No Antropoceno, o homem morto pelo Quixote nos fixa o seu olhar
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2021i24p122-138Palavras-chave:
Antropoceno, Ambientalismo, Ecologismo, Fantasia ideológica, Filosofia do eventoResumo
Este artigo propõe uma reflexão sobre o Antropoceno a partir de uma imagem literária criada por Jorge Luis Borges no conto Um problema. O conto narra a descoberta de um texto relatando que, em seu delírio, Dom Quixote havia assassinado um homem, e a partir dessa constatação teria que lidar com as consequências de seu ato tremendo. De maneira comparável, a ideia, de que o liberal capitalismo põe em risco a própria vida humana, irrompe, paradoxalmente, quando esta mesma ideologia reproduz os discursos de desmaterialização e liquefação de todas as relações pessoais e políticas. O Antropoceno marca uma inversão: a natureza, que antes era uma externalidade, se introjeta e se torna uma concessão da cultura. Porém, justamente quando o elemento humano exerce poder discricionário sobre o meio ambiente, este se torna um signo da morte, lembrando-nos dos limites da ideologia, e desestabilizando o próprio suporte fantasmático do discurso hegemônico.
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