Editorial
Antropoceno e a crise do antropocentrismo, ficando com o problema
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2021i24p6-13Resumo
O antropocentrismo tem sido posto em xeque no campo dos estudos culturais e antropológicos com bastante vigor, principalmente com a crise que se instaurou a partir dos anos 1960, que tem como eixo a representação da alteridade e da autenticidade nos estudos etnográficos, como apontam James Clifford e George Marcus em Writing Culture Debates (1986). Com efeito, o pós-1968 lançou nova luz sobre a maneira de se falar de outros povos, outras existências, e refletir as diferenças que o humanismo até então deixou de fora.
O Homem Vitruviano (cf. BRAIDOTTI, 2013; HARAWAY, 2016), a imagem que melhor catalisa o antropocentrismo com os traços de Leonardo da Vinci, que afigura um homem ocupando o centro da esfera do universo corresponde a um pilar da Modernidade, de repente é posto de cabeça para baixo. Com As Palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas (2001), Michel Foucault faz a pergunta seminal para abalar as frágeis paredes do humanismo clássico: “O que conta como humano?” Esta pergunta provoca abalos sísmicos pelo que está fora dessa premissa, ou seja, o que se difere, em níveis e escalas, do homem branco, heterossexual, europeu. A crise do antropocentrismo abre um imenso leque de perspectivas que se desdobra entre a antropologia, a biologia, a semiótica, os estudos pós-coloniais, o feminismo, a filosofia, estudos tecnológicos,
a linguística etc. [...].
Referências
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