Sobre um ponto cego na leitura husserliana de Descartes e sobre o horizonte último não-visto por ambos

Autores

  • Pedro M. S. Alves Universidade de Lisboa - Portugal

DOI:

https://doi.org/10.23925/2764-0892.2024.v3.n2.e70235

Palavras-chave:

Descartes, Husserl, Subjetivismo, Ontologia fundamental, Fenomenologia

Resumo

Neste artigo, avalio a leitura de Descartes feita por Husserl. Argumento que a relação de Husserl com Descartes foi um elemento crucial no desenvolvimento de sua própria ideia de fenomenologia transcendental. Tento mostrar que Husserl não foi sensível ao questionamento cartesiano sobre o ser do ego sum e, a partir disso, sustento que a deriva ontológica contida em Descartes não cede às críticas husserlianas ao "realismo transcendental" e à acusação de ser o precursor do "psicologismo". Caracterizo essa limitação da leitura husserliana como o ponto cego de sua avaliação de Descartes.

Em seguida, procuro demonstrar como há um horizonte ontológico que Descartes apenas antecipa e que Husserl não percebe de modo algum, fechando-se em suas doutrinas sobre a autoconstituição temporal da subjetividade transcendental e sobre o ego como "fato absoluto". Por fim, argumento que o horizonte do ser e sua expressão como um "há" e não como um "eu sou" permanecem irredutíveis tanto à dúvida cartesiana quanto à epoché husserliana. Dessa situação, extraio algumas teses sobre o espaço de uma ontologia fundamental que se sobrepõe às esferas ônticas regionais do sistema husserliano de conhecimento eidético a priori.

Referências

Aristotle (1962) – The Categories, On Interpretation. London: William Heinemann Ltd.

Avenarius, Richard (1905) – Der menschliche Weltbegriff. Leipzig: O. R. Reisland.

Boehm, Rudolf (1959) – „Einleitung des Herausgebers“. In Edmund Husserl, Erste Philosophie (1923/24). Zweiter Teil. Theorie der phänomenologischen Reduktion. The Hague: Martinus Nijhoff, pp. XI-XLIII.

Brand, Gerd (1995) – Welt, Ich und Zeit. Nach unveröffentlichten Manuskripten Edmund Husserls. Den Haag: Martinus Nijhoff.

Descartes, René (1905) – Œuvres de Descartes. Principia philosophiae. Vol. VIII. Paris : Leopold Cerf.

Descartes, René (1904) – Œuvres de Descartes. Meditationes de prima philosophia. Vol. VII. Pa¬ris : Leopold Cerf.

Descartes, René (1903) – Œuvres de Descartes. Correspondence. Vol. V. Paris : Leopold Cerf.

Descartes, René (1901) – Œuvres de Descartes. Correspondence. Vol. IV. Paris : Leopold Cerf.

Descartes, René (1897) – Œuvres de Descartes. Correspondence. Vol. I. Paris : Leopold Cerf.

Heidegger, Martin (1997) – Nietzsche. Zweiter Band. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann.

Held, Klaus (1966) – Lebendige Gegenwart. Die Frage nach der Seinsweise des Transzendentalen Ich bei Edmund Husserl, entwickelt am Leitfaden der Zeitproblematik. Den Haag: Martinus Nijhoff.

Held, Klaus (1981) – „Phänomenologie der Zeit nach Husserl“. Perspektiven der Philosophie. Vo¬lume 7, pp. 185-221.

Husserl, Edmund (2008) – Späte Texte über Zeitkonstitution (1929-1934). Die C-Manuskripte. Dordrecht: Springer.

Husserl, Edmund (2002). Zur phänomenologischen Reduktion. Texte aus dem Nachlass (1926-1935). Dordrecht: Kluwer Academic Publishers.

Husserl, Edmund (1996) – Erste Philosophie (1923-24). Zweiter Teil. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers.

Husserl, Edmund (1976) – Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Phi¬losophie. Den Haag: Martinus Nijhoff.

Husserl, Edmund (1973a) – Zur Phänomenologie der Intersubjektivität. Texte aus dem Nachlass. Erster Teil: 1905-1920. The Hague: Martinus Nijhoff.

Husserl, Edmund (1973b) – Zur Phänomenologie der Intersubjektivität. Texte aus dem Nachlass. Dritter Teil: 1929-1935. The Hague: Martinus Nijhoff.

Husserl, Edmund (1973c) – Cartesianische Meditationen und Pariser Vorträge. Den Haag: Marti¬nus Nijhoff.

Husserl, Edmund (1976) – Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie. Eine Einleitung in die Phänomenologische Philosophie. Den Haag: Mar¬tinus Nijhoff.

Husserl, Edmund (1956) – Erste Philosophie (1923-24). Erster Teil. Den Haag: Martinus Nijhoff.

Landgrebe, Ludwig (1961) – „Husserls Abschied vom Cartesianismus“. Philosophische Rund-schau. Vol. 9, No. 2/3, pp. 133-177.

Lauer, Quentin – “Subjectivity and Objectivity.” Edmund Husserl (1859/1959). Recueil commémo¬ratif publié à l’occasion du centenaire du philosophe. La Haye : Martinus Nijhoff.

Schuhmann, Karl (1977) – Husserls-Chronik. Denk- und Lebensweg Edmund Husserls. Den Haag: Martinus Nijhoff.

Downloads

Publicado

2025-02-19

Como Citar

M. S. Alves, P. (2025). Sobre um ponto cego na leitura husserliana de Descartes e sobre o horizonte último não-visto por ambos. Geltung, Revista De Estudos Das Origens Da Filosofia contemporânea, 3(2), e70235. https://doi.org/10.23925/2764-0892.2024.v3.n2.e70235