No Antropoceno, o homem morto pelo Quixote nos fixa o seu olhar

Autores

  • Vinicius Prates Universidade Presbiteriana Mackenzie, Centro de Comunicação e Letras, São Paulo, São Paulo, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.23925/1984-3585.2021i24p122-138

Palavras-chave:

Antropoceno, Ambientalismo, Ecologismo, Fantasia ideológica, Filosofia do evento

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão sobre o Antropoceno a partir de uma imagem literária criada por Jorge Luis Borges no conto Um problema. O conto narra a descoberta de um texto relatando que, em seu delírio, Dom Quixote havia assassinado um homem, e a partir dessa constatação teria que lidar com as consequências de seu ato tremendo. De maneira comparável, a ideia, de que o liberal capitalismo põe em risco a própria vida humana, irrompe, paradoxalmente, quando esta mesma ideologia reproduz os discursos de desmaterialização e liquefação de todas as relações pessoais e políticas. O Antropoceno marca uma inversão: a natureza, que antes era uma externalidade, se introjeta e se torna uma concessão da cultura. Porém, justamente quando o elemento humano exerce poder discricionário sobre o meio ambiente, este se torna um signo da morte, lembrando-nos dos limites da ideologia, e desestabilizando o próprio suporte fantasmático do discurso hegemônico.

Biografia do Autor

Vinicius Prates, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Centro de Comunicação e Letras, São Paulo, São Paulo, Brasil

Vinicius Prates é jornalista; doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP; professor em tempo integral do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CCL/UPM); coordenador adjunto do Grupo de Pesquisa em Mídia 1 Dia, 7 Dias, do COS/PUC-SP; autor de Um mapa da ideologia no Antropoceno (Estação das Letras e Cores, 2020) e co--organizador de Sintoma e Fantasia no Capitalismo Comunicacional (Estação das Letras e Cores, 2017).

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Publicado

2022-03-09