Sem Shibboleths
Aulas de yorùbá em terreiros de batuque e a hipótese do nacionalismo linguístico
DOI:
https://doi.org/10.23925/1677-1222.2024vol24i1a16Palavras-chave:
shibboleth, batuque, religiosidade afr-brasileira, ensino de yorùbá, nacionalismoResumo
observamos o estudo do idioma yorùbá por grupos afro-religiosos no Brasil experimentando o conceito sociolinguístico shibboleth, para cogitar a hipótese da imaginação de uma comunidade nacional transatlântica. Apresentamos as aulas de yorùbá do mestre Cica de Òyó no terreiro da Mãe Sandra de Xapanã em Alvorada (RS, Brasil). O idioma se aprende desde a cosmopolítica afro-brasileira, estabelecendo relações de cortesia e diplomacia que valorizam a diferença, para enriquecer os rituais litúrgicos e a memória comunitária, como habilidade conectiva com o heterogêneo e etimologia contra-colonial. O estudo do yorùbá não busca a homogeneização normativa, o que contesta a tese antropológica da eclesificação do culto aos orixás e da reafricanização como concorrência pela pureza originária. Sem shibboleths, o estudo do idioma não institui normas visando uma nação yorùbá transatlântica, mas ativa agenciamentos entre nações, bacias, casas, ancestrais, deuses e aparelhos, valorizando a multiplicidade como patrimônio da matriz afro-brasileira.
Referências
ANDERSON, B. Comunidades Imaginadas. Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ALBERTO, P. L. Para africano ver: African-Bahian exchanges in the reinvention of Brazil’s racial democracy, 1961–63. Luso-Brazilian Review, vol. 45, n. 1, p. 78-117, 2008. http://dx.doi.org/10.1353/lbr.0.0021
ALBERTO, P. L. Terms of inclusion: Black intellectuals in twentieth-century Brazil. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2011.
ANJOS, Jose Carlos Gomes dos. No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006.
BUSCH, Brigitta; SPITZMÜLLER, Jürgen. Indexical borders: the sociolinguistic scales of the shibboleth. International Journal of the Sociology of Language, n. 272, pp. 127-152, 2021. https://doi.org/10.1515/ijsl-2020-0095
CAPONE, S. Entre Iorubas e Bantos: a influência dos estereótipos raciais nos estudos afro-americanos. Antropolítica. n. 19, p. 63-90, 2005.
CAPONE, S. Searching for Africa in Brazil: Power and tradition in Candomblé. Durham: Duke University Press, 2010.
CARNEIRO, Aparecida Sueli. Dispositivo de Racialidade. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
CORREA, Norton. O batuque no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1992.
DANTAS, B. G. Vovó Nagô e Papai Branco: usos e abusos da África no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
DERRIDA, Jacques. Shibboleth for Paul Celan. In: Sovereignties in question: the poetics of Paul Celan. New York: Fordham University Press, p. 1-65, 2005.
FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
FIORIN, José Luiz; PETTER, Margarida (eds.). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008.
HOBSBAWM, E.; RANGER, T. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
INGOLD, T. The Perception of the Environment. Essays on livelihood, dwelling and skill. New York: Routledge, 2000.
LUCCHESI, Dante. História do contato entre línguas no Brasil. In LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009.
MATORY, Lorand. Yorùbá: as rotas e raízes da nação transatlântica, 1830-1950. Horizontes Antropológicos, vol. 4, n. 9, p. 263-292, 1998. https://doi.org/10.1590/S0104-71831998000200013
MATORY, Lorand. Jeje: repensando nações e transnacionalismo. Maná. vol. 1, n. 5, p. 57-80, 1999. https://doi.org/10.1590/S0104-93131999000100003
McNAMARA, T. 21st Century Shibboleth: Language Tests, Identity and Intergroup Conflict. Language Policy, n. 4, p. 351–370, 2005. https://doi.org/10.1007/s10993-005-2886-0
McNAMARA, T. Language Assessments as Shibboleths: A Poststructuralist Perspective. Applied Linguistics, vol. 33, n. 5, p. 564–581, 2012. https://doi.org/10.1093/applin/ams0522012
McNAMARA, T.; ROEVER, C. Language Testing: The Social Dimension. Oxford: Blackwell, 2006.
MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil. Brasília: FUNAG, 2012.
ORO, Ari Pedro. As religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1994.
ÒYÓ, mestre Cica de. O Batuque de Nação Òyó no Rio Grande do Sul. São Paulo: Hucitec, 2020.
ÒYÓ, mestre Cica de; SALOM, Julio Souto. “Meu objetivo sempre foi contar a história de Ọ̀yọ́, na oralidade ou no livro”. Entrevista a Gercy Ribeiro de Mattos, o Mestre Cica de Ọ̀yọ́. Ayé: Revista de Antropologia, vol. 5, n. 1, p. 208-222, 2023.
PESSOA DE CASTRO, Yeda. Marcas de Africania no Português Brasileiro. Africanias, n. 1, p. 1-7, 2011.
PALMIÉ, S. O Trabalho Cultural da Globalização Iorubá. Religião e Sociedade, vol. 27, n. 1, p. 77-113, 2007. https://doi.org/10.1590/S0100-85872007000100005
POUTIGNAT, P. e STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade. Seguido de 'grupos étnicos e suas fronteiras', de Fredrik Barth. São Paulo: Ed. UNESP, 1998.
RAQUEL, Miss. Helena. Chibolete, a senha do livramento. 17º Vigilhão da Celebrai, 9 de abril de 2014. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=dQyl0Abbkhs
ROSA, Marcus Vinicius de Freitas. Além da invisibilidade: História social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição. Porto Alegre: EST Edições, 2019.
SALOM, Julio Souto. Quando chega o griô: conversas sobre a linguagem e o tempo com mestres afro-brasileiros. Tese (Doutorado em Sociologia). Porto Alegre: IFCH/PPGS/UFRGS, 2019. http://hdl.handle.net/10183/200581
SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.
STENGERS, Isabelle. A proposição cosmopolítica. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 69, p. 442-464, abr. 2018. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i69p442-464
VERGER, P. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX. São Paulo: Corrupio, 1987.
VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800/1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021.
WASHINGTON, Adrienne Ronee. (Re)structuring structures, speech and selves: Yoruba language learning and redevelopment in Salvador da Bahia, Brazil. Tese (Doutorado em Linguística). University of Pittsburgh, 2016. http://d-scholarship.pitt.edu/id/eprint/27628
WASHINGTON, Adrienne Ronée. (Re)structuring structures, speech and selves: Yoruba language learning and redevelopment in Salvador da Bahia, Brazil. Doctoral Dissertation (PhD Linguistics). Pittsburgh: University of Pittsburgh, 2016. http://d-scholarship.pitt.edu/27628/
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Attribution-NonCommercial 4.0 International, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.