Quando a roupa diz tudo

Uma análise descritiva do sistema confuciano das “roupas de luto”

Resumo

Baseado num estudo do sistema confuciano das “roupas de luto”, o presente texto argumenta que aspectos materiais podem bastar para definir uma instituição religiosa. Ao notar a inexistência de pesquisas teóricas sobre as “roupas de luto” no quadro da religião material, a introdução propõe que a religião confuciana antiga se distingue por seu ritualismo extremo, imanência e despersonalização, com a peculiaridade de que sentimentos, valores e crenças religiosas consubstanciam-se em objetos e comportamentos. A parte principal divide-se em duas seções, com a primeira a analisar criticamente as “cinco roupas”, que hierarquizam o sofrimento do enlutado. Através de seus materiais e desenho, elas provocam desconforto físico e destacam a condição social de quem as veste, também corporificando o simbolismo religioso e oferecendo meios para controle social. A segunda seção explora a performance dessas roupas, que estipulam padrões de comportamentos no espaço e no tempo. Por um lado, considera-se a atribuição das roupas que, segundo valores confucianos, conjugam relações de parentesco e de autoridade política. Por outro, explica-se como elas se sobrepõem à agência individual para padronizar comportamentos ajudadas por construções, utensílios, dieta e formas de carpir o morto.