<b>Sumário | Editorial</b>

Autores

  • Irene Machado

Resumo

As preocupações teóricas que, há dois anos, deflagraram o projeto editorial de Galáxia foram tematizados sob vários pontos de vista nesse número. Desde sua primeira edição, a revista vem defendendo a noção de transdisciplinaridade, seja como forma de abordagem dos diferentes fenômenos da cultura, seja como tema mesmo de várias das intervenções teóricas nela abrigadas. Privilegiar o trânsito entre disciplinas e abordagens, porém, não é um exercí­cio acadêmico. Traduz a compreensão que orienta a abordagem semiótica no tratamento dos produtos da cultura planetária, de suas formas comunicacionais e artí­sticas totalmente mergulhadas nas chamadas novas tecnologias (sistemas digitais, ambientes de rede, realidade virtual), bem como de suas comunidades multiculturais. O exercí­cio transdisciplinar pareceu-nos uma estratégia fundamental para o tratamento de problemas postos na cultura graças ao arrefecimento entre dicotomias ou campos tidos como oponentes. A discussão sobre as relações entre mí­dia e arte inserem-se, com ênfase, nesse novo contexto. Esse é um dos temas inquietantes que está na mente dos pesquisadores e, por isso mesmo, organizou a pauta de discussão deste quarto número de Galáxia. Alguns enfrentamentos sobre o encontro entre arte e mí­dia foram apresentados nos ensaios que compõem o fórum. A intervenção de Arlindo Machado convida o leitor a desfazer equí­vocos: não existe arte que possa prescindir dos meios de seu tempo. Evidentemente sua fala traduz uma linha vigorosa de seu pensamento: a impossibilidade de se pensar comunicação fora do diálogo com as artes e suas linguagens. Ana Claudia de Oliveira enfrentou a tarefa de análise de produções artí­sticas realizadas com os meios e mí­dias de seu tempo para dar conta de um problema caro à comunicação: as estratégias de interação. Embora o foco de seu interesse seja a arte contemporânea, suas idéias confrontam questões que estão longe de se limitar a uma época. Gören Sonnesson também apresenta sua contribuição ao debate ao discutir, no âmbito da fotografia, o problema da interpretação na cultura, dentro de uma perspectiva semiótica. Com isso, a seção apresenta a metalinguagem, a interação e a interpretação como campos conceituais indispensáveis à compreensão, numa perspectiva semiótica, de determinados problemas dessa cultura que que não esconde o domí­nio das mí­dias de seu tempo. Na seção de artigos, Galáxia oferece análises mais pontuais sobre temas e objetos que se inserem nesse panorama teórico. Florence Mí¨ridieu nos honra com um artigo que abre estrategicamente a seção: ao discutir o lugar do corpo nos ambientes virtuais, criados pela linguagem de sí­ntese numérica, a autora toma o estranhamento como uma forma de exercí­cio crí­tico, de metalinguagem, de interpretação. Para isso, ela examina as propostas de trabalhos criados à luz da interatividade das novas mí­dias. André Parente, também situado no mundo das novas tecnologias da comunicação, discute algumas alterações da subjetividade face à comunicação em rede. A preocupação com a metalinguagem como exercí­cio crí­tico está presente também no artigo de Mirna Feitoza Pereira situada no universo das chamadas "velhas mí­dias". Trata-se de uma análise da semioticização da linguagem jornalí­stica, construí­da à revelia dos profissionais que a exercitam. Sincretismo de linguagem é o que Ana Sí­lvia Médola persegue em seu artigo de análise da novela Terra Nostra. Servindo-se de instrumentos teóricos da semiótica discursiva, a autora fornece ao leitor pistas para a leitura da novela, não como mero produto de entretenimento da cultura midiática, mas como texto complexo que não se reduz à mera seqÁencialização de episódios narrativos. O artigo de Angela Prysthon sobre o cinema novo trouxe uma dupla contribuição para esse número de Galáxia. Além de ampliar a discussão sobre cultura brasileira, corrobora o espí­rito transdisciplinar de Galáxia uma vez que, aqui, a orientação da análise não procede da semiótica, mas sim dos estudos culturais. Na mesma linha, Mahammed Elhajji discute "a espacialidade (o espaço vivido, organizado e representado) enquanto instância de produção de subjetividade e de enunciação e/ou reterritorialização da identidade do grupo étnico". Com essa variedade de problemas e de abordagens, Galáxia tenta evidenciar, no seu próprio modo de oaganização, a abordagem transdiciplinar que privilegia nos próprios trabalhos publicados. A necessidade de discutir as questões da cultura de mí­dias extravasou os textos e se tornou assunto em torno do qual Galáxia reuniu artistas, crí­ticos e ensaí­stas na seção diálogo. Galáxia ouviu, por mais de duas horas, depoimentos de Regina Silveira, Lucas Bambozzi, Martin Grossmann, Ana Claudia de Oliveira, Arlindo Machado, Jerusa Pires Ferreira e Mirna Feitoza Pereira. Na mesma linha de registro da oralidade, Galáxia publica uma entrevista com um dos mais ousados criadores de programas da televisão brasileira, Guel Arraes. O espí­rito inovador desse interventor cultural, que sabe aliar, como poucos, mí­dia, arte e entretenimento, levou Galáxia a alterar o formato da entrevista: em vez de pergunta e resposta, Yvana Fechine e Alexandre Figueirôa optaram por um arranjo em que a fala do próprio Guel conduz e mapeia a visão do produtor sobre seu produto e processo de produção. O projeto dessa edição registra o trabalho de Regina Silveira. Artista cuja obra fala por si e poderia dispensar nossos comentários. Contudo, é sempre conveniente lembrar que sua obra artí­stica deriva de experimentos de várias meios e formatos: artes plásticas, ví­deo, instalações, performances, intervenções urbanas e ambientes imersivos. Esferas é um projeto apaixonado cujos bastidores e engenharia de criação Regina nos conta na seção de Galáxia. Na seção de resenhas, este número traz ainda análise de obras imprescindí­veis: Da Imperfeição, de J. Greimas, por Lúcia Teixeira; O instinto da linguagem, de Steve Pinker, por Mirna Feitoza; Interlab. Labirintos do pensamento contemporâneo, organizado por Lucia Leão, por Geane Alzamora; Transformação e Realidade: mundos convergentes e divergentes, organizado por Dulcimira Capisani, por Eluí­za Ghizzi; Tekstura: Russian essays on visual culture, organizado por Alla Efimova e Lev Manovich, por Jeová Rocha; Sinestesia, arte e tecnologia: fundamentos da cromossonia, de Sérgio Roclaw Basbaum, por Eufrásio Prates; Ática, Cidadania e Imprensa, organizado por Raquel Paiva, por Djalma Benette. Duas notí­cias: uma sobre a reunião da COMPÔS, Associação dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, e outra sobre a I Conferência de Semiótica, promovido pela Associação Brasiliense de Comunicação e Semiótica de Brasí­lia. Com essa gama de temas e problemas; teorias e abordagens, Galáxia preserva a seu leitor o direito de avaliar a performance por meio da qual tem enfrentado os debates de temas de sua área de competência e dentro de sua proposta editorial. Irene Machado Editora Cientí­fica

Metrics

PDF views
382
Jul 2007Jan 2008Jul 2008Jan 2009Jul 2009Jan 2010Jul 2010Jan 2011Jul 2011Jan 2012Jul 2012Jan 2013Jul 2013Jan 2014Jul 2014Jan 2015Jul 2015Jan 2016Jul 2016Jan 2017Jul 2017Jan 2018Jul 2018Jan 2019Jul 2019Jan 2020Jul 2020Jan 2021Jul 2021Jan 2022Jul 2022Jan 2023Jul 2023Jan 2024Jul 2024Jan 2025Jul 2025Jan 202681
|

Downloads

Publicado

2007-02-22

Edição

Seção

Editorial | Editorial