Jessé Souza e o Racismo Multidimensional
a ausência do ideal educacional moderno e a gênese da “subcidadania” brasileira
DOI:
https://doi.org/10.23925/2175-3520.2024i57p42-50Palavras-chave:
Jessé Souza, Racismo multidimensional, Subcidadania, Ideal educacional moderno, História da educação brasileiraResumo
O objetivo deste artigo é investigar nos trabalhos do sociólogo brasileiro Jessé Souza, especialmente em seus trabalhos “A ralé brasileira”, de 2020, e “Como o racismo criou o Brasil”, publicada no ano de 2021, a relação entre a ausência ou incompletude de um projeto educacional moderno – forjado nos expedientes “civilizatórios” dos ideais liberais da modernidade ocidental – nos processos de construção da sociedade brasileira e o engendramento de uma estrutura social praticamente estática, marcada pela desigualdade e exclusão da maior parcela da população, à qual é reservado um estatuto simbólico de indignidade, demérito e desprestígio social, elementos cofundadores de uma espécie de “subcidadania” inerente associada ao que o autor denominou de “ralé brasileira”, formada, sobretudo, pelos pretos, pardos, povos indígenas originários e pobres. A essa subcidadania da ralé, se contrapõe a autoimagem da “elite do atraso”, a minoria privilegiada branca, que se entende moralmente superior aos demais porque supostamente herdeira dos mais elevados atributos imateriais da cidadania e civilização ocidentais, dentre eles, a capacidade de autocontrole, de disciplina e de prospecção. No sustentáculo dessa divisão há um dispositivo racista que se apresenta multidimensionalmente: como racismo global e simbólico, como racismo de classe e como racismo racial, que ocupa “o comando de todo o processo de subordinação, humilhação e exclusão social da sociedade brasileira” (Souza, 2021, p. 134). Para melhor compreender a hipótese relacional de Souza, será examinado de que forma o desenvolvimento histórico da educação no Brasil, igualmente demarcado pela exclusão e desigualdade, contribui para a manutenção e reprodução desse cenário social.
Referências
Abramovay, M.; Rua, M. G. (2002). Violências nas escolas. Brasília: UNESCO.
Foucault, M. (2010). O nascimento da biopolítica. (P. E. Duarte, trad.). Lisboa: Ed. 70.
Ghiraldelli, P. (2015). História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez.
Giovedi, V. M. (2014). A pertinência do conceito de violência curricular para a compreensão da violência escolar. Revista de Educação do Cogeime, 23(45), 33-47.
Gomes, L. (2019). Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. Volume I. Rio de Janeiro: Globo Livros.
Souza, J. (2019). A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Rio de Janeiro: Estação Brasil.
Souza, J. (2020). A ralé brasileira. São Paulo: Editora Contracorrente.
Souza, J. (2021). Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Psicologia da Educação

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores concedem à revista todos os direitos autorais referentes aos trabalhos publicados. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores.