Editorial

Antropoceno e a crise do antropocentrismo, ficando com o problema

Autores

  • Marina Costin Fuser Universidade de São Paulo, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-0931-0673

DOI:

https://doi.org/10.23925/1984-3585.2021i24p6-13

Resumo

O antropocentrismo tem sido posto em xeque no campo dos estudos culturais e antropológicos com bastante vigor, principalmente com a crise que se instaurou a partir dos anos 1960, que tem como eixo a representação da alteridade e da autenticidade nos estudos etnográficos, como apontam James Clifford e George Marcus em Writing Culture Debates (1986). Com efeito, o pós-1968 lançou nova luz sobre a maneira de se falar de outros povos, outras existências, e refletir as diferenças que o humanismo até então deixou de fora.

O Homem Vitruviano (cf. BRAIDOTTI, 2013; HARAWAY, 2016), a imagem que melhor catalisa o antropocentrismo com os traços de Leonardo da Vinci, que afigura um homem ocupando o centro da esfera do universo corresponde a um pilar da Modernidade, de repente é posto de cabeça para baixo. Com As Palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas (2001), Michel Foucault faz a pergunta seminal para abalar as frágeis paredes do humanismo clássico: “O que conta como humano?” Esta pergunta provoca abalos sísmicos pelo que está fora dessa premissa, ou seja, o que se difere, em níveis e escalas, do homem branco, heterossexual, europeu. A crise do antropocentrismo abre um imenso leque de perspectivas que se desdobra entre a antropologia, a biologia, a semiótica, os estudos pós-coloniais, o feminismo, a filosofia, estudos tecnológicos,
a linguística etc. [...]. 

Biografia do Autor

Marina Costin Fuser, Universidade de São Paulo, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.

Marina Costin Fuser é cientista social, doutora em cinema e estudos de gênero em Sussex (CAPES), com doutorado-sanduíche em Berkeley. Atualmente faz pós-doutorado no IEA-USP sobre tecnologias de aprendizagem e em tecnologias da inteligência sobre a semiótica de robôs feministas no TIDD/PUC-SP. Dentre suas pesquisas, se destacam: um estudo acerca da emancipação da mulher em Simone de Beauvoir, mulheres no teatro político de Hilda Hilst, e o nomadismo no cinema de Trinh T. Minh-ha. Em Sussex, lecionou no campo de estudos culturais. Publicou os livros Palavras que Dançam à Beira de um Abismo: Mulher na dramaturgia de Hilda Hilst (EDUC) e co-editou Mulheres Atrás das Câmeras: As Cineastas Brasileiras de 1930 a 2018 (Estação Liberdade).

Referências

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Publicado

2022-03-09