<b>Sumário | Editorial</b>

Autores

  • Irene Machado

Resumo

Galáxia chega ao seu segundo número. Passada a cerimônia de batismo, é hora de enfrentar a não menos difí­cil tarefa de garantir a consolidação de seu perfil editorial na área de sua competência cientí­fica. Espera-se que os leitores de Galáxia - ou, quem sabe?, seus futuros colaboradores - estejam cada vez mais esclarecidos sobre a opção pela diversidade, tanto aquela que diz respeito à transdisciplinaridade, quanto aquela que acolhe a variedade temática, base da linha editorial que desenhou esse projeto. Concebida como uma constelação - que se explicita na escolha do nome, no design gráfico, nas articulações das áreas envolvidas - Galáxia não se enquadra no perfil das revistas temáticas que se fecham em torno de uma única questão ou de um mesmo objeto, compilando sobre eles os vários pontos de vista ou seus desdobramentos possí­veis. Isso não quer dizer que não haja nela espaço para esse tipo de encaminhamento. Na verdade, Galáxia procurou desenhar um lugar - as sessões - em função dos gêneros que reúnem um conjunto diferenciado de abordagens, assegurando, assim, a transdisciplinaridade. Para os ensaios temáticos projetou o Fórum; para os textos analí­ticos, a sessão Artigos. Notí­cias, Projetos, Diálogos, Entrevistas e outros gêneros que possam ser incorporados no futuro definem as sessões que tanto podem estar centradas num único tema quanto abertas para explorações diversificadas. Cada uma, a seu modo, oscila entre o caráter ensaí­stico, a análise aplicada ou experimentação crí­tico-criativa. Neste segundo número, a seção Fórum acolheu dois ensaios que enfrentam a difí­cil tarefa de explicitar não só a essência como também o caráter da abordagem semiótica para a compreensão e análise da comunicação polí­tica. Eric Landowski e Gianfranco Marrone desenvolvem, à luz da sociossemiótica, um diálogo estreito sobre a natureza dos próprios regimes de sentido e interação que permitem, ao final, uma clara distinção entre "o" polí­tico e "a" polí­tica. Teórico dos mais respeitados e atuantes entre os semioticistas da escola semiótica francesa, Landowski enfrenta a discussão sobre o próprio estatuto da semiótica e dos rumos que a disciplina vem tomando nos últimos dez anos, desde que passou a se ocupar, mais diretamente, de um sentido sensí­vel - um sentido cuja particularidade é justamente "ser sentido". Num desdobramento direto às proposições de Landowski, Gianfranco Marrone examina, entre outros pontos, como o apelo a esse sentido sentido vem modificando as próprias práticas do marketing polí­tico e as estratégias de comunicação dos polí­ticos, ao menos na Itália, cenário a partir do qual desenvolve sua análise. Da leitura conjunta dos dois ensaios, emerge uma clara distinção entre o que se poderia denominar de um regime do sentido e um regime da significação no domí­nio do polí­tico, em particular, mas não excluivamente nele. Como porta voz da diversidade analí­tica, a seção de Artigos apresenta trabalhos sobre mí­dias, arte, lingüí­stica sob diferentes perspectivas teóricas. Os artigos sobre mí­dia dialogam naturalmente com o universo teórico apresentado no Fórum, ainda que nem todos explicitem um suporte teórico estritamente semiótico, caso de Jesus Martin-Barbero que discute o caráter da esfera pública e processos de sociabilidade segundo a teorização de J. Habermas. Este não é o caso de Muniz Sodré que enfrenta a problemática da discursivização de anúncios sobre medicamentos para o tratamento de Aids levando em conta aspectos funcionais da semiótica discursiva na mí­dia. Os artigos sobre arte submetem seus objetos a focalizações semióticas precisas. Esse é o caso dos trabalhos de José Luiz Martinez sobre o caráter multimidiático da arte indiana, que conjuga música, dança, teatro e poesia, e de Moema Rebouças sobre os contratos na pintura, tomando alguns trabalho de Alfredo Volpi para análise. Finalmente, Leila Darin examina o potencial babélico de alguns programas de softwares usados para tradução entre lí­nguas, refazendo, assim, as interligações entre as linguagens e as lí­nguas. Na sessão Entrevista, Galáxia conseguiu recuper uma das últimas conversas do professor e poeta Philadelpho Menezes num programa de televisão onde discutiu temas de sua paixão teórica: a cultura em tempo de globalização e a conseqüente inserção da poesia produzida no encontro com as tecnologias da comunicação contemporânea. Para complementar a entrevista, e também para homenagear Menezes, a sessão abriu um espaço para uma rápida apreciação do trabalho sobre a poesia sonora e para um levantamento de sua produção crí­tico-criativa, nacional e internacional, realizado pelo também poeta e seu ex-aluno Jorge Luiz Antonio. A poesia continua tendo seu espaço reservado nessa edição de Galáxia. Na sessão Diálogo, J. L. Antonio colheu segmentos de uma longa conversa do e-group Webartery sobre poesia digital. O tema que move esse debate é nada mais do que o código da poesia criada em ambiente digital ou de rede. Com isso, o mecanismo semiótico fundamental da linguagem é aqui submetido a interpretações conflitantes. Afinal, em última análise, é o fazer poético segundo as interferências no código é que está em jogo. Quem quiser um exemplo claro do que motiva essa discussão, basta olhar com merecida atenção a capa deste segundo número de Galáxia: a foto de um deserto que Gilbertto Prado produziu em ambiente digital. Ao fazê-lo, o artista interferiu no código para obrigá-lo a servir a seus propósitos. Essa é uma importante contribuição para a compreensão de como as tecnologias emergentes são dotadas de diferentes potencialidades de linguagem. Duas novas sessões, previstas no projeto editorial mas não incluí­das no primeiro número de Galáxia, surgem agora. As sessões Notí­cias e Projetos. Com muito pesar mas sem fugir da tarefa de apresentar uma sí­ntese teórica de pesquisadores recentemente falecidos, a sessão de Notí­cias abre para anunciar a morte de Francisco Varela, um dos pioneiros na pesquisa de ciências cognitivas, e de Jean-Marie Floch, um pesquisador responsável pelo incremento das pesquisas semióticas tanto no campo da visualidade como também de segmentos importantes da vida social como o marketing. A sessão inclui ainda duas notí­cias sobre eventos. Como foi idealizado no projeto editorial, a sessão de notí­cias deveria contemplar textos que focalizassem os eventos segundo uma perspectiva ensaí­stica refletindo, assim, o posicionamento do observador que dele participou. Nesse aspecto, Alexandre F. Ferreira e Lúcio Agra foram impecáveis. O primeiro mostra sua participação ativa no evento Â´Â´É tudo verdade´´ realizado anualmente em São Paulo para apresentar realizações e discutir as tendências e os rumos do documentário cinematográfico. Lucio Agra, por sua vez, parece ter produzido um artigo ao vivo quando esteve em Buffalo para participar ativamente do festival de poesia eletrônica. A sessão de Projeto, também publicada pela primeira vez, apresenta o trabalho fotográfico de Carlos Fadon Vicente sobre a vida urbana de São Paulo num "texto" que mistura ensaio e narrativa - escrito na confluência entre a palavra e a fotografia. Um trabalho que orienta a leitura fotográfica para que o potencial narrativo seja apreendido. Finalmente, a sessão de resenhas traz análise de obras que, de certo modo, contribuem para o tratamento de questões teóricas do número em questão: ví­deo-poesia, poesia brasileira, cinema brasileiro, a cor como informação, comunicação polí­tica, as marcas na comunicação publicitária. Os trabalhos de cada sessão tentam construir um texto que tanto podem ser lidos na seqüência de suas unidades como na transversalidade de seus temas. Em sí­ntese: o projeto editorial de Galáxia espera que seus leitores alcancem os pontos de vista da transdisciplinaridade nos mais variados campos possí­veis. Irene Machado Editora Cientí­fica

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2007-02-16

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