A Garota Dinamarquesa

como ler um corpo no transfeminismo

Autores

  • Héctor Luis Baz Reyes Universidade Estadual de Campinas
  • Augusto Claudio Andrés Obando Cid Universidade de La Frontera
  • Regina Maria de Souza Universidade Estadual de Campinas

DOI:

https://doi.org/10.23925/2175-3520.2024i57p94-103

Palavras-chave:

Sexualidade, Identidade de gênero, Diferenças sexuais, Mulher trans, Transexualidade

Resumo

Esta investigação concentra-se no filme “A Garota Dinamarquesa”, baseado no romance homônimo The Danish girl, de David Ebershoff, que narra a transformação de Einar Wegener, marido de Gerda Wegener, em Lili Elbe, primeira mulher transexual a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual. A trama ocorre na década de 1920 em Copenhague, onde, a pedido de sua esposa Gerda, Einar substitui uma modelo para uma pintura, iniciando nesse ato uma busca por sua própria identidade, levando-a a um processo de subjetivação, confrontando os cânones morais da época e as instituições, especialmente a medicina psiquiátrica que definia o que era normal e anormal. O objetivo deste trabalho é explorar os temas de confissão, poder e controle numa perspectiva foucaultiana, sobre as questões de sexo e gênero, interrogando as tecnologias de gênero, como proposto por De Lauretis (1987), que posicionam os corpos e os obrigam a existir ou deixar de existir segundo Butler (2019), assim como as tecnologias do sexo, que utilizam a biologia e a medicina como discursos e práticas que fabricam corpos como assinala Preciado (2002). O filme nos possibilita interrogar não apenas a performance de gênero, mas também as instituições que constroem o sexo e o gênero, e que permitem, em alguns casos, a subjetivação para enfrentar as tecnologias de dominação.

Biografia do Autor

Héctor Luis Baz Reyes, Universidade Estadual de Campinas

Doutorando em Educação, com ênfase em Psicologia e Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (UNITAU) e mestre em Ciências Sociais pela Universidad de Artes y Ciencias Sociales (UARCIS) em Santiago de Chile. Graduado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), também possui especialização e graduação em Língua Espanhola e Literatura pelo Centro Regional de Professores de Salto, Uruguai, em 2000, com diploma revalidado pela Universidade de Brasília em 2013, além de ser licenciado em Letras/Português pela Universidade Metodista de São Paulo (2013). Possui experiência nas áreas de Letras, com ênfase em Literatura Hispanoamericana, e em temas relacionados a Gênero, Sexualidade e Etnias, com foco em Estudos de Gênero. Capacitado em Educação da Sexualidade para jovens (ANEP - Uruguai), integra a equipe coordenadora do Núcleo de Gênero e Sexualidade do IFSP, além de participar do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE - IFSP) e dos coletivos Identidades e GT Enfrentamento à Violência - IFSP. Atualmente, leciona as disciplinas de Espanhol e Português no Instituto Federal de São Paulo, Campus Jacareí. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5198-4159

Augusto Claudio Andrés Obando Cid, Universidade de La Frontera

Matrón, Professor de Educação Básica; Licenciado em Educação; Mestre em Ciências Sociais Aplicadas (Universidade de La Frontera – Temuco, Chile). Doutor em Processos Sociais e Políticos na América Latina (UARCIS). Doutor em Ciências Sociais (Universidade do Chile). Acadêmico do departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade de La Frontera. Interessado em temas que intersectam corpo, sexualidade e política, faz parte do Núcleo de Sociologia do Corpo/Emoções da Universidade do Chile, com diversas publicações em língua espanhola, que analisam a semiótica do HIV/AIDS, a ciberencarnação através de plataformas digitais de sexualidade e a interseccionalidade de gênero, sexo e raça/etnia no contexto chileno. É diretor do Diplomado em Estudos Biopolíticos, Biopolíticas desde a Fronteira, na Universidade de La Frontera, e ministra o curso eletivo de genealogia do corpo na modernidade. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0159-1493

Regina Maria de Souza, Universidade Estadual de Campinas

Possui graduação em Psicologia; doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (1996) debruçando-se sobre a história da linguística e os desafios para os modelos de descrição linguística da época se adequarem ao estudo Libras. Atualmente é livre docente em Educação no campo de estudos educação de surdos e Libras pela Universidade Estadual de Campinas. Tem 11 anos de atuação em gestão (foi Coordenadora do Centro de Reabilitação Prof. Dr. Gabriel da Silva Porto da Faculdade de Medicina da UNICAMP; Chefe do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da UNICAMP; Diretora Associada da Faculdade de Educação da UNICAMP). Assessora voluntária da Federação Nacional de Educação de Surdos (FENEIS), membro do GT Libras da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística, representante da UNICAMP no Núcleo Educación para la Integración/AUGM. Acumula experiência na área de Psicologia e Linguística, com ênfase em Psicologia do Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de surdos, educação, políticas educativas, inclusão/exclusão escolar, direitos humanos e linguísticos, educação bilíngue, ações afirmativas e inclusão social. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4880-4361

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Publicado

2025-02-27