Comidas da religião afro-brasileira omolokô
Linguagem e matéria do sagrado
DOI:
https://doi.org/10.23925/1677-1222.2024vol24i3a8Palavras-chave:
Comida afro-brasileira, Omolokô, Sagrado, CulturaResumo
Trata-se de pesquisa qualitativa, de cunho histórico-cultural, que elegeu como fonte documental o livro “Omolokô: uma nação”. Objetivou-se analisar as comidas votivas do omolokô destacando a agência e potência para a formação de sentidos e significados não discursivos, mas sensoriais, de modo a estarem associadas à incorporação de conceitos e valores das divindades cultuadas. Estudamos 31 comidas de 17 bakuros, suas cores, ervas, animais de sacrifício, frutas, receitas, técnicas de preparo e utensílios. Para a análise, associamos os bakuros, suas histórias e características com a culinária. As comidas votivas destacam o perfil das entidades, trazendo elementos de energia feminina ou masculina, juventude e senioridade, em correspondência à sua manifestação. A composição das preparações e do ajeum se relacionam com as histórias, como por exemplo, as pipocas com areia da praia servidas a Kaviungo/Kimbotó, cujo itan faz referência ao cuidado que este bakuro recebeu de Yemanjá. As cores das entidades se destacam nos pratos, desde a escolha do tom do pelo/penagem dos animais de sacrifício até os tecidos da decoração. O alimento ou material dos utensílios se relacionam às características dos bakuros, como visto no uso do feijão, alimento fonte de ferro ao guerreiro e senhor do aço. A religião omolokô é guardiã da sabedoria e tradições das culinárias africanas na diáspora e merece que mais estudos aprofundem os conhecimentos sobre a linguagem e matéria. A sua potência cultural é notória e demonstrada na capacidade dessa culinária ter ultrapassado o espaço ritual, e se tornado a comida de casa.
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