que se desfazem rapidamente. Observou-se que as mães não sustentam o jogo enunciativo, deixando de reconhecer e significar as manifestações verbais e não verbais das crianças. O discurso materno tende a ocupar um lugar pedagógico, centrado na nomeação e ensino de palavras, com pouca abertura à escuta. A análise sugere que os impasses no desenvolvimento da linguagem não se devem apenas aos poucos recursos linguísticos das crianças, mas também à frágil sustentação enunciativa materna. Conclusão: Conclui-se que análises enunciativas contribuem para ampliar a compreensão dos atrasos de linguagem em crianças com Síndrome de Down, evidenciando a importância do lugar do outro na constituição do sujeito falante.

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Biografia do Autor

Ana Paula Bellarmino Balbo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Fonoaudióloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 2022. Conclui, em julho de 2025, o mestrado em Comunicação Humana e Saúde pela mesma instituição. Atua na clínica fonoaudiológica com foco no desenvolvimento infantil, linguagem e síndrome de Down. Já exerceu a função de preceptora de estágio na graduação em Fonoaudiologia, participando da formação prática de novos profissionais. Sua trajetória tem sido marcada pelo compromisso com a escuta clínica, a prática reflexiva e o aperfeiçoamento constante no campo da linguagem.

Ruth Ramalho Ruivo Palladino, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Fonoaudióloga com ampla experiência clínica e acadêmica. Possui doutorado em Psicologia Clínica (com ênfase em Clínica Fonoaudiológica e Fisioterápica), concluído em 2007, e mestrado em Linguística Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concluído em 1982. Atua desde 1988 na Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, especialmente no Departamento de Linguagem, contribuindo para o desenvolvimento da área com atividades de serviço, ensino e pesquisa. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à clínica fonoaudiológica com foco em linguagem, reabilitação e formação profissional.

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Publicado

2025-12-05

Edição

Seção

Artigos