A fecundidade da "Quinta Meditação Cartesiana" ou A arte da dissimulação: leituras cruzadas de Husserl e Levinas
DOI:
https://doi.org/10.23925/2764-0892.2024.v3.n2.e70197Palavras-chave:
Husserl, Levinas, Quinta Meditação Cartesiana, Egologia, Solipsismo, IntersubjetividadeResumo
O presente artigo propõe uma nova leitura da Quinta Meditação Cartesiana com base em uma reavaliação da estratégia argumentativa seguida por Husserl no tratamento da questão do outro e de sua articulação com a egologia fenomenológica das Meditações. Essa releitura se fundamenta, em primeiro lugar, na distinção entre dois significados irredutíveis de solipsismo, o que leva à identificação de dois problemas distintos: o problema metafísico do solipsismo, que Husserl resolve e descarta na Quarta Meditação, e o problema do solipsismo transcendental, que a egologia fenomenológica das quatro primeiras Meditações não consegue resolver, na medida em que surge precisamente da solução idealista do solipsismo metafísico.
O artigo demonstra, então, que a colocação desse problema na abertura da Quinta Meditação responde a uma dificuldade interna da egologia husserliana: a impossibilidade de justificar a doação em primeira pessoa das vivências. Essa dificuldade, que afeta toda a fenomenologia husserliana, só poderia ser formulada no contexto de uma análise do modo de manifestação de outros egos — uma análise que revela a possibilidade de questionar a própria egologia. Trazer essa possibilidade à luz sem abandonar os princípios da egologia fenomenológica é o objetivo da "redução à esfera da propriedade" que Husserl realiza nessa Quinta Meditação, de modo a tornar possível uma forma de falha na relação com o outro que, paradoxalmente, garante o sucesso de sua descrição fenomenológica.
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